A silenciosa morte do criador do PSD Rubens Jordão
Um líder político pratica suicídio e não é notícia. Não entendo. Principalmente no Brasil que dedicou páginas e mais páginas da imprensa e livros para a morte de Getúlio Vargas.
Escreve Kiko Nogueira:
“A MORTE DO BRAÇO FINANCEIRO DE KASSAB NO AUGE DO ESCÂNDALO DA MÁFIA DOS FISCAIS
Rubens Jordão morreu no último dia 22 de novembro, aos 58 anos. Cometeu suicídio. Você, provavelmente, não soube disso e, talvez, não tenha ideia de quem se trata. Mas a notícia é importante porque Jordão era uma figura política importante — nos bastidores.
Jordão era presidente em exercício do Diretório do PSD em São Paulo e um dos principais articuladores do chamado Espaço Democrático, a fundação que o partido criou para ‘estudos’ e ‘formação política’.
Era mais do que isso: o coordenador financeiro de Gilberto Kassab”.
Em 5 de novembro de 2012, Mônica Bergamo escrevia:
“CHAVE…
O PSDB e José Serra não têm do que reclamar em relação a Gilberto Kassab (PSD-SP), que agora se reaproxima do PT. De acordo com apoiadores do prefeito, se não fosse ele, a campanha tucano-serrista não teria sequer recursos para ir adiante.
…DO COFRE
Kassab, com “seu prestígio como prefeito”, diz um correligionário, deslocou pessoas de sua confiança para ajudar na arrecadação de dinheiro para a campanha. E até nomeou um amigo, Rubens Jordão, para ser o presidente do comitê financeiro de Serra.”
INVESTIGAÇÃO.
In tese de Aline Cristina Antonechen e Lucia Cecília da Silva:
“[Suicídio] As causas para essa ação podem ser diversas, relacionadas a aspectos patológicos, psicológicos ou sociais da história do indivíduo, como alcoolismo, depressão, desavenças familiares, problemas financeiros, entre outros (DURKEIM, 2006; MARX, 2002). Em uma vertente mais social, apontam-se algumas condições que podem deixar o indivíduo mais vulnerável à prática do suicídio, os denominados “fatores de risco”, que estão relacionados à época do ano, idade, estado civil, gênero, cor, grau de instrução, uso de drogas, etc. (DURKHEIM, 2006; CASSORLA, 1991). Por outro lado, em uma visão mais individual, o suicídio pode ser fruto de uma depressão melancólica na qual o sujeito se vê como desprezível e não consegue encontrar outra saída, senão a própria morte. (FREUD [1917], 2006). Contudo, não há como nomear uma única causa para o suicídio, pois este certamente é decorrente de uma combinação de fatores da história do sujeito e da história social.
Ao realizar uma investigação acerca de um suicídio, a Justiça pretende saber não exatamente qual foi a causa desse suicídio, porém se houve ou não qualquer tipo de auxilio ou influência de outrem, o que retrataria um homicídio. Para isso, é necessário descobrir certos detalhes sobre como ocorreu a morte, se havia alguém no momento e o que pode ter levado o indivíduo a atentar contra a própria vida. Essas informações são conseguidas por meio de depoimentos de familiares e amigos, que relatam o que acharem pertinente sobre a história do indivíduo e compõe o inquérito policial.”
ASSASSINATO OU SUICÍDIO
O jornalismo investigativo no Brasil não consegue esclarecer casos recentes que a polícia informa que foi suicídio, mas a população considera assassinatos: do menino Marcelo Pesseghini, de 13 anos, que teria trucidado sem nenhum motivo o pai sargento, a mãe cabo da Polícia Militar de São Paulo, a avó e a tia-avó; Julia Colle, líder ativista dos direitos dos animais, em São Roque, também em São Paulo; o blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, em Santa Catarina, que denunciou o estupro de uma menina de 13 anos, envolvendo o filho do diretor da RBS.
Outro motivo para investigação: No Brasil, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio são crimes.
Art. 122 – Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único – A pena é duplicada:
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Tenho um tio avô, hoje nome de um açude na Paraíba, o maior do Brasil, quando de sua inauguração em 1942, que acusado de corrupção se suicidou. O potiguar Estevam Marinho, um homem honesto. É! houve um tempo que ser chamado de corrupto era uma desonra. O deputado federal Djalma Aranha Marinho, hoje nome da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, era sobrinho dele. Tenho orgulho desta origem.
O SILÊNCIO DA IMPRENSA
Conclui Kiko Nogueira:
“[Rubens Jordão] Sua morte ocorreu no auge do escândalo da fraude dos fiscais do ISS. Naquele dia 22, por exemplo, os jornais noticiaram que uma testemunha ouvida pelo Ministério Público havia dito que um delegado vendia informações para a quadrilha. Três dias antes, a prefeitura afastara o subprefeito interino de Pinheiros, Antonino Grasso, ex-secretário de Kassab.
Jordão era engenheiro e empresário. Numa nota publicada no site da legenda, Kassab declarou: ‘Perdemos um grande amigo e um colaborador inestimável’.
Fez parte do grupo de ex-colegas da Poli que acompanhou a carreira do ex-prefeito de São Paulo. A turma de 12 amigos se encontrava semanalmente para tomar um chope no centro da cidade. Leal, tinha um perfil mais baixo. Foi, nominalmente, secretário adjunto de Esportes (o titular era Walter Feldman). Mas, de acordo com fontes do PSD, era o homem com quem os aliados do prefeito tratavam quando precisavam de recursos.
Rubens Jordão foi um dos principais organizadores da campanha vitoriosa de Kassab para a prefeitura em 2008. Pela competência, Kassab o nomeou presidente do comitê financeiro de José Serra em 2012.
O falecimento de Jordão, no momento mais agudo do tiroteio em torno de um esquema que teria custado aos cofres públicos 500 milhões de reais, foi tratado de maneis discreta e silenciosa – como ele”.
OS INIMIGOS DA VERDADE
A censura e a autocensura alimentam rumores, boatos, desconfianças, suspeitas. São inimigas da verdade.
No seu portal, o PSD faz um discreto e pequeno necrológio.
Na política, um suicídio pode ser nobre ou desonroso.
(ANDRADETALHES)
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