sábado, 28 de abril de 2012

Do Tempo da Antiguidade!

Newton Pedrosa*

Sou bastante antigo e usado, sou do século passado, de tempos d´antanhos desde que o cão era menino! Ao longo do tempo enfrentei situações as mais diversas, ora alegres ora tristes, momentos alegres e de constrangimentos. Posso dizer como se diz vulgarmente que já vivi de tudo na vida. Mas, sou um privilegiado, pois, se os maus momentos não me molestaram, os bons momentos me bastaram feliz. Sou assim de outros tempos, venho de outro século e de outro milênio sem ter, entretanto, a veleidade de me perpetuar no tempo e no espaço e virar múmia. Não me reconheceria mumificado!

Sou bastante antigo, do tempo da ditadura Vargas, da Segunda Guerra Mundial, do Zeppelin, da pílula de vida do Dr. Rossi e do óleo de rícino, do éter e da penicilina. Do tempo em que menino dormia de camisão e do sabonete Layfeboy, que deixava o corpo macio, da brilhantina Royal Briar, deixando os cabelos sedosos, e do Leite de Colônia, das camisas Volta ao Mundo e da Gilette Azul, para uma barba bem feita, e de quando o PH tinha o som de éfe. Venho de longe, amigos! Do tempo em que não se batiam palmas na Igreja nem se cantavam parabéns prá você durante as missas, quando se rezava o Credo em Latim,os padres usavam tonsuras e batina preta e rezavam a missa de costas para os fiéis...

Do cruzeiro, das moedas de cem réis e do tostão, das modinhas de mancebos românticos e das serestas apaixonadas. Do Gibi, do Tom Mix, do Errol Flynn e da Gilda; das Seleções do Reader Digest, do grupo escolar, da tabuada cantada e do caderno de caligrafia; da lousa, do quadro negro, do lápis com borracha e da régua; do exame de admissão e do curso ginasial!Sou do tempo da bicicleta Monark com farol e campainha, do jeep Willys e da Rural, do Chevrolet Cara Branca, do caminhão a óleo cru, de três boléias e da sopa; do Oldmosbille importado, do caminhão pau-de-arara e do ajudante de caminhão.

Venho de longe, companheiros, sou do tempo da Emilinha Borda e do Luiz Gonzaga, do Vicente Celestino, do Augusto Calheiros e do "yê, yê, yê..." Do disco de cêra, do long-play e dos programas de auditório. Do poste de iluminação elétrica de madeira, do telégrafo sem fio, do chicletes Adams, da anágua e da celoura. Do tempo das moças virgens que flertavam piscando os olhos, do "pode ser ou ta difícil," do "quer dar o prazer de dançar comigo?" Em que mulher não bebia cerveja, que corno lavava a honra com sangue, que homem só casava com mulher e mulher só casava com homem, que professora não era "tia," que menor assassino ia preso, juiz não vendia sentença, em que só existia ladrão de galinha, filhos pediam a bênção aos pais e em que não existiam direitos humanos, conselho tutelar era juizado de menores nem havia OAB.

Finalmente, sou do tempo dos banhos de açude, das travessias de rios a nado, de viagens de trens, estradas de rodagem, atoleiros e invernos copiosos. Sou assim do outro século e do outro milênio. E com esse passado distante eu construo o presente e a modernidade e projeto o futuro...

*Newton Pedrosa é jornalista e advogado

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