terça-feira, 22 de outubro de 2019

Opinião:



 O maldito ouro negro, por Fabíola Tiné*

Por Fabíola Tiné 

No dia 09 de outubro o Ibama, já afirmava que mancha de óleo atingira 138 localidades em 62 cidades de nove estados da Região Nordeste. 

No mesmo dia, o ministro salientou a dificuldade em solucionar o problema, uma vez que a origem do vazamento era indeterminada e desconhecida. 

Até o dia 07 de outubro, a Petrobras já havia recolhido 133 toneladas de resíduos. Segundo o Ibama, o material oleoso é petróleo cru e, desde o dia 2 de setembro, se espalhou pelo litoral de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Desde então já se passaram 48 dias e, os órgãos oficiais de proteção ao meio ambiente “batem cabeças”, acusando-se mutuamente. 

Tem-se dado mais importância à busca dos culpados, do que à implantação de um plano de prevenção para conter o avanço do óleo.

Claro que punir exemplarmente os responsáveis pelo vazamento é uma medida obrigatória, mas nada é mais urgente que salvar a fauna, os corais e as orlas. 

A extensão da costa nordestina atingida pelas manchas de petróleo desde o dia 2 de setembro chegou a 2.100 quilômetros dos nove estados da região. O acidente ambiental já é considerado o maior da história do litoral brasileiro em termos de extensão. Uma análise com base nas correntes marinhas, feita pelo Laboratório de Oceanografia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), aponta que o vazamento ocorreu entre os litorais de Pernambuco e Paraíba, a uma distância entre 40 e 50 km da costa. 

O Ministério do Meio Ambiente infirmou que, ao todo, 1.583 militares, cinco navios, uma aeronave e diversas pequenas embarcações e viaturas estão participando da operação. Uma federação internacional especializada em identificar e prevenir vazamentos de petróleo causados por petroleiros foi procurada pelo governo brasileiro, mas ainda não conseguiu localizar a origem das manchas de óleo no Nordeste. O contato ocorreu no início da crise que já atinge mais de 190 localidades no Nordeste. 

Quando um vazamento de petróleo, de grandes proporções, afeta um país, um plano de contingência deve ser colocado em ação. Apesar de ter seu próprio plano previsto em lei — o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo — e de terem se passado quase 50 dias desde a primeira vez em que o petróleo foi visto em uma praia brasileira, o Brasil não o acionou. Um dia antes do óleo invadir a praia de Carneiros, o CPRH afirmou que não havia manchas naquela área. E o governo de Pernambuco ratificou as informações do órgão. 24 horas depois começou a correr atrás do prejuízo. O prejuízo que parecia apenas atingir o comércio e o turismo. “Se chegar a gente limpa” – E a sujeira que matou centenas de vidas marinhas, Governador, quem vai limpar? 

De acordo com o balanço divulgado pelo governo estadual, foram atingidas, nesta sexta, as Praias dos Carneiros e Boca da Barra, em Tamandaré; Mamucabinhas, em Barreiros; e Ilha de Santo Aleixo, Aver o Mar e Guaiamum, em Sirinhaém. Além disso, a força-tarefa recolheu, no mar, 600 litros de óleo, perto da Ilha de Santo Aleixo. Hoje, já temos imagens do óleo nas Praias do Paiva, Enseada dos Corais e Gaibu. Estamos nos valendo da força do voluntariado e suporte de servidores municipais. Grupos em redes sociais pedem material de proteção para o trabalho nas praias. Onde está o Poder Público? Não há eficiência no monitoramento, na contenção, na retirada, no suporte aos voluntários. Não há compromisso com a natureza. 

Comprova-se que não temos a menor condição de enfrentar grandes desastres. Cinquenta dias dos primeiros sinais e ainda não identificamos a fonte desse óleo. Seria bem menos oneroso se conter esse óleo, retirando ele ainda na água, do que deixá-lo bater nas praias, costão rochoso, área de manguezal, para depois fazer a limpeza. O que temos de mais eficiente é a solidariedade. Gente que está arriscando a própria saúde pra limpar a sujeira deixada pela incapacidade dos nossos governantes. 

Os gestores estão preocupados em achar um responsável externo, deixando de enxergar a gigantesca tragédia que é o despreparo, a incompetência, a falta de compromisso - que vai de órgãos municipais até o ministério. Poucos são aqueles que alcançam a real gravidade dessa situação. Há tartarugas agonizando sufocadas; peixes-boi se alimentando de vegetação marinha misturada ao óleo; Temos riscos para os recifes de corais. Se esse óleo se depositar na maré baixa, ficará acumulando sob os recifes e causará a mortandade das espécies de corais. 

Manchas de óleo já foram encontradas em praias de desovas de tartarugas e santuários de golfinhos. E os peixes que sobreviverem estarão impróprios para o consumo humano. 

Os Maguezais do Cabo já foram atingidos. E se o óleo chegar em águas doces, quem estará preparado para tratá-las? A COMPESA? 

A maior especialista do país em danos ambientais, Yara Schaeffer Novelli, professora doutora da Universidade de São Paulo (USP), afirmou ontem que “Estamos sendo feitos de tolos”. O Brasil conta com os melhores cientistas para lidar com a situação, técnicos preparados em órgãos governamentais estratégicos, satélites de alta precisão e uma série de leis, há tempos formuladas, que explicitam o be-a-bá do que deve ser feito em um momento assim. “Está tudo lá, mastigado”, diz a professora, referindo-se à Lei 9.966, de 2000, a qual estabelece, tim-tim-por-tim-tim, as ações a serem tomadas quanto à prevenção, controle e fiscalização de poluição causada por derramamento de óleo e outras substâncias em águas brasileiras. 

Quanto aos recursos humanos e tecnológicos, a professora critica o governo federal e o Ministério do Meio Ambiente não só pela ignorância e morosidade na atuação, mas também questiona as causas do silêncio de técnicos que, ela garante, são preparados para agir adequadamente em situação assim. Fomos financiados a vida inteira pra fazer uma devolutiva para sociedade. Ela critica, inclusive, à maneira como a sociedade vem sendo informada (também nesse caso há determinações legais em relação à forma como proceder), ela chega a suspeitar de uma “ação orquestrada” para que não se chegue aos verdadeiros responsáveis: São ainda declarações da Professora da USP - “Começo a desconfiar que existe uma ordem superior para que não se manifestem. Essa mudez total, esse silêncio, só podem ser orquestrados. 

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) se calou, mas eles têm oceanógrafos físicos e pessoal especializado em estudo de imagens de satélite de primeira qualidade […] “Como alguém vê as manchas chegarem às praias e não aciona as imagens dos satélites? Elas dizem onde as manchas estavam ontem, onde estavam antes de ontem… Elas estão aí para isso. Acho impossível não terem feito. Se alguém foi impedido de divulgar, isso é muito sério”. 

*Fabíola Tiné  é defensora dos animais

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