quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Homenagem do professor e escritor Juarez Leitão a Lustosa da Costa

Conheci Lustosa da Costa na década de 60 do século passado, mas só nos tornamos amigos em 1979 por interferência do Dorian Sampaio. Mantivemos uma amizade solidária e enriquecedora, pois ele tinha sempre o que ensinar.
Homem de personalidade forte, o traço fundamental de seu caráter era a autenticidade. Foi coerente a vida inteira, por pensamento, palavras e atitudes.
Fiel aos seus princípios de juventude, defendia com altivez e valentia sua posição política de esquerda e com tal veemência que beirava a obsessão. Vibrava defendendo suas convicções. Parecia um estudante de passeata.
Isso, entretanto, não era obstáculo para ter amigos que pensassem ideologicamente diferente. Teve muitos amigos que não comungavam com suas posições políticas. E a regra para manter essas amizades era não conversar com eles sobre política.
Dominava a arte de escrever e tinha uma leveza, uma forma quase coloquial de narrar cenas e fatos que impressionava leitores e críticos. Era um cronista de alto relevo, como poucos do Ceará e do Brasil. A História de Sobral, seus mitos e personagens formaram a essência de sua obra de 28 títulos. Escritor reconhecido aqui e em Portugal, acumulou uma fortuna crítica que inclui nomes como Mário Soares e José Saramago. Jorge Amado afirmou certa vez que o livro “Sobral do meu tempo” tinha material para três ou quatro bons romances.
Quando o Lustosa vinha a Fortaleza – e o fazia uma ou duas vezes por mês – tinha como roteiro preferido passar pelo Clube do Bode, pelo Raimundo dos Queijos e pelo Ideal Clube. Bom de garfo e de copo freqüentava os bons restaurantes e, aos domingos, ia, com certeza, comer tapioca no Mercado São Sebastião, onde também passava pelo box de Dona Marta para comprar castanhas e rapaduras.
Entretanto, era sagrada a sua visita a Sobral, todas as vezes que vinha ao Ceará. Lá, esbaldava-se na corte dos amigos, comendo, bebendo e conversando sobre as façanhas da gente sobralense, a “cidade das cenas fortes”, como ele mesmo intitulou um de seus livros.
A morte de Lustosa da Costa deixa seus amigos, seus leitores e o Ceará órfãos de um nobre e generoso companheiro. Um sujeito leal, altivo, franco, capaz de matar e morrer por aqueles a quem admirava e queria bem. Perdemos um praticante da dignidade, um bom caráter.

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