sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Humoristas não querem graça na corrida rumo as urnas

Candidatos humoristas prometem trabalho sério e criticam “voto de deboche” defendido por Tiririca

No Ceará, pelo menos três artistas do humor pleiteiam vagas na Câmara Federal

Lailtinho Brega tenta vaga na Camara dos Deputados (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Lailtinho Brega tenta vaga na Camara dos Deputados (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Defender a classe artística e não fazer “palhaçada”. Essa é a bandeira dos candidatos humoristas que prometem fazer um trabalho sério caso sejam eleitos. No Ceará, pelo menos três artistas do humor pleiteiam vagas na Câmara Federal.
“Filho” do bairro Henrique Jorge, em Fortaleza, Lailton Melo ou simplesmente Lailtinho Brega é um destes candidatos nas Eleições 2014. Conhecido por provocar risadas com piadas tipicamente cearenses, o humorista promete não decepcionar os eleitores. “O artista tem o dom de entender os anseios do povo. Se a classe se organizar, eles (artistas) podem ajudar o povo. A bancada artística ainda não é forte, os projetos culturais nunca têm a atenção devida e é nisso que eu quero trabalhar”, afirma.
Quem está acostumado com os trejeitos e roupas extravagantes de Lailtinho, não sabe a ligação com a política que o artista tem. Ele é irmão de Acrísio Moreira da Rocha, ex-prefeito de Fortaleza eleito duas vezes na década de 1940, e afirma já ter defendido ideais. “Nossa militância política começou há muito tempo. Ainda jovem, atuei como militante do jornal “Tribuna Operária”, do Partido Comunista do Brasil. Pedia voto na rua”, comenta o humorista. Atualmente, Lailton também é assessor parlamentar do vereador Paulo Diógenes, que interpreta o personagem Raimundinha nos palcos de Fortaleza.
Questionado sobre a visão cômica e falta de credibilidade da população com profissionais do humor, o candidato pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) fala sobre as dificuldades. “O eleitor pode acreditar no humorista. Sei que essa credibilidade não vem rápido, o negócio é conversar olho no olho e mostrar nosso outro lado. As pessoas acham que nós somos incapazes. Por mais que eu seja um palhaço, sou um ser humano por trás da fantasia. Infelizmente, para a política eu sou apenas um produto, mas também acredito que esse preconceito junto ao artista pode diminuir”, lamenta o humorista.
Além de humorista, Francisco Ernesto também é professor (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Além de humorista, Francisco Ernesto também é professor (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Quem também está na “luta” é o professor Francisco Ernesto. Transvestido de “Veia Cômica”, artista tem despertado gargalhadas desde 1994, quando subiu aos palcos pela 1ª vez. Com militância política iniciada nos anos 80, o humorista é defensor dos direitos dos profissionais do riso na presidência da Associação Cearense dos Humoristas. “Minha história com a política é mais longa que a carreira dos humoristas, só que as pessoas me conhecem mais por conta dos palcos”, explica ao ser questionado pela escolha de concorrer à vaga de deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Veia Cômica acredita que o artista pode ser levada a sério mesmo sendo conhecido por causar o riso. Sensível aos iguais, ele afirma que há um descaso com a classe artística. “Não entendo com artistas já renomados sobem aos palcos com um montante de dinheiro que recebem por meio da Lei (Lei Rouanet, que beneficia projetos culturais) enquanto os ‘pequenos’ têm que enfrentar outra realidade. Tem muita gente boa sem apoio”, comenta.
Como professor, Ernesto também promete ações voltadas para a arte na escola. Segundo ele, sua experiência com o humor e a sala de aula pode contribuir para um bom trabalho na Câmara. “Como personagem das duas realidades, tenho visto que a escola de hoje não abre espaço para a cultura e o entretenimento. Defendo um maior espaço para estas áreas nas instituições de ensino”, diz.
“Pior que tá não fica”
Chiclete é irmão de Tiririca e atua no humor há 20 anos (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Chiclete é irmão de Tiririca e atua no humor há 20 anos (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
Com uma campanha mais engraçada, quem também está na corrida eleitoral é o humorista cearense – ou palhaço, como ele prefere – Francisco Hélio Oliveira Silva, o Chiclete, que é irmão do deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva, o palhaço Tiririca.
Chiclete afirma que ocupar uma vaga na Câmara sempre foi um sonho e sua “batalha” começou em 2008, quando filiou-se ao PCdoB. “Eu comecei antes do Tiririca até. Foi em 2008 quando eu entrei para o PCdoB no Rio de Janeiro, mas não consegui sair candidato, pois o partido fez uma triagem antes da campanha e eu fiquei de fora. Foi uma frustração só”, relembra.
De volta à terra natal, mudou de bandeira e entrou para o Partido da República (PR) para uma nova caminhada em busca do seu sonho. “Eu resolvi trocar de partido porque eu acredito que o PR seja mais forte. E agora eu estou mais confiante”, diz Chiclete.
O irmão de Tiririca afirma não fazer promessas. Ele diz que pretende ir à Brasília para lotar pelo povo e denunciar a corrupção. “Quando eu estou na rua e me pedem dinheiro, eu dou uma ‘telada’ e respondo que é por isso que o Brasil é corrupto. Eu vou denunciar tudo que é errado e lutarei pelas pessoas e por melhorias para meu estado”, afirma o candidato.
Chiclete diz não ter contato direto com Tiririca, mas seu jeito de fazer campanha é semelhante. Usa o horário eleitoral para fazer piada e pedir voto de um jeito “diferente”. “90% dos candidatos que estão lá dizem a mesma coisa. Todos prometem educação e segurança, mas eu não prometo nada. Meu jeito de fazer campanha é um jeito inovador. Mas se for eleito não serei palhaço, mas sim ‘homem’”, finaliza.
Sem palhaçada
Quando o assunto é o “estilo Tiririca” de fazer campanha, os candidatos Lailtinho e Veia Cômica têm o pé atrás. Os entrevistados não apoiam o “voto de deboche”, defendido por Tiririca em sua campanha para deputado federal em 2010, quando conseguiu 1,3 milhão de votos em São Paulo com o jargão “pior que tá não fica”.
“Eu acredito que a campanha pode ser feita com outras coisas. O próprio Tiririca conseguiu incluir a classe circense na Lei Rouanet. Foi um parlamentar presente na Câmara. A campanha dever ter coisa boa, não somente palhaçada. Isso descredibiliza o candidato, descredibiliza o Francisco Everardo Oliveira”, critica Lailtinho Brega.
Lailtinho diz ainda que conseguiria até mais votos incentivando o deboche, mas sua bandeira é defendida de outra forma. “Minha intenção não é ir à TV fazer palhaçada, mas sim mostrar minhas propostas e ir às ruas ouvir a população. A política até precisa de graça, mas não palhaçada”, comenta o candidato do PRTB.
O humorista Ernesto Veia Cômica segue a mesma linha: nada de “palhaçada”. “O que eu vejo é que o Tiririca entrou na política usando o que o cearense tem de especial, o humor. Mas essa não é a melhor forma de apresentar propostas. Não sei o que pensa o eleitor dele. Acredito que seja apenas um voto de protesto”, salienta.
Ernesto diz ainda que o humorista que segue a linha de Tiririca não tem garantia de vitória nas eleições. “Nós já tivemos outros exemplos que não deram certo. Eu particularmente quero entrar na política como cidadão que vai defender os direitos de uma classe e não como humorista”, explica.
Antes de terminar a entrevista, o professor e humorista revela um desejo: “Eu queria mesmo era ver os candidatos não majoritários discutindo em debates na faculdades e na TV. Infelizmente há espaço somente para governador, senador e presidentes”, finaliza.
(Tribuna do Ceará)

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