terça-feira, 28 de abril de 2015

O tempo não perdoa

Mais uma historinha desta escriba:
Nessa segunda-feira (27/05), fui levar meu carro para sua primeira revisão. Ao entrar na sala de espera da concessionária, deparei-me com um jovem que também esperava e, para passar o tempo, entabulamos um descontraído bate papo sobre amenidades. De repente, estávamos falando sobre política, futebol e até sobre relacionamentos, tudo, é claro, sem nenhum aprofundamento. Conversa vai, conversa vem, lá pras tantas, o garoto, deu uma parada e ficou absorto em seus pensamentos.
Seu silêncio deu espaço ao meu silêncio. Mas, como jornalista que sou, tenho esse quê de curiosidade tal qual glóbulos no sangue e, passei então, a fazer elucubrações sobre aquela mente, sobre o que estaria passando naquela bela cabecinha. E não demorou a sair a resposta daquela mentezinha inconsequente. Ele virou-se pra mim e soltou:
- Desculpe meu atrevimento, mas você é uma mulher muito bonita e inteligente. Gostei muito de conversar com você e queria te conhecer melhor, sairmos para almoçar, tomar um drinque...-
Assustada com a audácia do jovem, eu disse:
- Menino, o que é isso, tu estais me cantando? Eu tenho idade para ser sua mãe, alias, talvez até de ser sua avó!
E ele, como se já tivesse vivido bastante e crente que estava abafando, respondeu:
- Bobagem, eu já tenho 24 anos e sempre gostei de mulheres mais velhas, são mais experientes; e mais cheinhas, a gente tem onde pegar. Desculpe o mal jeito, não se ofenda, eu só quero mostrar que tô afim de você. –
Resumo da ópera, o filhinho da mãe me cantou e ainda me chamou de gordinha. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Bem, brincadeiras à parte, fiquei sem palavras com a audácia daquele menino. E um suspense tomou conta do ambiente, como se o clima tivesse ficado meio tenso, os dois, tão falantes, quedados ali, calados. E, de repente, o silêncio foi interrompido pelo funcionário da concessionária que veio informar que o carro do jovem estava pronto. Ele levantou-se para sair.
Mas a história não terminou aí.
Como eu disse, o jovem levantou-se, parou na minha frente e se apresentou formalmente:
- Muito prazer, meu nome é Gilberto Peixoto Buendia, mas pode me chamar de Gil (nome e apelido são fictícios, é claro). Reafirmo o prazer em ter te conhecido e a vontade de te conhecer melhor - . Com a outra mão, entregou-me um papelzinho dobrado em várias partes e pediu para que eu olhasse, não jogasse fora. E assim o fiz. Eram dois números de celular e uma frase: - Vou aguardar ansiosamente sua ligação, mulher maravilhosa. -
Fiquei envaidecida com todo esse episódio, é claro, mas, com a certeza de que o tempo é inexorável e temos de respeitá-lo como a nós mesmos. Com tristeza, rasguei aquele papel em pedacinhos. Afinal de contas, para mim e aquele jovem rapaz, o tempo só poderia nos cruzar, nos unir, jamais.
Continuei ali por mais uma meia hora e, confesso, amargou-me uma vontade louca de ter nascido mais tarde ou de que aquele estranho tivesse nascido mais cedo. Ele se foi, e com ele, um pouco da minha distante juventude, numa prova inconteste de que o tempo não espera por ninguém.

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