Ao longo da pandemia, que completou dois anos, as mulheres experimentaram um maior isolamento, passaram a conviver mais tempo com seus agressores, viram a renda familiar decair, as tensões domésticas aumentarem e ainda ficaram mais distantes das redes de proteção. Esse cenário foi identificado pela 3ª edição da pesquisa “Visível e invisível - A vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública junto ao Instituto Datafolha em maio de 2021.
Identificou que 72,8%
dos autores das violências são conhecidos das mulheres, com “alta prevalência
de violência doméstica e intrafamiliar”. Ainda nesse ponto, 48,8% das vítimas
relataram que a violência mais grave vivenciada foi dentro de casa, o que
coloca a própria residência como o espaço de maior risco para as mulheres.
Também do fórum, o
relatório “Violência contra mulheres em 2021”, publicado nesta semana, aponta
que, entre março de 2020 e dezembro de 2021, ocorreram 2.451 feminicídios e
100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável de vítimas do gênero feminino.
Para a deputada
Aderlânia Noronha (SD), “como se não bastassem todas as adversidades que nós,
mulheres, enfrentamos, muitas de nós ainda somos vítimas de algum tipo de
violência. São assustadoras as estatísticas de feminicídio no País, em muitos
casos, por motivos banais”.
IDENTIFICAÇÃO DA
VIOLÊNCIA
Raquel Bastos,
advogada da Procuradoria Especial da Mulher (PEM) da Assembleia Legislativa do
Ceará, opina que o isolamento social e maior convivência em casa durante a
pandemia deixou ainda mais claro que a violência doméstica não se restringe à
violência física.
“Muitas vezes a
mulher estava inserida em um relacionamento abusivo, sofrendo violência
psicológica, moral, e não se dava conta. Com a proximidade e convivência maior,
foi-se percebendo a delineação desse perfil de agressão, que não se restringe
apenas à física", explica.
A advogada relembra
que a procuradoria buscou abordar esses tipos de violência nas lives realizadas
nas redes sociais e palestras virtuais como forma de informar as mulheres e
permitir que identificassem se as situações que estavam vivendo se encaixavam
na violência doméstica, seja física, psicológica, moral, sexual ou material.
ACESSO À DENÚNCIA
A deputada Augusta
Brito (PCdoB), procuradora Especial da Mulher da AL, acrescenta que, durante a
pandemia, houve maior dificuldade de fazer os registros nas delegacias por
questões como o isolamento social, uma vez que muitas mulheres estavam sob
constante vigilância e companhia de seus agressores.
Entendendo a
importância de acesso à denúncia e ajuda, a AL criou, por meio da Procuradoria
Especial da Mulher, o Zap Delas, um canal que, por meio de mensagens pelo
WhatsApp, permite que as mulheres relatem casos de violência ou peçam
orientação. O número do Zap Delas é (85) 99814-0754.
“Criamos esse
mecanismo para ser mais uma porta de acesso do pedido de ajuda por percebermos
as dificuldades durante o período de pandemia para fazer as denúncias”, afirma
Augusta Brito.
Na última terça-feira (08/03), Dia Internacional da Mulher, a AL inaugurou
ainda a nova sede da Procuradoria Especial da Mulher (PEM) da Casa, que reúne diversos serviços de atendimento
para a população.
APOIO E ACOLHIMENTO
Os vários tipos de
violência aos quais as mulheres estão vulneráveis afetam suas vidas,
autoestima, saúde, relações sociais, afetivas e de trabalho. Diante de impacto
tão devastador, ações de apoio e acolhimento pelo poder público e pela
sociedade são essenciais para a reconstrução dos próprios caminhos.
A primeira-dama da AL
e líder do Comitê de Responsabilidade Social da AL, Cristiane Leitão, destaca
ações realizadas pelos núcleos de Saúde Mental e de Prática Sistêmicas e
Restaurativas, que trabalham com grupo de mulheres por meio de círculos
restaurativos dentro da cultura de paz e a partir de um trabalho sistêmico para
o resgate e cura.
Na mesma linha de
abordagem, o Centro de Mediação e Gestão de Conflitos da AL iniciou, na última
sexta-feira (11/03), o projeto Mediando em Círculos, com foco nas necessidades
e sentimentos de pessoas vítimas da violência através da escuta e dos círculos
restaurativos.
SÉRIE
A primeira matéria da série da Agência de
Notícias da Assembleia Legislativa sobre os impactos da pandemia na vida das
mulheres abordou a sobrecarga de trabalho enfrentada nesse período.
Fonte: Agência de Notícias da Assembleia Legislativa do CE
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