Por Noelia Brito
É impossível não refletir sobre o tratamento que vem sendo dado pelo governo de Pernambuco e pelo Poder Judiciário às demandas dos profissionais de saúde e da segurança pública do Estado que não exigem nada além do que a disponibilização de equipamentos de proteção individual e condições mínimas de higiene para trabalhar, enquanto a maioria da população, inclusive magistrados e o governador, está recolhida para evitar a contaminação pelo coronavírus.
Não adianta ir para a janela aplaudir esses profissionais e soltar videos pelas redes sociais, glamourizando a verdadeira tragédia mundial que é a pandemia de Covid-19 e não exigir que o governo e os demais poderes os respeitem garantindo-lhes pelo menos mínimas condições de se protegerem do vírus. Afinal, se e quando esses profissionais ficarem doentes, quem fará o trabalho por eles?
Os sindicatos dos Policiais Civis, dos agentes prisionais, dos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, as associações dos delegados de Polícia, dos peritos, dos policiais militares e até a associação dos usuários de Planos de Saúde ajuizaram ações pedindo o óbvio: que o governo de Pernambuco fornecesse máscaras, álcool gel, trajes especiais de combate à pandemia, luvas, em suma, o básico que qualquer gestor prudente já teria providenciado desde antes do Carnaval, quando já se sabia que a pandemia chegaria por aqui.
Dessas ações, apenas a do Sinpol chegou a obter uma liminar que já foi cassada pelo presidente do TJPE, a pedido do governador. É bem verdade que na decisão do desembargador Fernando Cerqueira não há a liberação do governo, mas a ordem expressa para que o governo forneça os equipamentos de proteção primeiramente aos profissionais de saúde e na sequência, aos policiais, mas sem estabelecer os prazos para essa providência, que na liminar suspensa era de 72 horas. Ora, se o ministro da Saúde declarou que o sistema deve entrar em colapso já em abril, é urgente que essea profissionais sejam protegidos, já que diferentemente do governador, dos seus assessores, dos magistrados, da maioria da população, na qual me incluo, que temos a possibilidade de ficar em casa, em isolamento, por hora voluntário, esses profissionais estão fadados ao contato diário com infectados, sujeitando-se assim, a contaminar a si mesmos, a seus familiares e ao público que buscar seus serviços.
Li em uma das decisões que máscaras e álcool gel deveriam ser fornecido a todos os servidores, mas que não haveria em quantidade suficiente, além das limitações orçamentárias. Ora, é público e notório que a maioria dos servidores está dispensada de comparecer às suas repartições, em teletrabalho, portanto, é falso o argumento utilizado desse douto juiz que despachou lá no conforto do seu lar, enquanto os profissionais de saúde e sa segurança pública estão expostos a todos os riscos e agora ao coronavírus. Também não procede que não haja orçamento para bancar os custos, pois se o governo de Pernambuco dispunha de recursos para pagar férias atrasadas de juizes e desembargadores que chegaram à impressionante quantia de dois milhões de reais, paga a apenas uma magistrada, como se acreditar que não teria recursos para custear luvas, máscaras e álcool gel para proteção de quem nos protege?
Ainda hoje, vi em coletiva de imprensa ,o ministério da Saúde afirmar que para cada Estado da Federação enviou o equivalente a dois reais por habitante, apenas para o combate ao coronavirus, além de repassar aos Estados os kits para testes para a doença. Se o ministério da Saúde não está mentindo, se considerarmos que a população de Pernambuco é de aproximadamente 9,49 milhões de habitantes, apenas para combater essa fase inicial da pandemia, Pernambuco recebeu em torno de 19 milhões de reais.
Quanto à falta de fornecedores, repita-se que o governo demorou a agir, pois sabia, desde antes do Carnaval, que a pandemia chegaria. E por que não se preveniu? Logo esse governo que é pródigo em dispensar licitações? Então quem tem que arcar com as consequências da incompetência e da imprevidência do governo são os profissionais da saúde e da segurança pública?
Proliferam denúncias de profissionais da saúde e da segurança pública sobre a falta de condições de trabalho. Se já era caótica a realidade das delegacias, dos IMLs, dos hospitais pernambucanos, onde a excelência só existe da multimilionária publicidade do governo, agora, em tempos de coronavírus, é desesperadora.
Tenho recebido pelo WhatsApp uma infinidade de denúncias e desabafos desses profissionais de que até água falta para higienização das mãos. Álcool gel, máscaras e luvas, quando não faltam totalmente estão sendo racionadas de forma a inviabilizar a higiene que hipocriatmente as autoridades recomendam à população. Digo hipocritamente porque se não cuidam da higiene nas unidades de saúde e das delegacias, como exigir da população conduta diversa? No IML, por falta de equipamentos adequados à necropsia de pessoas mortas sob suspeita de doenças infecto-contagiosas já há relatos de corpo não autopsiado. E quando a tal curva da pandemia se acentuar, como será? Profissionais de saúde do IMIP, Oswaldo Cruz, Otávio de Freitas estariam enfrentando stress acima do suportável pela falta de condições de trabalho para lidar com a pandemia. É devemos ficar cargos a tudo isso para não ferir as suscetibilidades do governador?
Infelizmente, não fossem as entidades sindicais e associações esses profissionais estariam órfãos porque não se vê um político, uma entidade de fiscalização defender a incolumidade de quem se expõe todos os dias para garantir as nossas incolumidades, seja nos hospitais, seja nas delegacias, seja nos presídios, seja nas ruas.
A verdade é que todo mundo quer ter segurança pública, quer ter saúde pública de qualidade, mas esquece que são serviços e serviços são prestados por pesssoas. Quando essas pessoas não estiverem mais aí, quem as substituirá? Será que essas pessoas tão dignas dos aplausos que distribuimos do alto de nossas janelas de classe média não merecem um pouco mais de nós? Fica aí essa pequena e insignificante reflexão.
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