Editora: Jornalista Julieta Brontée // Colaboradora: Noelia Brito, do Recife
sábado, 30 de março de 2019
APRENDIZ DE PRESIDENTE
The Economist: Jair Bolsonaro, o presidente aprendiz do Brasil
A MENOS QUE ELE PARE DE PROVOCAR E APRENDA A GOVERNAR, O SEU MANDATO NO PALÁCIO DO PLANALTO PODE SER CURTO
The Economist, O Estado de S.Paulo
Uma das principais razões pelas quais Jair Bolsonaro venceu aeleição presidencial no ano passado foi o fato de prometer movimentar de novo a economia depois de quatro anos de recessão. Ao nomear Paulo Guedes, um defensor do livre mercado, como seu superministro da Economia, ele conquistou o apoio do mundo empresarial e financeiro.
Muitos imaginavam que a chegada de Bolsonaro à Presidência por si só traria nova vida para a economia. Mas, depois de três meses, ela continua moribunda como sempre. Os investidores começam a perceber que Guedes tem uma árdua tarefa de conseguir aprovar no Congresso a reforma da Previdência, crucial para a saúde fiscal do Brasil. E o próprio Bolsonaro não vem colaborando.
Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO
O déficit fiscal de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) tem
um enorme peso sobre a economia, significando que os juros para os tomadores de
empréstimo privados serão mais altos do que seriam do contrário. As pensões
respondem por um terço do total das despesas públicas e são uma das razões
pelas quais o Estado gasta pouco na infraestrutura fragilizada. O projeto de
reforma do governo enviado ao Congresso no mês passado estabelece uma idade
mínima para a aposentadoria, eleva as contribuições e preenche lacunas, com uma
previsão de economias de R$ 1,2 trilhão durante dez anos. O déficit da
Previdência foi de R$ 241 bilhões no ano passado. A reforma da Previdência, por
si só, não fará com que o Brasil retome um crescimento econômico robusto. Serão
necessárias reformas fiscais e outras medidas para aumentar a competitividade.
Mas ela se tornou um objeto sagrado.
Bolsonaro está numa situação privilegiada porque, depois de dois anos de
debate público e político, a reforma da Previdência hoje é menos impopular do
que antes. Mas não é necessariamente uma proposta que conquista votos. E
Bolsonaro não faz campanha para isso. “Toda a discussão sobre a reforma da
Previdência é algo que os brasileiros gostariam de não ter”, afirma Monica de Bolle,
economista brasileira do Peterson
Institute for Internacional Economics.
O grande problema é que Bolsonaro ainda tem de mostrar que entende a sua
nova função. Ele dissipou capital político, por exemplo,exortando as Forças Armadas a comemorarem o aniversário em 31 de
março do golpe militar de 1964. Seu governo é de uma
“confusão monumental”, afirmou Claudio
Couto, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). À parte a sua equipe econômica, seu
governo é uma coleção de generais aposentados, políticos de médio escalão,
protestantes evangélicos, um filósofo antes obscuro chamado Olavo de Carvalho.
“Ninguém sabe para onde ele vai, qual o curso que está tomando”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Ele avança, depois recua, o tempo todo.”
Se o governo tem um elemento-chave, trata-se do general Hamilton Mourão, o vice-presidente,
que tem tentado impor alguma disciplina política. Mas, com frequência, entra em
atrito com a família Bolsonaro. Olavo de Carvalho o chamou de “idiota” e
afirmou que, se as coisas continuarem como estão por mais seis meses, “tudo
estará acabado”.
Embora de modo diferente, outros começam a pensar o mesmo. E ainda por
cima, estão surgindo evidências de que a família Bolsonaro está ligada a
membros de um grupo criminoso de ex-policiais do Rio de Janeiro acusado do
assassinato da ativista Marielle Franco,
o que eles negam.
Dois dos quatro presidentes eleitos anteriormente no Brasil sofreram
impeachment porque, como afirmou Fernando Henrique Cardoso, “não foram mais
capazes de governar”. Por mais que odeiem Bolsonaro, os democratas não devem
desejar que ele não chegue ao fim do seu mandato. Ainda é o início. Mas sua
Presidência já enfrenta um teste crucial. “Temos duas alternativas”, disse seu
porta-voz esta semana. “Aprovar a reforma da Previdência ou afundarmos num poço
sem fundo.” Se o seu chefe pelo menos fosse assim claro.
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