segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Momento poesia

Santiago do Chile - 13 Graus

Bom dia!

Estando em terras andinas, quando uma mulher acaba de se eleger presidenta da República pela segunda vez, nada como homenagear uma outra mulher, a poetisa Gabriela Mistral, considerada a mais célebre poetisa do Chile. Com seus versos feministas, exaltou a independência da mulher perante o homem, as dificuldades da população pobre de seu país, e a riqueza e diversidade da cultura, não só no Chile, mas em todo o continente.
A poetisa foi também uma grande defensora dos direitos democráticos de seu povo, principalmente no que se refere ao direito à educação.
Desolação

A bruma espessa, eterna, para que esqueça de onde
Há-me jogado ao mar em sua onda de salmoura.
A terra a que vim não tem primavera:
tem sua noite longa a qual mãe me esconde.

O vento faz à minha casa sua ronda de soluços
e de alarido, e quebra, como um cristal, meu grito.
E na planície branca, de horizonte infinito,
vejo morrer intensos poentes dolorosos.

A quem poderá chamar a que até aqui há vindo
se mais longe que ela só foram os mortos?
Tão sós eles contemplam um mar calado e rígido
crescer entre seus braços e os braços queridos!

Os barcos cujas velas branqueiam no porto
vem de terras onde não estão os que são meus;
e trazem frutos pálidos, sem à luz de meus hortos,
seus homens de olhos claros não conhecem meus rios.

E a interrogação que sobe a minha garganta
ao olhar-los passar, me descendem, vencida:
falam estranhas línguas e não a comovida
língua que em terras de ouro minha velha mãe canta.

Vejo cair a neve como o pó na sepultura,
Vejo crescer a névoa como o agonizante,
e por não enlouquecer não encontro os instantes,
porque a "noite longa" agora tão só começa.

Vejo o plano extasiado e recolho seu luto,
que vim para ver as paisagens mortais.
A neve é o semblante que aparece a meus cristais;
sempre será sua altura abaixando dos céus!

Sempre ela, silenciosa, como a grande olhada
de Deus sobre mim; sempre sua flor de laranjeira sobre minha casa;
sempre, como o destino que nem míngua nem passa,

descenderá a cubrir-me, terrível e extasiada.

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