O candidato à Presidência da República pelo PT, Lula da Silva, 27), divulgou nesta quinta-feira (27), Carta Aberta onde se compromete em combinar "política fiscal responsável" com "responsabilidade social e desenvolvimento sustentável". No documento, que contém 13 pontos principais, o candidato promete seguir "regras claras e realistas" na política fiscal.
Confira o documento na íntegra:
"Carta para o Brasil do Amanhã
Um é o país do ódio, da mentira, da intolerância, do desemprego, dos
salários baixos, da fome, das armas e das mortes, da insensibilidade, do
machismo, do racismo, da homofobia, da destruição da Amazônia e do meio
ambiente, do isolamento internacional, da estagnação econômica, do apreço à
ditadura e aos torturadores. Um Brasil de medo e insegurança com Bolsonaro.
Outro é o país da esperança, do respeito, do emprego, dos salários
decentes, da aposentadoria digna, dos direitos e oportunidades para todas e
todos, da vida, da saúde, da educação, da preservação do meio ambiente, do
respeito às mulheres, à população negra e à diversidade; da integração soberana
ao mundo, da comida no prato e, sobretudo, do compromisso inabalável com a
democracia. Um Brasil de esperança, um Brasil para todos.
As primeiras medidas de nosso governo serão para resgatar da fome 33
milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiros e
brasileiras. A democracia só será verdadeira quando toda a população tiver
acesso a uma vida digna, sem exclusões.
Temos consciência da nossa responsabilidade histórica e, junto com
amplas forças que apoiam a democracia brasileira, a partir de um permanente
processo de diálogo e escuta da sociedade, apresentamos nossas principais
propostas para a reconstrução do país.
1.Desenvolvimento econômico com investimentos
Nossa primeira iniciativa será definir com os governadores dos 27
estados um planejamento para retomar obras paradas e definir obras
prioritárias. Vamos buscar financiamento e a cooperação – nacional e
internacional – para o investimento público e privado, para dinamizar e
expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, serviços,
agricultura de alimentos e indústria. Vamos investir em serviços públicos e
sociais, em infraestrutura econômica e em recursos naturais estratégicos. Os
bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e
inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo
ciclo. Ao mesmo tempo, vamos impulsionar o cooperativismo e a economia
solidária e popular. A roda da economia vai voltar a girar e o povo vai voltar
e ser incluído no orçamento.
Além disso, enfrentaremos o desemprego e a precarização do mundo do
trabalho, com um amplo debate tripartite (governo, empresários e
trabalhadores), para construir uma Nova Legislação Trabalhista que assegure
direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos,
assegurando a competitividade e os investimentos das empresas. Vamos também
criar o Empreende Brasil, com crédito a juros baixos para os batalhadores das
micro, pequenas e médias empresas. Nosso Brasil será o país da inovação.
2.Desenvolvimento social com trabalho e renda
Nosso maior compromisso é construir um Brasil mais igualitário, sem
fome, sem pobreza, com bons empregos e salários, priorizando as pessoas que
mais precisam. Para isso propomos: um Salário-Mínimo Forte, com crescimento
todo ano acima da inflação; um Novo Bolsa Família, que garantirá R$ 600,00 como
valor permanente mais R$ 150,00 para cada criança de até 6 anos de idade; o
programa Desenrola Brasil, para renegociar as dívidas de milhões famílias que
estão inadimplentes, oferecendo grandes descontos e juros baixos; Imposto de
Renda Zero para quem ganha até R$ 5 mil, que será acompanhado de uma reforma
tributária; além da Igualdade Salarial para Homens e Mulheres que exerçam a
mesma função.
3. Desenvolvimento sustentável e transição ecológica
Vamos construir um Brasil sustentável. O Brasil tem tudo para ser uma
grande potência ambiental. Para isso, é preciso aproveitar a criatividade da
bioeconomia e dos empreendimentos da sociobiodiversidade. Vamos iniciar a
transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração
sustentáveis, para uma agricultura familiar mais forte, para uma indústria mais
verde.
Nosso compromisso estratégico é buscar o desmatamento zero na Amazônia e
emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica. Vamos apoiar a
grande agricultura de baixo carbono e a agricultura familiar com crédito,
garantias e assistência. Vamos criar o Ministério dos Povos Originários e
revogar as medidas contrárias as populações indígenas e povos originários.
Vamos reconstruir os órgãos de fiscalização e controle do desmatamento. Vamos
acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas. Em vez de líderes mundiais de
desmatamento, queremos ser campeões mundiais do enfrentamento da crise
climática e do desenvolvimento socioambiental. Assim, teremos comida saudável
no prato, ar limpo para respirar, água boa para beber e muitos empregos de
qualidade com os investimentos verdes.
4. Educação
Para assegurar oportunidades para todas e todos, a Educação e a Ciência,
hoje tão abandonadas e negligenciadas, serão tratadas como investimento e não
como gasto. Vamos voltar a construir e apoiar as creches, aumentar os recursos
para a merenda escolar, implantar o Ensino em Tempo Integral, com
bolsa-estudante para quem completar o Ensino Médio. Vamos universalizar a banda
larga nas escolas, com equipamentos adequados que atuarão como ponto de
irradiação para a conectividade dos territórios.
Também vamos investir em Mais Universidades, com o fortalecimento do
ENEM, FIES, do PROUNI, da Bolsa Formação, e ampliaremos a Lei de Cotas,
incluindo a pós-graduação. Voltaremos a expandir fortemente o Ensino Técnico
Profissionalizante. Vamos valorizar a formação, a remuneração e as condições de
trabalhos dos professores, professoras e demais profissionais da Educação. A
educação pública, universal e de qualidade voltará a ser prioridade estratégica
do país.
5. Saúde
Para assegurar a saúde e a tranquilidade das famílias, vamos fortalecer
o SUS, retomar o Farmácia Popular, implantar o Médicos Pelo Brasil para atender
a população de todos os municípios brasileiros; promover mutirões emergenciais
em todo o país para zerar as filas de consultas, exames e cirurgias que não
foram realizados na pandemia, criar o Centro Nacional de Telemedicina e
investir no atendimento integral à Saúde da Mulher. Vamos reconstruir o
Programa Nacional de Vacinação. A vida é o nosso bem mais precioso.
6. Habitação e infraestrutura
Vamos retomar o Minha Casa Minha Vida para garantir emprego e moradia
para milhões de brasileiros. Também universalizaremos o acesso à luz e à água
com a reconstrução de programas como o Luz para Todos e Cisternas. Vamos
retomar obras paradas e estruturar um Novo PAC, para reativar a construção civil
e a engenharia pesada – orientando o investimento para setores que atendam a
demandas sociais como habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água
e saneamento. É o caminho para iniciar um novo ciclo de crescimento econômico.
7. Segurança
Vamos criar o Ministério da Segurança Pública para implementar o Sistema
Único de Segurança Pública, com polícias bem equipadas, treinadas e
remuneradas. Vamos retomar o PRONASCI para investir na formação e
profissionalização dos policiais. Vamos voltar a fortalecer e respeitar o
importante trabalho da Polícia Federal e da Força Nacional. Vamos revogar
decretos e portarias que permitiram o acesso irrestrito às armas, especialmente
aqueles que estão armando o crime organizado. Enfrentaremos o aumento alarmante
de casos de feminicídio e a violência contra a juventude negra, especialmente
nas periferias.
8. Cultura e esportes
Vamos recriar o Ministério da Cultura e implantar um Sistema Nacional de
Cultura para articular comitês estaduais de cultura. Vamos retomar o pro- grama
Cultura Viva, responsável pelos Pontos de Cultura, ampliar a presença da
cultura nas redes sociais, incorporando tecnologias digitais. Vamos apoiar os
esportes, aumentando o investimento no Bolsa Atleta e estimulando a prática
esportiva de crianças e jovens nas escolas. Vamos retomar o conjunto de
programas para a cultura, as artes, o esporte e o lazer, que foram atacados e
destruídos pelo atual governo.
9. Direitos humanos e cidadania
Vamos enfrentar as discriminações e preconceitos estruturais da sociedade
brasileira, como o machismo, o racismo, a LGBTfobia, o capacitismo com as
pessoas com deficiência, os preconceitos geracionais com idosos e a juventude.
Vamos recriar o Ministério da Mulher para combater a violência e assegurar
direitos, inclusive o de receber mesmo salário dos homens para as mesmas
funções. Vamos recriar o Ministério da Igualdade Racial, com o fortalecimento
de políticas de ações afirmativas para garantir direitos, promover a inclusão,
a participação, o reconhecimento e as novas oportunidades. Vamos recuperar o
programa Viver Sem Limites, especialmente o desenvolvimento e acesso às
tecnologias assistivas para as pessoas com deficiência. Garantiremos o
cumprimento integral da Lei que promulgamos para assegurar a mais ampla liberdade
de religião e culto no Brasil. O futuro deve assegurar o respeito aos outros, a
pluralidade e a diversidade, essenciais à democracia.
10. Reindustrialização do Brasil
Vamos construir uma estratégia nacional para avançar em direção à
economia do conhecimento. O Brasil não precisa depender da importação de
respiradores, fertilizantes nem diesel e gasolina. Não precisa depender da
importação de microprocessadores, satélites, aeronaves e plataformas. Nosso
país tem potenciais que devem ser impulsionados nas indústrias de software,
defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias. Nosso país tem
vantagens competitivas que devem ser ativadas, especialmente nos complexos
econômico-industriais da saúde, do agronegócio e do petróleo e gás.
Vamos iniciar a transição digital e trazer a indústria brasileira para o
século XXI, com uma política industrial que apoia a inovação, estimula a
cooperação público-privada, fortalece a ciência e a tecnologia e garante acesso
a financiamentos com custos adequados. Os segmentos das micro, pequenas e
médias empresas, bem como das startups, receberão atenção especial. O futuro
pertence a quem implantar a sociedade do conhecimento.
11. Agricultura sustentável
O Brasil é um dos mais importantes produtores e exportadores de
alimentos do mundo. Para garantir e ampliar essa vantagem competitiva do país,
vamos compatibilizar a produção com a preservação de recursos naturais, porque
isso é necessário num mundo que enfrenta a crise climática e exige cada vez
mais o consumo de alimentos saudáveis. Investiremos fortemente na Embrapa e no
financiamento ao agronegócio, aos pequenos e médios produtores e à agricultura
familiar e aos assentamentos. Para aumentar a produção sem desmatamento,
implantaremos o Plano de Recuperação de Pastagens Degradadas, que somam cerca
de 30 milhões de hectares. As taxas de juros serão reduzidas no Plano Safra, no
Pronamp e no Pronaf para produtores comprometidos com critérios ambientais e sociais.
Vamos reconstruir a Conab e estabelecer uma política de preços mínimos para
estabilizar os preços dos alimentos e garantir comida na mesa das famílias.
Vamos fortalecer o cooperativismo e a assistência técnica aos pequenos e médios
produtores.
12. Política externa
Superar o isolamento internacional e reposicionar o Brasil como
protagonista no mundo é nosso compromisso. Retomaremos a política externa
soberana, altiva e ativa, promovendo o diálogo democrático e respeitando a
autodeterminação dos povos. Investiremos novamente na integração regional, no
Mercosul e outras iniciativas latino-americanas, bem como no diálogo com os
BRICS, com os países da África, União Europeia e Estados Unidos. Romper o
isolamento e retomar política externa exitosa é fundamental para ampliar o
comércio exterior e a cooperação tecnológica, além promover relações mais
justas e democráticas entre os países.
Reafirmaremos e fortaleceremos nossos pactos internacionais relativos ao
desenvolvimento sustentável, em especial no marco da Convenção do Clima.
Cultivaremos relações de mútuo respeito com todos os países.
13. Democracia e liberdade
O Brasil passa por um momento histórico em que os direitos, as
instituições e as liberdades democráticas estão fortemente ameaçadas. Por isso,
reafirmamos nosso total compromisso com a democracia, pois somente a democracia
pode garantir os direitos da cidadania, condições de vida com dignidade para a
população e as conquistas da sociedade.
O Brasil não pode mais ficar nas mãos de quem admira a ditadura militar
e idolatra monstruosos torturadores. O Brasil não pode ficar entregue a pessoas
que questionam nosso processo eleitoral, procurando criar condições para golpes
e aventuras totalitárias. O Brasil não pode estar submetido a um governante que
agride sistematicamente o STF e o TSE e já ameaçou fechar o Congresso. Um
governo que nega a transparência, o acesso público à informação e desestruturou
os mecanismos de controle e combate à corrupção. Nossa democracia é fruto de
décadas de luta, de mulheres e homens, pela nossa liberdade e pelos nossos
direitos.
A reconstrução do Brasil exige uma gestão pública competente,
responsável, aberta ao diálogo e com a mais ampla participação da sociedade.
Exige uma gestão da economia com credibilidade, responsabilidade e
previsibilidade.
Já governamos este país. Com responsabilidade fiscal, reduzimos a dívida
pública, controlamos a inflação e acumulamos um expressivo volume de reservas
cambiais que até hoje são fundamentais para a estabilidade da economia. Essas
condições foram essenciais para o Brasil crescer o dobro da média internacional
em nosso governo e enfrentar a maior crise financeira mundial da história
recente.
A política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com
compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social
que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado
para arrancar o país da estagnação. O sistema tributário não deve colocar o
investimento, a produção e a exportação industrial em situação desfavorável,
nem deve penalizar trabalhadores, consumidores e camadas de mais baixa renda. É
possível combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável – e é isso que vamos fazer, seguindo as tendências
das principais economias do mundo.
Ao longo dessa campanha, vi a esperança brilhando nos olhos do nosso
povo. A esperança de uma vida melhor num país mais justo. O Brasil precisa de
um governo que volte a cuidar da nossa gente, especialmente de quem mais
necessita. Precisa de paz, democracia e diálogo. É com a força do nosso legado
e os olhos voltados para o futuro que dirijo esta carta ao povo brasileiro. Que
Deus nos ilumine nessa caminhada.
VAMOS JUNTOS PELO BRASIL!
Luiz Inácio LULA da Silva
São Paulo, 27 de outubro de 2022"
Nenhum comentário:
Postar um comentário