segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Autoridades e entidades alertam para riscos climáticos em audiência pública na Alece


- Foto: José Leomar

A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) promoveu, na manhã desta sexta-feira (06/09), audiência pública no Complexo de Comissões Técnicas para discutir a emergência climática no Brasil. A iniciativa foi da deputada Larissa Gaspar (PT).

A parlamentar lembrou sobre a celebração do Dia da Amazônia (05/09) e refletiu sobre a emergência climática global, que, segundo ela, é causada pela ação humana "nesse ato depredatório de exploração da natureza". “A gente fala em provocar um colapso, mas na verdade já foi provocado, pondo em risco a manutenção da vida na forma que a gente conhece no planeta”, avaliou. 

Larissa Gaspar enfatizou a necessidade de coordenar ações de grande impacto para diminuir a emissão de gás carbônico, zerar o desmatamento e proteger os biomas existentes. Ela também lamentou os desastres, incêndios florestais e enchentes que têm ocorrido no Brasil.

Nos encaminhamentos da audiência pública, foi sugerido apresentar um projeto de lei para adotar a "Segunda Sem Carne" no Ceará. A deputada Larissa Gaspar explicou que não é possível obrigar tal comportamento por lei, mas considerará alternativas, como uma campanha para incentivar a redução do consumo da proteína nesse dia. Ela também se disponibilizou para intermediar denúncias e colaborar com os órgãos competentes na fiscalização e na implementação de ações necessárias.

DEBATE

O superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Ceará, Deodato Ramalho, destacou a necessidade de tornar o processo produtivo mais sustentável, lembrando que, para preparar a terra para o plantio, muitos ainda seguem a tradição de queimar a vegetação, prática que não é proibida, desde que seja controlada. 

Deodato Ramalho defendeu a conscientização dos agricultores, frisando que eles precisam entender os impactos dessa prática e buscar alternativas sustentáveis. "Precisamos sensibilizar para que o processo produtivo seja mais qualificado, é preciso capacitar”, afirmou. Ele ainda anunciou que vai apresentar as contribuições do órgão na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), reforçando a importância de uma abordagem mais consciente e sustentável. 

De acordo com a coordenadora de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Codes/Sema), Mônica Simioni, além do Dia da Amazônia, ontem também foi celebrado o Dia da Mulher Indígena. Ela criticou a desconexão entre a humanidade e a natureza, argumentando que, enquanto não nos reconheçamos como parte integral do meio ambiente, a proteção da fauna e da flora, embora essencial, continuará sendo insuficiente.

Representando o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), José Josivaldo ressaltou que o clima mundial está cada vez mais alterado devido ao modelo econômico. Citando o Brasil, ele mencionou que, embora o bioma amazônico seja o principal, todos os biomas estão sendo severamente prejudicados, e a situação no Ceará não é diferente. 

“Temos água em reservatórios, mas há um baixo cuidado com a questão ambiental dos reservatórios, assim como a ausência da distribuição desse bem público: a água, a natureza, a terra", criticou. Para José Josivaldo, é preciso "lutar pela preservação e reduzir o consumo do capitalismo nas indústrias e na agricultura, que são os principais predadores e responsáveis por tudo o que está acontecendo”.

O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alexandre Costa, falou sobre a importância de usar os termos corretos ao discutir o assunto, sugerindo que “mudança climática” seja substituído por expressões mais precisas. “Mudança é um termo neutro, que pode ser para melhor ou pior; estamos diante de uma crise, de uma emergência, de um eventual colapso climático. São esses os termos que têm que ser usados”, defendeu. 

Ele também sugeriu abolir o termo “desastres naturais”, pois, segundo ele, esses desastres possuem responsáveis,  como empresas e o agronegócio. Alexandre Costa destacou ainda a importância de implementar a educação climática, por meio de ações da Secretaria da Educação do Estado, das secretarias municipais e do Conselho de Educação.

O representante do povo Anacé e da Federação dos Povos Indígenas do Ceará (Fepoince), Francisco Climério Lima da Silva, afirmou que, para debater a emergência climática, é fundamental compreender que essa agenda está em pautada há pelo menos 30 anos. 

Ele sublinhou a importância de soluções práticas que incluam uma transição política e social, com um modelo que dialogue com os movimentos sociais, fortaleça a agroecologia e tenha um compromisso real com a vida. "As populações mais vulneráveis, como quilombolas e assentados, acabam pagando o preço por uma crise que não causaram”, criticou. 

Já Ana Clécia, liderança indígena Pitaguary da região de Pacatuba, contou que sempre ouviu falar sobre a importância de desenvolver ideias para se adaptar às mudanças climáticas. “Nós não podemos buscar soluções de adaptação para mudanças climáticas. Essa não é a alternativa certa; nós precisamos mudar nossos costumes. Cada pessoa precisa fazer sua parte”, pontuou. 

Ela enfatizou que não se pode depender apenas da política, pois, embora existam políticos que se preocupem com o meio ambiente, muitos outros não demonstram a mesma sensibilidade. Segundo ela, é preciso proteger o meio ambiente para que as futuras gerações também possam usufruir dele. 

 A diretora de Segurança do Trabalho do Sindicato dos Eletricitários do Ceará (Sindeletro), Luciana Crisóstomo , chamou a atenção para o fato de que até mesmo as energias renováveis, consideradas mais limpas, também causam impactos negativos. Para ela, além de buscar políticas públicas, é preciso desenvolver soluções que também tragam desenvolvimento para a população, gerem empregos e promovam melhorias. 

O representante da Central dos Movimentos Populares (CMP), Thiago Celestino, comentou que a crise climática é um reflexo direto do modelo de exploração que o Brasil enfrenta há mais de 500 anos, desde que os portugueses chegaram ao País, promovendo o desmatamento e a extração de matérias-primas. 

Ele citou desastres ambientais recentes como exemplos da falha em proteger o meio ambiente e também defendeu que a solução passa por uma educação ambiental nas escolas. "Não adianta apenas falar sobre o Dia da Árvore; é preciso uma conscientização crítica de que nossa natureza está sendo destruída por um sistema que prioriza o lucro", disse. 

O cacique Roberto, do povo Anacé, disse que a palavra "urgência" já passou; a situação agora é de emergência. Para ele, tudo envolve o capital, "um monstro que mexe com a vida". “O PIB ganha com a vida: enquanto a gente vive e se alimenta, ele ganha; enquanto a gente toma um remédio quando adoece, ele ganha; e se a gente morre, ele também ganha”, lamentou. Ele pediu que o povo acorde e entre na luta, pois a questão envolve todos.

Também se manifestaram Elisa Mergulhão, da coordenação nacional do MAB, e José Antônio dos Santos, representando a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece).

Fonte: Agência de Notícias da Alece

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