“Não traz de volta, mas pelo menos, a possibilidade de termos justiça, ameniza a dor”. A sensação expressa por Sandra Sales, mãe da adolescente Ingrid Mayara, 19 anos, morta no dia 26 de janeiro, no bairro Ellery, refere-se ao laudo divulgado ontem, pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Confirmada a versão, que desde o incidente foi defendida pelas testemunhas no bairro, o exame balístico realizado nas armas dos PMs, envolvidos na ocorrência, comprovou que  os disparos que mataram, além de Ingrid, o jovem Igor Andrade, 16 anos, partiram de um policial.
LAUDO
Conforme nota oficial da SSPDS, o laudo apontou que os tiros, que atingiram os jovens, foram originados de uma única arma. Os quatros PMs do Ronda do Quarteirão, envolvidos no episódio desatroso, segundo a Secretaria, seguem afastados das atividades operacionais e assim aguardarão a conclusão das investigações.
O resultado do laudo emitido pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), foi encaminhado à Polícia Civil, à Polícia Militar e à Controladoria GeraI de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
PROCESSOS
O material deverá subsidiar os inquéritos e procedimentos administrativos disciplinares em trâmite nas instituições. “No caso do Inquérito Policial Militar, que instauramos imediatamente após o ocorrido, estávamos só aguardando este resultado para fecharmos”, explicou o relações públicas da Polícia Militar, tenente coronel Fernando Albano. Agora, nesta esfera, o processo deverá ser encaminhado a Justiça Militar.

A apuração feita pela Polícia Civil também será finalizada e seguirá para a Justiça comum. Na Controladoria tramita o Processo Administrativo Disciplinar. Porém, a assessoria de comunicação do órgão, até o fechamento desta edição,  não informou, quais os procedimentos serão adotados.
CONSTATAÇÃO
Na ruas do bairro Ellery, persiste a sensação de que, ontem, o laudo da Perícia apenas constatou a verdade propagada por quem viu toda a ação, no pré-Carnaval que transformou-se em tragédia. “Sabemos que ao abordarem o homem, que estava com o paredão de som, os PMs não foram bem acolhidos, mas nada justifica os tiros disparados em direção s pessoas. Sempre considerei total despreparo e nervosismo, e isso me tirou um filho”, desabafou o vigilante Marcos Antônio Sousa, pai de Igor.

Além da dor, outros sentimentos preocupam os familiares, vitimados pela imprudência dos agentes do Estado. As situações recorrentes de abuso e rispidez nas abordagens policiais no bairro, segundo Sandra, mãe de Ingrid, agora responsável pela neta de 1 ano e 10 meses deixada pela filha, fazem com que o temor de outros episódios desastrosos não amenize. “Eu inclusive já levei um tapa na cara de PM. E isso nos amedronta porque parece que os conflitos podem ocorrer a qualquer hora e o despreparo prevalecer novamente. Estamos falando de vida e não de qualquer coisa”, defendeu.
As famílias dos dois jovens, ontem, reuniram-se pela primeira vez com o advogado, que deverá cuidar do caso. Segundo os pais, a conversa foi preliminar e a intenção é ingressar com uma ação na Justiça contra o Estado. 
UNIÃO EM BUSCA DE JUSTIÇA 
Criado em 2007 com o conceito de policiamento comunitário, o programa Ronda `do Quarteirão, ao longo dos anos, infelizmente, já protagonizou outras episódios lastimáveis de desvio de conduta. Um deles, em junho de 2010, quando o adolescente Bruce Christian de Oliveira, de 14 anos, que vinha na garupa da moto de seu pai Francisco das Chagas, foi baleado na nuca por um PM e veio a óbito, por o mesmo acreditar tratarem-se de suspeitos.

Segundo os parentes de Igor e Mayara, o pai de Bruce procurou as famílias, assim como outras pessoas, do bairro, que também já foram vitimadas por imprudência de PMs, para que seja criada uma rede de articulação, que atue para que os casos não sejam esquecidos e fiquem impunes. Algumas reuniões já foram realizadas e nas próxima semana o grupo deve “ganhar corpo”. “Nós acreditamos que devido à repercussão as coisas serão encaminhadas. Pelo menos, agora, é nisso que tentamos nos agarrar”, ressaltou Sandra.  
(Com informações do O Estado)






















 (O Estado)