quarta-feira, 14 de março de 2018

Atual cenário político brasileiro


Abaixo texto do jornalista Ricardo Kotscho, publicado no Balaio do Kotscho.  Reproduzo porque considero  a perfeita tradução do cenário político atual que salta diante dos olhos até de quem não quer ver.

"Cada vez encontro mais gente reclamando que não tem em quem votar.
Conversando com minha mulher neste final de tarde chuvoso sem novidades no front, fiquei pensando: que eleição é essa com candidatos sem votos e eleitores sem candidato?
Quem tem votos não pode ser candidato e quem não tem quer ser.
Se continuar assim, logo vai aparecer alguém para propor que é melhor adiar ou cancelar logo de uma vez esta eleição.
Não duvido que altos estrategistas de Brasília já não estejam pensando nisso.
Em qualquer país democrático do mundo, eleição é sempre uma renovação de esperanças, mas aqui está acontecendo o contrário.
À medida em que mais nos aproximamos da data marcada no calendário eleitoral, mais sinto crescer a desesperança.
Aquilo que deveria se constituir num amplo debate sobre os destinos do país está confinado no Fla-Flu histérico das redes sociais e no toma-lá-dá-cá do leilão armado no Congresso Nacional.
Até agora não apareceu uma bandeira, um projeto, uma ideia nova sequer para tirar o país do buraco em que se encontra.
Os que estão no poder desistiram de falar em reformas e só pensam na própria sobrevivência, de preferência longe da cadeia.
Os que querem chegar lá brigam entre si sem apresentar soluções minimamente viáveis.
Os três poderes se aniquilaram mutuamente na mediocridade pomposa dos seus próprios interesses, indiferentes ao que acontece do lado de fora dos palácios.
Ninguém reage a mais nada, como se o país tivesse sido congelado, à espera de tempos melhores vindos do céu.
A direita saiu do armário por uma porta, a esquerda entrou pela outra e tudo se misturou na geleia geral suprapartidária de um país permanentemente sub-júdice.
Nomes não faltam na lista de candidatos. O que não há são lideranças com propostas capazes de cativar os eleitores, mobilizar corações e mentes em torno de um projeto de país, qualquer um.
Passamos anos gritando fora isso, fora aquilo, abaixo tudo, sem saber o que colocar no lugar. Sempre foi mais fácil derrubar do que erguer tijolo sobre tijolo a casa comum.
A chamada sociedade civil que saiu às ruas em 1984 para reconquistar a democracia por onde andará?
OAB, CNBB, ABI, UNE, CUT – advogados, religiosos, jornalistas, estudantes, trabalhadores, cadê estas siglas e todos aqueles que se uniram contra o arbítrio para reconquistar o direito de votar para presidente?
No silêncio obsequioso das ruas, só as buzinas dão sinal de vida.
Vida que segue."

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