quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Torcidas organizadas são agremiações fascistas

 





DO BLOG TRÁGICO E CÔMICO - DIOGO SALLES - JT

Quando se diz que, no Brasil, “futebol é religião”, tende-se a olhar o lado positivo, até poético, da questão. Segundo o dogma, a paixão do torcedor pelo seu clube tem de vir acima de tudo. Mas já tem algum tempo que vejo essa analogia futebol-religião pelo lado pejorativo. O que aconteceu no último domingo só confirma as minhas suspeitas. No Couto Pereira, uma adolescente torcedora do Coxa aprendeu na base da violência e da intimidação que ela não pode ser fã de qualquer outro jogador que não seja de seu time. No Pacaembu, um gringo veio aqui ver de perto a nossa paixão pelo futebol, mas só viu intolerância e quase apanhou sem nem saber o motivo.

O torcedor comum — aquele que gosta de futebol e quer ver o jogo — vai ter que continuar esperando a sua vez. Se, por exemplo, você estiver numa fila para comprar um ingresso muito concorrido (uma final, talvez), você vai ter de ceder seu lugar a toda a torcida organizada. Mas não porque eles chegaram antes de você na bilheteria, e sim porque eles têm “preferência”, por estarem sempre “onde o time estiver”. Eles só preferem não comentar o fato de que a maioria viaja para ver jogos financiada por conselheiros e até presidentes de clubes. Há casos até de jogadores que são extorquidos pelas torcidas, senão elas o perseguirão com vaias nos jogos (claro que o fato de jogar bem ou mal não faz a menor diferença).

Sejamos francos: torcidas organizadas se tornaram agremiações fascistas. Antigamente, até acredito que as organizadas surgiram a partir de amigos que se juntaram pra torcer junto. Hoje, a simples adesão a uma torcida organizada já nasce de um ideal fascistóide.

Apesar de bem intencionada, a ideia de extinguir as organizadas juridicamente não resolve o problema. Tentaram extinguir a Mancha Verde, mas ela voltou como “Mancha Alviverde”. A ideia de fichar torcedores é boa, mas de difícil implementação, já que o poder público é lento e incompetente demais para identificar e punir os culpados.

Tudo joga contra o torcedor comum. Tudo. E ao ir a um estádio, antes de torcer para o seu time do coração, resta a ele torcer para que não seja a próxima vítima.

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