Falta de infraestrutura básica faz da proliferação do Aedes aegypti uma tragédia anunciada
Urbanização do país ocorreu sem investimento e criou atraso de 508 bilhões de reais
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya só se reproduzia em água limpa. Isto, por si só, seria um grande problema para as cidades brasileiras, que em média deixam escoar 37% de sua água tratada, segundo dados do Instituto Trata Brasil.
Pesquisadores descobriram que o mosquito também se desenvolve sob a presença da matéria orgânica e do ambiente turvo do esgoto. Tanto pior para os brasileiros. Mais da metade da população não tem coleta de esgoto. São 100 milhões de pessoas vivendo nestas condições. Nem as escolas brasileiras apresentam taxas melhores: 50% não têm esgoto.
E mesmo quando há coleta nem sempre há tratamento. Dois terços do volume que passa das redes é despejado sem nenhum cuidado. Na região Norte, apenas 15% do esgoto é tratado. No Sul e no Sudeste, que detêm os melhores índices do país, a média é de apenas 44% de tratamento.
“A falta de sucesso no combate ao mosquito se deve, em grande parte, à urbanização do país”, escreveu Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses em artigo recente. Segundo ele, a rapidez com que as pessoas migraram do campo para as cidades originou megalópoles sem saneamento básico. Se nos anos 1970, um em cada cinco brasileiros vivia em cidades, hoje são nove em cada dez.
Para lidar com a rápida urbanização, deveriam ter sido feitos investimentos na mesma velocidade. Não foi o que aconteceu. Por causa desse atraso, hoje custaria 15 bilhões de reais por ano, durante vinte anos (total de 303 bilhões de reais), para que todos os brasileiros tivessem o mínimo: água tratada e coleta esgoto. Ou 25,4 bilhões de reais por ano durante vinte anos (total de 508 bilhões de reais) para garantir também tratamento de esgoto e redução das perdas de água limpa. Os números são do Instituto Trata Brasil.
Para se ter uma ideia, os desvios na Petrobrás ocorridos entre 2004 e 2014 somaram 42 bilhões de reais, segundo a Polícia Federal. Com esse montante, daria para bancar quase cinco anos do investimento mínimo necessário para resolver um dos mais graves problemas do país ou mesmo financiar pesquisas e ações de combate ao mosquito. Mas, quando não se investe em infraestrutura básica, a proliferação do Aedes é mais uma tragédia anunciada do que propriamente um susto.
Fonte: Mariana Barros - Cidades sem fronteiras
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