quarta-feira, 14 de outubro de 2015

OpInião

Mudança no tabuleiro

Janio de Freitas

A divulgação de contas suíças ligadas a Eduardo Cunha tornou volátil o interesse em segui-lo
Se Eduardo Cunha decidir nesta terça (13), como informou, entre abrir o processo de impeachment ou deixá-lo ao plenário, vai fazê-lo às cegas como nunca esteve desde que assumiu a presidência da Câmara. Na oposição, sua esperança em influência de Eduardo Cunha sobre o plenário, para abertura do impeachment, não pode mais se basear nos números antes estimados.

A nova situação de Eduardo Cunha mudou a disposição das peças no tabuleiro da Câmara, de sexta-feira (9) para cá. Quanto, como está e como estará nas horas e dias próximos, é imperscrutável. Certo é que a posição da Câmara, no pedido de impeachment formulado pelo ex-promotor Hélio Bicudo e o jurista Miguel Reale Jr., terá decisão política e não jurídica do plenário. Já porque está distante, lá nos tempos anteriores ao golpe de 64, a divisão do interesse da Câmara entre os confrontos políticos e o debate jurídico, como é próprio dos Legislativos autênticos. Mas, no que interessa agora, por outra mudança na Câmara.

A divulgação, na sexta-feira, de contas suíças relacionadas a Eduardo Cunha, disseminou a convicção de que o seu futuro na presidência, e mesmo no comando de fato de grande bancada, está comprometido e não tardará a mostrá-lo. O interesse em segui-lo torna-se volátil na raia miúda que tem massa de votos. O risco de ônus futuro faz preferir posição mais promissora. São os deputados da objetividade simples, fundada em conveniência pessoal e de curto prazo.

A aliança que vai do centro para a direita, com PSDB, PPS, DEM e parte do PMDB, exige pressa de Eduardo Cunha sobre o impeachment, inclusive para em seguida voltar-se contra ele de verdade. A nota de sábado (10) dessa oposição, sobre o afastamento de Eduardo Cunha, é tão hipócrita que nem diz do que se trata: "Sobre as denúncias contra Eduardo Cunha (...)". Que denúncias? Não é dito o porquê do possível afastamento, mas é incluído o complemento neutralizante: "Até mesmo para que ele possa exercer o seu direito constitucional à ampla defesa". De quê?

O PSDB ressente-se do desgaste que o cinismo lhe causa, até dentro do partido. Por isso precisa livrar-se o mais depressa da ligação com Eduardo Cunha, mas sem reverter a prioridade que dá ao impeachment, a única ideia que move os peessedebistas na atualidade. E, para a pretensão de impeachment, Eduardo Cunha é necessário ao PSDB: é grande a possibilidade de que, se afastado, o seu sucessor não tenha hostilidade bastante a Dilma Rousseff para querer derrubá-la.

A situação de Eduardo Cunha distribui reflexos para todos os lados. Para o governo, porém, não trouxe incerteza prática maior do que a anterior. A hipótese continua a mesma: a aceitação do presidente da Câmara a um dos pedidos de impeachment ou, ao recusá-lo, admitir o recurso do plenário –de legalidade discutível– para que lhe caiba a decisão. Nesse caso, volta-se à flexibilidade aumentada dos deputados que engrossam a decisão.

Semana animada, a que vem aí.

DELATORES
Já como delator premiado, Renato Duque acertou em cheio o PP: disse haver entregue ao deputado Ciro Nogueira R$ 8 milhões, que não eram só para ele.


Se Fernando Soares, o Baiano, tem mesmo mantido silêncio sobre Eduardo Cunha, criou-se a expectativa de que as contas na Suíça o convençam de que calar o complica e já não protege o outro.

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