quarta-feira, 29 de julho de 2015

Entrevista de Gilberto Carvalho, novo presidente do Conselho Nacional do Sesi.

"Quem enriquece na política é porque roubou" diz Gilberto Carvalho

Princiapal assessor de Lula e da presidente Dilma esteve em Santa Catarina e conversou com o colunista Moacir Pereira

Diário Catarinense
"Quem enriquece na política é porque roubou" diz Gilberto Carvalho José Luiz Somensi/Fiesc
Foto: José Luiz Somensi / Fiesc
Principal assessor do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, em privilegiado gabinete dentro do Palácio do Planalto, Gilberto Carvalho é o novo presidente do Conselho Nacional do Sesi. Esteve em Santa Catarina, visitou a Fiesc e se reuniu com dirigentes do Sesi. Ele concedeu entrevista exclusiva ao colunista Moacir Pereira falando sobe a crise, o Petrolão e o financiamento de campanhas.
Moacir Pereira — O senhor está vendo alguma saída para a grave crise nacional?
Gilberto Carvalho — Confesso a você que, primeiro, a crise é real. Ela existe, mas também está sendo potencializada por um tipo de visão que mistura política com economia.  Acho que há um tipo de terrorismo excessivo, sem negar a crise. Muitos de nossos analistas econômicos acabam jogando o ânimo do empresariado para baixo. Isto é muito perigoso. Em economia, o espírito, a visão de que é possível investir e ter retorno é fundamental. Quando você faz terrorismo não há empresário que se disponha a investir.

Mas a crise é real. Como superá-la?
GC — 
Concordo que a crise é real e eu não fujo à crítica. Acho que o governo tome de fato as atitudes que nos ajudem a retomar a dinâmica da economia. Fundamentalmente, na linha do financiamento. Não vejo razão nenhuma para continuar com este juro tão elevado que temos, que estimula o empresário a investir na especulação e não na indústria. Em segundo lugar, precisamos incentivar as linhas de crédito para fomentar as iniciativas do setor produtivo.
O senhor é um dos mais próximos do ex-presidente Lula. Considera positiva esta tentativa de conversa com Fernando Henrique Cardoso?
GC — Confesso que não estou informado sobre algum entendimento concreto. Mas defendo que neste momento haja uma espécie de conversa nacional entre os grandes líderes - o Lula e o Fernando Henrique são os grandes líderes. Considero vital uma chamada de atenção ao bom senso. É fundamental que a gente coloque o bem do país acima dos interesses políticos e ideológicos. E que haja este entendimento nacional.
Portanto, o senhor é favorável.
GC — Não tenha dúvida. Insisto que uma conversa, um entendimento entre os dois líderes é muito importante.
O senhor, que esteve no centro do poder durante anos, não tinha ideia de que a corrupção fosse tão gigantesca e profunda no governo?
GC — 
Deixa eu te falar uma coisa com toda seriedade. O que existe no Brasil hoje não é o aumento da corrupção. O que existe hoje é o conhecimento da corrupção. As pessoas se confundem e acham que a corrupção começou no Brasil agora. Não é verdade. O processo de corrupção no Brasil começou na privatização das estatais. Os processos anteriores eram de uma corrupção amplíssima. O dinheiro da privatização é muito maior do que o da Petrobrás. Temos que abrir o olho para isso. A diferença é que os mecanismos de controle da corrupção efetivamente existem hoje. O mérito do Lula foi ter rompido uma prática que havia no Brasil em que você nomeava o amigo para que ele encobrisse qualquer tipo de denúncia contra o governo e contra as estatais. O Lula escolheu o primeiro da lista do Ministério Publico, deu liberdade para o procurador-geral, descentralizou as ações da Polícia Federal. Hoje ninguém mais pode mandar na Polícia Federal, graças a Deus. Foi isso o que aconteceu. O tapete foi levantado. A corrupção sempre existiu no Brasil. Mas é claro que eu não tinha noção do tamanho, da dimensão desta corrupção, até porque ela era encoberta. A sociedade brasileira hoje está dando um passo fundamental, que não pode voltar atrás. Ela tem informação sobre a corrupção. Nunca você viu empresário preso, político preso, como vê agora, o tesoureiro do PT preso. Não podemos voltar atrás, não podemos perder esta realidade. 

E qual é o remédio contra a corrupção?
GC —
 O remédio contra a corrupção é a luz, o sol, a transparência plena. Esse foi o mérito do Lula. O de criar este processo. O que eu também não imaginava naquele tempo é que esta faca iria se voltar contra ele próprio e o PT. Aí eu volto à questão. Lula não tinha noção, de maneira alguma, de que havia esta operação corrupta na prática do Delúbio e de outros companheiros de partido.

Do Paulo Roberto Costa na Petrobrás?
GC — 
Do Paulo Roberto Costa nem se fala. Lula não tinha a menor ideia ou noção dos atos de corrupção. E qual é a responsabilidade do Lula, do PT e até minha neste particular. Quero ser autocrítico radical. A gente não ter mudado a lei eleitoral lá em 2005 e 20006, quando já estávamos feridos pelo mensalão. Sabíamos que devíamos mudar e acabar com esta praga que é o financiamento privado de campanha. Esta é a responsabilidade do Lula e do PT.
E nem mudaram agora nesta pseudo reforma no Congresso Nacional.
GC — Agora não vai mudar. Quem manda no Congresso Nacional é quem quer continuar com a corrupção. Infelizmente, eu tenho que dizer isso. O Eduardo Cunha não tem interesse nenhum na transparência. O Eduardo Cunha não tem interesse nenhum em alterar esse quadro. Tanto que, ao contrário da demanda popular, da CNBB, das demandas sociais sérios, eles atropelaram uma reforma politica que legitima a continuidade desse padrão. Eu não tiro a responsabilidade do PT e nem do Lula. Lamento muito  que companheiros nossos que nascemos na luta contra a injustiça, contra a corrupção, também entramos na corrupção.
O admite, então?
GC — É verdade. Admito isso, sim senhor, com toda a clareza. Agora, que se queira dizer que a corrupção começou agora, anos atrás, e que o PT é mais corrupto que os outros partidos é mentira.  É uma grossa mentira. Eu desafio o seguinte: pegue a evolução patrimonial dos políticos brasileiros Você vai constatar — tenho certeza — que os do PT são os que menos enriqueceram. Vá ver  a trajetória de integrantes de todos s outros partidos do país, tirando o Psol, o PcdoB. Voce vai notar que as pessoas enriqueceram — e muito. E vou dizer e enfatizar para você:  quem enriquece na política é porque roubou. Vou repetir: quem enriquece na política roubou.  Porque o salário de um político, de governador, deputado e tal não dá para isso.  Eu sei, porque tenho 12 anos de Palácio do Planalto. Sai de lá orgulhoso pelo seguinte fato: comprei  agora meu primeiro apartamento e vou pagar em 18 anos. Se eu tivesse saído de lá com apartamento pago, doutor, é porque é tinha roubado. Meu salário não permitia isso.  Digo e repito com toda clareza: o jeito de acabar com a corrupção é continuar o Ministério Público, a Policia Federal, o Judiciário  agindo com força para mostrar que daqui para a frente "fez, pagou".
O Brasil esperava que a corrupção diminuísse apos a cassação de Collor. Aumentou. O sr. acredita, então, que se houver julgamento dos denunciados no Petrolão, o Brasil vai mudar?
GC — Acredito que sim! A diferença é que no julgamento do Collor houve o expurgo do Collor mas não se criou mecanismos de fiscalização, controle e punição. Logo em seguida entrou o governo Itamar, depois Fernando Henrique. Quem era o Procurador Geral de FHC? Era o engavetador geral da República, o Procurador Brindeiro. Me cita um processo que foi a frente contra a corrupção no governo Fernando Henrique?  Quando a compra da reeleição do Fernando Henrique foi apurada? Quando foi apurada a privatização da Vale do Rio Doce? Naquela época eles engavetaram tudo e agora há apuração e mais transparência.

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