sábado, 23 de janeiro de 2016

Mea culpa, mea máxima culpa

Julieta Brontée 

Declaro-me culpada quando em plena 4:30hs  da matina, abro os olhos e meu incontido desejo é de descerrar as cortinas do meu quarto e correr para a varanda para apreciar o nascer do dia, olhar essa maravilhosa nesga de mar que se abre e vem como se estivesse vindo ao meu encontro  embora eu saiba que dali ela não vai passar.

Declaro-me culpada quando vejo o sol, com seu brilho radiante rasgar as nuvens anunciando a chegada do amanhecer.

Declaro-me culpada quando olho além do horizonte e penso quanto o infinito me encanta, o desconhecido me atrai, o medo não me intimida.

Declaro-me culpada quando sinto que nada me prende, nem o movimento dos  braços da vida que me enlaça, me enleva e me aperta num borbulhar e fervilhar, num balbuciar de tem mais, tem mais.

Declaro-me culpada quando deixo minha imaginação transpor minhas verdades e meus sonhos seguirem tão distantes numa vontade desenfreada de mudar o mundo para melhor.

Declaro-me culpada quando meus pensamentos vagueiam com a certeza de que infelizmente em breve vou partir sem ter mudado o mundo.

Declaro-me  culpada por meu corpo tremer numa revolta por sentir um abismo tão grande, tão grande, que é maior que o planalto sonhado

Declaro-me culpada pelo o sonho não realizado tornar-se cada vez menos real.

Declaro-me culpada por não ter sido melhor esposa, melhor mãe, melhor amante, melhor amiga. Não ter sido mais compreensiva, mais leal, mais legal, não ter amado mais, chorado mais, sorrido mais. Enfim, bem que poderia ter sido mais e mais.

Declaro-me culpada por saber que o dia poderá estar chegando e ainda não vivi tudo que queria viver, não fiz tudo que queria fazer.

Declaro-me culpada pois poderá estar chegando a hora de partir. Mas, se eu não for agora, vou fazer tudo para compensar essas lacunas e vou tentar, num esforço hercúleo, remediar grande parte desse caos e se dele só não puder mudar o mundo, fiz tudo e não fiz nada, vou continuar devendo.

Declaro-me culpada, mas quem sabe em outra vida, quando aqui estiver de volta, Deus possa me dar o dom de mudar o mundo pra melhor. Afinal de contas, sonhar ainda é um direito que ninguém pode tirar de nós.


 No mais, não se preocupem se eu for bem ali ou no outro mundo, pois  irei feliz, não importando o tempo que demore,  um dia eu voltarei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DESTAQUE

Uso de reconhecimento facial no Brasil e no Ceará é tema de audiência na Alece nesta terça

  Foto: Divulgação/Alece A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realiza, nes...