Ex-assessora delatou esquema das "rachadinhas" de Flávio Bolsonaro e Queiroz
Por Juliana Dal Piva, Bela Megale e Chico Otavio para O Globo
RIO - Um dos episódios finais antes de o Ministério Público do Rio denunciar o senador Flávio Bolsonaro por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa foi o depoimento de Luiza Sousa Paes, ex-assessora do antigo gabinete do "01" na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Nos detalhes do depoimento, feito em setembro e obtido pelo GLOBO, ela admitiu que nunca atuou como funcionária do filho do presidente Jair Bolsonaro e também era obrigada a devolver mais de 90% do salário. Além disso, Luiza apresentou extratos bancários para comprovar que, entre 2011 e 2017, entregou por meio de depósitos e transferências cerca de R$ 160 mil para Fabrício Queiroz, ex-chefe da segurança de Flávio e apontado como operador do esquema de desvios de salários. É a primeira vez que um ex-assessor admite o esquema ilegal no gabinete do parlamentar.
Entenda: A investigação
sobre rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro
Em depoimento, ela disse que ficava apenas com R$ 700. Além disso, também tinha como obrigação devolver valores relativos a 13º, férias, vale-alimentação e até o valor recebido pela Receita Federal como restituição do imposto de renda. O valor do vale-alimentação, cerca de R$ 80 diariamente, era depositado diretamente nas contas dos funcionários da Alerj sem registro ou desconto no contracheque.
Relembre: As explicações de Flávio Bolsonaro e Queiroz sobre rachadinha na Alerj
Luiza relatou ainda que conheceu outras pessoas que viviam situação semelhante a dela: nomeadas sem trabalhar. Citou as duas filhas mais velhas de Fabrício Queiroz, Nathália e Evelyn, e Sheila Vasconcellos, amiga da família do policial. Os dados financeiros das três, obtidos na investigação, já identificavam que elas tinham devolvido para Queiroz R$ 878,4 mil.
Saques na boca do caixa
A investigação sobre Luiza no caso começou a partir do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entregue pelo órgão ao Ministério Público Federal em 2018 e depois repassado ao MP-RJ. No documento, ela foi citada como uma dos oito assessores que fizeram transferências para Queiroz ao longo de 2016. Naquela ocasião, foi verificado apenas um valor de R$ 7.684,00 repassado.
Mas ela entregou mais
dinheiro ao longo dos anos. A ex-assessora contou aos promotores como se dava o
mecanismo. Ela diz que abriu uma conta na agência da Alerj e foi orientada a
fazer todos os meses o saque do salário na boca do caixa, já que no caixa
eletrônico há um limite para a retirada. Logo após pegar o dinheiro, ela já
solicitava um depósito para a conta de Fabrício Queiroz - às vezes de forma
anônima, outras não. O MP já tinha identificado um total de R$ 155 mil de
depósitos dela para Queiroz a partir das quebras de sigilo bancário.
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