sexta-feira, 8 de março de 2013

Todas as guerreiras hoje representadas em uma: Belize Câmara


Promotora de Justiça Belize Câmara
Por Noelia Brito

O Dia Internacional da Mulher nada mais é que um dia para lembrar, de forma mais marcante, a opressão de todos os dias, a que estão sujeitas todas as mulheres, pelo simples fato de serem mulheres.

Não é um dia para se comemorar, mas para se refletir. É um dia para se lembrar, para se denunciar e alardear todas essas situações cotidianas que o machismo nosso de cada dia já transformou em banais, embora nossa hipocrisia até nos leve a expressar, aqui e ali, nosso aparente horror por tais práticas. Horror que se autêntico fosse, já teria contribuído muito mais para o alijamento de tantas manifestações injustificáveis de machismo, chauvinismo e sexismo que testemunhamos por aí e em todo lugar e a cada momento.

Sem dúvida que a opressão praticada contra a mulher se acentua quando se trata de mulher pobre. Acentua-se mais ainda se essa mulher, além de pobre ainda é negra. Se a mulher for negra, pobre e homossexual ninguém duvide de que essa mulher terá adquirido uma espécie de PhD de oprimida, concedido pela vida, tal o nível de discriminações e ataques machistas e racistas a que terá se submetido ao longo de sua existência.

Quem disso duvidar basta ler o que o mais novo escolhido para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, o pastor evangélico Marcos Feliciano, disse de homossexuais e negros para ter uma ideia. Ora, se uma figura pública, um deputado, líder religioso, tem o descaramento, a ousadia, o desrespeito de chamar negros de descendentes de pessoas amaldiçoadas por Noé e de tachar a homossexualidade como prática responsável por guerras e pelo ódio, sem falar na declaração sobre a AIDS, que cunhou como “câncer gay” e ainda assim ser conduzido à presidência de uma comissão que, tem por dever, justamente, o combate a todo tipo de opressão e ofensa aos direitos humanos, significa dizer que nesse quesito, somos mesmo a “vanguarda do atraso”, como diria o finado ex-ministro Fernando Lyra.

Dito isto e estando mais que certo que hoje não é um dia de comemorações, festejos e coisas do tipo, mas de protestos e homenagens às mulheres guerreiras que não se rendem, não se renderam, nem se renderão jamais,  não poderia deixar de utilizar a data para homenagear uma mulher em especial, que nesse momento representa a resistência de todo um Estado, liderada por sua capital, Recife, a cidade lendária de Capiba, que em versos deixou-nos a lição de que “numa mulher não se bate nem com uma flor”, contra a opressão de uma ditadura oficiosa, mas que sorrateiramente se assenhoreou de todas as instituições do Estado, a ponto de deixar o povo órfão dessas instituições e a ponto de, como bem colocou a professora Liana Cirne, forçar o povo a defender, nas ruas, essas instituições delas mesmas.

Falo, evidentemente, da promotora de Justiça Belize Câmara que hoje representa o Ministério Público que o povo de Pernambuco quer, por incorpor a essência de há muito esquecida e perdida por essa instituição. Belize Câmara merece todas as homenagens no Dia Internacional da Mulher não só por ser mulher, o que em si já trás toda uma carga de preconceitos machistas que certamente teve de enfrentar para chegar aonde chegou e ainda assim chegou, mas acima de tudo por representar os anseios de um povo que não suporta mais a opressão de governantes e instituições cooptadas por esses mesmos governantes e seus projetos pessoais de poder, patrocinados por aqueles que privatizam a cidade, o Estado, o país e até nossas consciências com suas mentiras e factoides tão insistentemente repetidos que acabam se tornando verdade em nossas mentes.

Fomos às ruas e iremos novamente, quantas vezes forem necessárias. Faremos petições públicas exigindo a preservação de nossos direitos e a expulsão de quem não nos representa e de quem desonra o Ministério Público, o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, enfim, o interesse público. Não faremos isso pela pessoa Belize, mas pelo que hoje ela representa e hoje ela nos representa, portanto, faremos isso por nós mesmos! 

* Noelia Brito é advogada, procuradora do Município e cidadã do Recife

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