Abaixo
texto do jornalista Ricardo Kotscho, publicado no Balaio do Kotscho. Reproduzo porque considero a perfeita tradução do cenário político atual
que salta diante dos olhos até de quem não quer ver.
"Cada vez encontro mais gente reclamando que não tem em
quem votar.
Conversando com minha mulher neste final de tarde
chuvoso sem novidades no front, fiquei pensando: que eleição é essa com
candidatos sem votos e eleitores sem candidato?
Quem tem votos não pode ser candidato e quem não tem
quer ser.
Se continuar assim, logo vai aparecer alguém para
propor que é melhor adiar ou cancelar logo de uma vez esta eleição.
Não duvido que altos estrategistas de Brasília já não
estejam pensando nisso.
Em qualquer país democrático do mundo, eleição é
sempre uma renovação de esperanças, mas aqui está acontecendo o contrário.
À medida em que mais nos aproximamos da data marcada
no calendário eleitoral, mais sinto crescer a desesperança.
Aquilo que deveria se constituir num amplo debate
sobre os destinos do país está confinado no Fla-Flu histérico das redes sociais
e no toma-lá-dá-cá do leilão armado no Congresso Nacional.
Até agora não apareceu uma bandeira, um projeto, uma
ideia nova sequer para tirar o país do buraco em que se encontra.
Os que estão no poder desistiram de falar em reformas
e só pensam na própria sobrevivência, de preferência longe da cadeia.
Os que querem chegar lá brigam entre si sem apresentar
soluções minimamente viáveis.
Os três poderes se aniquilaram mutuamente na
mediocridade pomposa dos seus próprios interesses, indiferentes ao que acontece
do lado de fora dos palácios.
Ninguém reage a mais nada, como se o país tivesse sido
congelado, à espera de tempos melhores vindos do céu.
A direita saiu do armário por uma porta, a esquerda
entrou pela outra e tudo se misturou na geleia geral suprapartidária de um país
permanentemente sub-júdice.
Nomes não faltam na lista de candidatos. O que não há
são lideranças com propostas capazes de cativar os eleitores, mobilizar
corações e mentes em torno de um projeto de país, qualquer um.
Passamos anos gritando fora isso, fora aquilo, abaixo
tudo, sem saber o que colocar no lugar. Sempre foi mais fácil derrubar do que
erguer tijolo sobre tijolo a casa comum.
A chamada sociedade civil que saiu às ruas em 1984
para reconquistar a democracia por onde andará?
OAB, CNBB, ABI, UNE, CUT – advogados, religiosos,
jornalistas, estudantes, trabalhadores, cadê estas siglas e todos aqueles que
se uniram contra o arbítrio para reconquistar o direito de votar para
presidente?
No silêncio obsequioso das ruas, só as buzinas dão
sinal de vida.
Vida que segue."
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