quinta-feira, 3 de novembro de 2016

CÂNCER DE MAMA – um ano depois

Minha descoberta foi em 03 de setembro de 2015, outubro foi de exames. O início do tratamento em novembro. Portanto, hoje completa um ano do início do tratamento, da luta pela vida.
Minha história, certamente, é igual à de muitas mulheres que num certo dia sentiram o chão lhes faltar, o coração acelerar, a vista se turvar e teimosas lágrimas rolarem em suas pálidas faces ao serem informadas por seus mastologistas que estavam com um CÂNCER DE MAMA.
O caminho é longo e cheio de surpresas, nem sempre tão ruins. Mas, seja como for, o câncer atinge toda família e amigos. Afinal de contas, de início, a impressão é de que estamos com os dias contados e que não se terá tempo de concluir o muito que ainda temos à fazer antes de se fechar o ciclo total da vida. Além disso, vem aquele terrível medo daquela grande desconhecida: A MORTE. Mas, vamos começar do começo:

O INÍCIO

Certo dia, em setembro do ano passado, deitada numa rede em meu quarto, como costumo fazer, assistindo TV ao mesmo tempo em que teclava no face, senti um incômodo na axila esquerda. A princípio, imaginei que estava com uma íngua, pois o local estava dolorido e eu sempre soube que câncer é uma doença silenciosa. Entretanto, lembrei que o maldito dá sim seus sinais, só que isso é já quando está na casa do sem jeito. Foi aí que um grande calafrio percorreu minha espinha.
Vamos adiante. Apalpei o local e então, o susto: Um grande nódulo acendeu a luz vermelha, como a anunciar que as coisas não estavam mesmo normais. Outro calafrio, desta feita, percorreu todo o meu corpo. E eu estava só. Lembrei-me que um Ser Supremo deveria estar olhando por mim e, fosse o que fosse o resultado, Ele é Maior, pois Deus dá e Deus tira, tudo na hora que Ele determina. Mesmo assim pensei: - Será que chegou o meu dia, chegou minha hora? Liguei para marcar consulta urgente urgentíssima com o mastologista e assim foi feito, consulta marcada para o dia seguinte. Não precisa dizer que aquela noite foi uma das mais longas da minha vida. Tive outras, já falei em outro momento pra vocês. Mas, lá adiante talvez relembre pra vocês.
Exames pra cá, exames pra lá, e a tal da biopsia não deixa dúvidas, era o que eu já previa. Levo ao mastologista e a confirmação é dada pelo doutor Paulo Aguiar (um santo na terra): ”Positivo”. Traduzindo: É CÂNCER. Estávamos no consultório só eu e ele e não me contive e quentes e grosas lágrimas rolam pelo meu rosto e fiquei com vergonha de minha fraqueza. E Dr. Paulo, naquela calma de quem já viu milhares de ações e reações as mais diversas, diante de notícia tão apavorante, disse: “Mulher! Calma, criatura! Vamos à luta! Vamos iniciar com quimioterapia para diminuir o tumor e depois operar. Tenha fé, vai dar tudo certo”. Acho que foi por aí, confesso que não lembro muito bem. Então ele me encaminhou para o oncologista, doutor Ormando Rodrigues (outro santo aqui na terra), que pediu outra bateria de exames. Resultados recebidos, demos início à quimioterapia.
O processo da quimioterapia é muito difícil, muito doloroso e ficamos fracas, frágeis, com os pensamentos à mil. Do tratamento todo, acho que foi a parte mais difícil. A gente aguenta mas é muito forte, muito doloroso, a gente aguenta porque a vontade de viver é maior.
A quimioterapia e a radiodioterapia são preventivos, servem pra matar algumas possíveis células cancerígena que possam estar espalhada pelo corpo. A quimioterapia é tão violenta que sai matando todas as células que têm as mesmas características do câncer, são células de reprodução acelerada, que circulam sem uma direção, sem foco, ou seja, elas não têm um alvo, uma direção certa. Por isso mesmo é que a pessoa perde os cabelos, os pelos do corpo, a imunidade fica lá em baixo. Então, destempera o intestino, fica tudo sensível, a pele fica muito fina, o estômago doi, a enxaqueca vem, os desmaios ocorrem. É claro que cada caso é um caso, cada pessoa tem as reações de acordo com seu organismo e seu tipo de câncer, tamanho, a espécie de tratamento, etc. Estou falando especificamente do meu caso das minhas reações. Os efeitos colaterais são muitos, tudo dependendo, é claro, da quantidade de quimioterápicos e de como cada corpo reage ao tratamento. E esses efeitos colaterais tanto podem acabar com o fim do ciclo da quimioterapia como podem durar meses ou quem sabe, anos, como já falei, cada caso é um caso.
Conforme as sessões de quimioterapia vão acontecendo, a gente vai ficando altamente vulnerável, a sensibilidade à flor da pele, a carência afetiva vai crescendo e a necessidade de familiares e amigos por perto vai aumentando. Acredito que a gente fica feito criança, dependente, carente, precisando de apoio, de carinho, de atenção.
Graças a Deus, tive e tenho o apoio de minha filhota, a Noelia, de minha família e de meus verdadeiros amigos. Mas também tive minhas decepções. O pior é que quem menos se espera foge da gente. E aconteceu comigo. Foi uma grande decepção.
Um dia desses eu estava lembrando de uma frase do padre Marcelo Rossi: 'Conheço quem ficou feliz por minha depressão', dizia o padre.
Pois é, tem gente pra tudo até pra ficar feliz com nossos infortúnios. Também passei por isso, pois pela atitude, pelo afastamento, conheço gente que se dizia e se fazia de minha amiga (e olha que de muitos e muitos anos!!!) e que se afastou completamente na hora que eu mais precisava de apoio, do carinho dos amigos. Foi bom, passei a conhecer verdadeiramente quem é quem no jogo da vida. Por essa e por outras é que MUDANÇAS são necessárias porque “a mudança acontece por duas razões: Ou porque você aprendeu o suficiente e quer mudar, ou porque você sofreu o suficiente e tem que mudar”.
Depositar expectativas em uma pessoa é correr riscos. Passar por fracassos, decepções e desilusões faz parte da vida. Quem não temer passar por tudo isso e persistir na busca vencerá, pois o segredo não está na busca das borboletas e sim em vê-las passar batendo suas coloridas asas. As pessoas que se completam são inteiras, dispostas a dividem objetivos comuns. Se assim não for, definitivamente são apenas metades, pois as decepções são secundárias e o único mal irreversível é o desaparecimento físico de alguém a quem amamos.
Por fim, com isso tudo aprendi que nada é por acaso... Nossas escolhas refletem nosso futuro pois na vida, às vezes, é preciso usar táticas guerra, recuar quando preciso, esperar o momento certo para avançar com determinação pois quem luta pelo que acredita pode sair vencedor. O importante é se jogar com coragem, pois os mais fortes e mais ousados geralmente são os sobreviventes das adversidades. O importante é explorar, descobrir, soltar nossas feras, bater nossas asas, agarrar o vento, não nos prender ao tempo.
Cada ato, por menor que seja, tem uma razão de ser, pois atrás de cada gesto há um significado, embora em algum momento não possamos entender com clareza imediata, mas o entenderemos antes que passe muito tempo, pois Deus é o Senhor de todas as coisas, principalmente de nossas vidas. Minha fé continua, minha vida também, até quando Deus quiser que aqui eu esteja, aqui continuarei, com garra, com fibra, com a fortaleza que o Senhor em mim depositou, pois, como costumo dizer, sou como vara de marmelo, envergo, mas não quebro.

PS: Espero que este depoimento justifique minha ausência durante todo esse tempo. Agora, é bola pra frente, e vamos que vamos.

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