segunda-feira, 9 de março de 2015

Assaltos à mão armada e impotência das vítimas

Sinais do medo: Fortaleza tem 30 cruzamentos de risco

Nos cruzamentos de Fortaleza, é preciso ficar atento caso o semáforo feche. Os assaltos são recorrentes. Quem nunca sofreu uma abordagem deste tipo, deve conhecer alguém que já passou por uma situação dessa. A ação é rápida e perigosa. Geralmente, os criminosos agem em dupla e estão em uma motocicleta.
Não reagir e entregar os pertences aos criminosos é o mais indicado para não colocar a vida em risco.  Os alvos preferidos dos criminosos são pessoas que estejam conduzindo seu veículo sozinho e, preferencialmente, mulheres. No entanto, os assaltos não acontecem apenas no período da noite e da madrugada, e sim a qualquer hora do dia. Portanto, é preciso estar atento nos deslocamentos dentro da cidade.
Mais perigosos
Segundo o coronel Geovani Pinheiro da Silva, comandante geral da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), Fortaleza conta com cerca de 30 cruzamentos perigosos. “São pontos estratégicos localizados, na maior parte deles, em bairros da classe média alta. Os delinquentes aproveitam determinados horários, geralmente nos horários de pico, quando o sinal fecha, para praticar as ações. Tem vários pontos espalhados na cidade, mas nesse exato momento estamos trabalhando em 30 locais pontuais”, afirmou.
Dentre os mais perigosos, o coronel cita os cruzamentos da Rua Beni de Carvalho com Avenida Virgílio Távora; da Av. Padre Antônio Tomás com Professor Silas Ribeiro; Av. Alberto Sá com Henrique Sabóia, dentre outros. “Além de outros pontos na Padre Antônio Tomás, tem mais cinco pontos na Virgílio Távora, outros perto do Cocó, seis pontos na Via Expressa, alguns pontos no bairro de Fátima e outros espalhados na cidade de Fortaleza”, revelou.
O aposentado Marcelo Carvalho, 65 anos, por exemplo, já foi assaltado na rua Silas Ribeiro, no bairro Papicu, ao lado supermercado Hiper Bompreço, enquanto esperava o semáforo ficar verde. “É tudo muito rápido. Eles são violentos e nos deixam acuados. Esta cidade está um perigo. Depois do que aconteceu fico mais atento, evito passar em ruas menos movimentadas e ficar parado no sinal vermelho. A noite, por exemplo, não saio de casa”, revelou.
Policiamento
Para coibir este tipo de ação, o comandante afirma que diariamente 30 policiais, divididos em 15 duplas, são deslocados para 15 cruzamentos que são considerados os de maior risco. “Chegamos a colocar o policiamento fixo em 30 cruzamentos, mas nos últimos 15 dias estamos tendo um resultado muito proativo quanto a inibição desse tipo de crime. Nesses locais fizemos a apreensão de alguns adolescentes em conflito com a lei, bem como a prisão de alguns elementos envolvidos nesse tipo crime. Por isso, graças a redução dos casos pela proximidade da polícia na área, hoje estamos focados em 15 cruzamentos pontuais”, relatou. 
Mas, segundo ele, os outros 15 cruzamentos que tiveram o policiamento fixo retirados, não ficaram descobertos. “Nesses pontos continuamos com a vigilância. Mas de outra forma. Apenas mudamos a metodologia e a estratégia de trabalho. Tiramos uma dupla fixa, onde a área de atuação era bem menor, e colocamos uma dupla de moto, que lhe possibilitam uma área de atuação muito maior. Estamos no combate incansável”, explicou.
Opinião
O pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Ricardo Moura, afirma que o policiamento nos cruzamentos é necessário, mas ele defende que a atuação deve ser permanente. “Tem momentos que tem um trecho com mais incidência de criminalidade, mas quando a polícia chega, eles procuram outro ponto para atuar. A sistemática é simples. Ver policiais na cidade gera um efeito imediato de inibição, mas o assaltante tem sua estratégia própria. O trabalho não deveria só colocar o policial no cruzamento e pronto. Tem que ter um trabalho em torno disso. Tem que haver abordagens, investigações para saber quem são os criminosos, fazer um mapeamento. Nesse caso, deve haver policiais também à paisana circulando, que é para poder gerar as informações necessárias para um trabalho que dê maior resultado. As ações devem ser contínuas. Quando ela é interrompida, abre-se um espaço para que ela retorne”, analisou Moura.
Cruzamento perigoso
Um dos casos de grande comoção foi o assassinato do pastor Paulo César de Araújo, 46 anos. Ele foi morto em uma tentativa de assalto, em novembro do ano passado, enquanto estava parado no semáforo entre as avenidas Almirante Henrique Sabóia (Via Expressa) e Santos Dumont. Na época, a Polícia Militar afirmou que ele foi abordado por dois jovens que moravam na Comunidade do Trilho, próximo à avenida. Os suspeitos fugiram, mas foram apreendidos após o crime. Iguais a este caso, muitos outros acontecem todos os dias, o que deixa a população assustada e temerosa.
Nesse mesmo local, o estudante Lucas Maranhão, 22 anos, precisa passar todos os dias para chegar até sua residência. Segundo ele, nunca sofreu ou presenciou nenhum assalto, mas confessa que se sente intimidado. “Tenho medo pelo que eu escuto falar. Sei que o local é perigoso e por isso tomo algumas medidas de segurança que acho que vão me proteger um pouco mais. Mas sei que não é suficiente, mas também não podemos ficar presos dentro de casa”, contou.
Cuidados
Coronel Geovani Pinheiro explica que, além do trabalho da polícia, é preciso que a população fique atenta a alguns cuidados a fim de evitar as abordagens. “Estamos buscando estratégias para combater, da melhor forma possível, o crime, mas é preciso que a população também faça a parte dela. Nos cruzamentos, fechar o vidro, observar os retrovisores, pois os bandidos se aproximam muitas vezes como flanelinhas. É preciso, também, ficar atento na oportunidade da abertura do sinal sair com segurança, mas a principal recomendação é fechar os vidros e travar as portas”, recomendou.
Conforme o coronel da PM, 90% das ações acontecem por descuido do condutor. “Muitos aproveitam o semáforo fechado para atender ligações, mexer no celular, conversar e acaba perdendo a concentração no que está a sua volta. Se ele tiver dentro de seu veículo atento, vai minimizar e muito a ação dos bandidos”, alertou.
O comandante da 2ª Companhia  do 8º Batalhão da PM, capitão Vicente de Di Paula, destacou que no Papicu há um trabalho intensivo no combate a este tipo de crime. “Na área, temos uma equipe do Raio, o motopatrulhamento com uma dupla de policiais que atua nos cruzamentos, além de uma viatura de apoio. Ao todo, 12 policiais trabalham na região”, contou.
Criminosos em vantagem
Neste sentido, o pesquisador Ricardo Moura ainda comenta que o criminoso sempre vai estar em vantagem em relação da vítima e a polícia. “No trânsito é onde ficamos mais vulneráveis, porque em casa usamos todos os mecanismos de segurança, mas nas ruas não contamos com eles. A imobilidade provocada pelos congestionamentos nos deixa acuados e os criminosos saem em vantagem, pois criam uma estratégia para se deslocarem com mais facilidade. Sobre a polícia, a vantagem está no sentido de que os criminosos não tiram férias e não tem escalas para cumprir. Os criminosos aproveitam os horários de troca de turno de policiais e da falta de efetivo em alguns pontos e agem. É uma gestão complexa”, finalizou.
Camila Vasconcelos
O ESTADO

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