As bem-aventuranças |
O Evangelho de São Mateus apresenta o tema das Bem-Aventuranças. É um texto muito conhecido dos católicos cristãos. É o Projeto do Novo Reino que entra em questão. Assim ele apresenta o Evangelho baseado em 5 DISCURSOS de Jesus. Deseja mostrar Jesus como o novo Moisés, que na Montanha promulga a nova LEI (= as bem-aventuranças).
Veremos a seguir o primeiro discurso e um comentário de cada bem-aventurança apresentada pelo nosso evangelista. É bom ter presente que a primeira bem-aventurança está em sintonia com a oitava, porque uma abre e a outra praticamente fecha o tema. As outras – de quatro a nona – são uma explicação destas duas.
- Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus (v.3).
Freqüentemente tentou-se atenuar a força dessa expressão, como se os pobres em espírito fossem pessoas “humildes”, independentemente de sua condição social. A palavra pobre recorda os ‘anawim’ do Antigo Testamento e da época de Jesus: são os que depositaram sua confiança em Deus enquanto última instância, porque a sociedade lhes negava justiça. “O pobre é a pessoa honrada, piedoso, espiritualizado, justo (praticante da justiça, “ajustado diante de Deus), aberto a Deus e por isso feliz”. O Reino é deles porque, vivendo assim, realizam o pedido de Jesus (cf. 4,17: “Convertam-se, porque o reino do céu está próximo). Mas, por outro lado, mundo diz: "felizes os que têm dinheiro e sabem usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança e bem-estar". Onde está a verdadeira felicidade? Quem é, realmente, feliz?
- Bem-aventurados ao aflitos, porque serão consolados (v.4).
Esta bem-aventurança precisa ser a partir do premio merecido: o consolo. O consolo é uma realidade que Jesus nos traz e que compreende a dor da pessoa que precisa ser consolada. Esta bem-aventurança esclarece a vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e a dor e quando Ele ressuscita fica mais evidente o sentido desta vitória. Neste sentido perceberemos que o Deus de Jesus Cristo é o Deus do Consolo (cf. Is 40, 1-5).
- Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra (v.5).
Não é fácil encontrar um adjetivo que justifique esta bem-aventurança. Porém, ela esta em sintonia com a primeira. Muitas vezes os mansos estão ligados com a realidade dos pobres, humildes. Eles têm a esperança da retribuição. Uma ressonância encontra com o Salmo 37, onde diz: “Não se irrite por causa dos maus, nem tenha inveja dos injustos. Ele são como erva: secam depressa, murcham logo como a relva. Confie em Javé e pratique o bem... Porque os maus vão ser excluídos, e os que esperam em Javé possuirão a terra... e não haverá mais injusto; os pobres vão possuir a terra... o injusto faz intrigas contra o justo, e contra ele range os dentes. (Salmo 37,1-3.9-12). A expressão “herdarão a terra ou possuirão a terra” poderia ser o prêmio do reino dos céus. Porém, este reino começa aqui nesta terra e tem um sentido de que o homem pode se esforçar por um mundo melhor. Não foi assim a vida de Jesus! Ele curou os enfermos, a dor... saciou a fome, a sede, pregou um Reino diferente na terra. E nós...?!?
- Bem aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (v. 6).
São necessidades sentidas e intensas e que ser inclusive de Deus. Diz o salmista:
> “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando verei a face de Deus?” (Sl 42,2-4); “Ó Deus, tu és o meu Deus, por ti madrugo. Minha alma tem sede de Ti, minha carne te deseja com ardor” (Sl 63, 2).
A fome significa na Bíblia a tendência e a lembrança ao Deus da vida. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem acredita em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Os homens acreditam que Deus fará justiça aos que são oprimidos pela injustiça. A situação de “fome e sede de justiça” clamam para que cessem a injustiça atual. A justiça corresponde ao Reinado de Deus sobre tudo e sobre todos. Por que a esperança de justiça se cumpre em Jesus Messias e Salvador na cruz. De fato “Javé é nossa justiça” (Jr 23,6).
- Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (v. 7).
Misericórdia é uma palavra composta por “miséria e coração”. É olhar para a miséria do outro, do próximo, de uma pessoa com o coração e não com a razão. Por isso que os “misericordiosos” têm uma atitude diferente frente a qualquer realidade. Jesus insiste na virtude da misericórdia: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13). Então aqueles que têm o espírito de Jesus misericordioso terão a mesma atitude de Deus que é amor, perdão, compassivo, compreensão, ajuda, a partilha, a solidariedade... Como recompensa serão felizes e alcançarão a misericórdia.
- Bem-aventurados os de puro coração, porque verão a Deus (v. 8).
Esta bem-aventurança se inspira no salmista, que diz: “aquele que tem mãos inocentes e coração puro,... esse receberá a benção de Javé e do seu Deus salvador receberá a justiça” (Sl 24,4-5). Para os semitas, o coração é a sede das opções profundas que marcam a vida inteira. Ser puro de coração é ter conduta única, em perfeita sintonia com o Reino. Mas Jesus nos alerta: “é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. Essas coisas é que tornam o homem impuro...” (Mt 15,19-20).
No Antigo Testamento, a pureza dependia de uma série de ritos mediante os quais as pessoas tinham acesso a Deus. Na nova Aliança, a pureza é sinônimo de opção pelo Reino de Deus (=optar por Jesus) e de respeito pela vida das pessoas. Espiritualizando esta bem-aventurança, serei felizes e puros de coração!
- Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (v. 9)
Quem trabalha para alcançar a paz entre os homens atua como Deus, porque Deus é o Deus da Paz (Rm 15,33; 16,20). A promoção da Paz, (do Shalom) é fruto misericórdia e da pureza de coração. Depois da ressurreição Jesus saudou os Discípulos: “a paz esteja com vocês” (Jo 20, 19.21.26). A paz que propõe o Evangelho é a dignidade da vida em todos os sentidos. Não se trata de uma paz meramente pessoal, egoísta... mas também a nível social. Parece até contraditório, mas “somos promotores da paz e do evangelho” e vivemos num clima de guerra, de violência, injustiça, etc... E a nossa sociedade atual estimula: "felizes os que não têm medo de lutar contra os outros, pois só assim podem ser pessoas de sucesso". O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra? Pensemos!!
- Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (v.10).
Temos aqui o eco da primeira bem-aventurança... “porque deles é o reino dos céus”. Quem são os perseguidos? São os Discípulos e Missionários de Jesus. E por que são perseguidos? Por causa da justiça. Em outras palavras são aqueles que “são ajustados” diante de Deus. Diz Jesus: “Quando perseguirem vocês numa cidade... / É por isso que eu envio a vocês profetas, sábios e doutores: a uns vocês matarão e crucificarão, a outros torturarão nas sinagogas, e os perseguirão de cidade em cidade” (Mt 10,23; 23,34). Assim permanece a idéia de que “o justo deve sofrer a causa da injustiça”. Contudo, o destino que aconteceu com Jesus (= a cruz) deverá acontecer também com os seus Discípulos.
- Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus (v. 11-12).
A última bem-aventurança revela as tensões e conflitos enfrentados pelas comunidades siro-palestinenses no meio das quais nasceu o Evangelho de Mateus. No tempo em que o evangelho foi escrito, essas comunidades passavam por crise de identidade, com perigo de abandono do projeto de Deus. Os conflitos vinham de fora: a sociedade estabelecida começou a difamar os cristãos, caluniando-os e perseguindo-os. Tornava-se difícil resistir diante das pressões e tribulações de toda espécie. O evangelho lhes lembra que ser discípulo de Jesus é ser como os profetas do Antigo Testamento: “Desse modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês” (v. 12b).
Frei João - Paróquia São Peregrino - Acre
Veremos a seguir o primeiro discurso e um comentário de cada bem-aventurança apresentada pelo nosso evangelista. É bom ter presente que a primeira bem-aventurança está em sintonia com a oitava, porque uma abre e a outra praticamente fecha o tema. As outras – de quatro a nona – são uma explicação destas duas.
- Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus (v.3).
Freqüentemente tentou-se atenuar a força dessa expressão, como se os pobres em espírito fossem pessoas “humildes”, independentemente de sua condição social. A palavra pobre recorda os ‘anawim’ do Antigo Testamento e da época de Jesus: são os que depositaram sua confiança em Deus enquanto última instância, porque a sociedade lhes negava justiça. “O pobre é a pessoa honrada, piedoso, espiritualizado, justo (praticante da justiça, “ajustado diante de Deus), aberto a Deus e por isso feliz”. O Reino é deles porque, vivendo assim, realizam o pedido de Jesus (cf. 4,17: “Convertam-se, porque o reino do céu está próximo). Mas, por outro lado, mundo diz: "felizes os que têm dinheiro e sabem usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança e bem-estar". Onde está a verdadeira felicidade? Quem é, realmente, feliz?
- Bem-aventurados ao aflitos, porque serão consolados (v.4).
Esta bem-aventurança precisa ser a partir do premio merecido: o consolo. O consolo é uma realidade que Jesus nos traz e que compreende a dor da pessoa que precisa ser consolada. Esta bem-aventurança esclarece a vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e a dor e quando Ele ressuscita fica mais evidente o sentido desta vitória. Neste sentido perceberemos que o Deus de Jesus Cristo é o Deus do Consolo (cf. Is 40, 1-5).
- Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra (v.5).
Não é fácil encontrar um adjetivo que justifique esta bem-aventurança. Porém, ela esta em sintonia com a primeira. Muitas vezes os mansos estão ligados com a realidade dos pobres, humildes. Eles têm a esperança da retribuição. Uma ressonância encontra com o Salmo 37, onde diz: “Não se irrite por causa dos maus, nem tenha inveja dos injustos. Ele são como erva: secam depressa, murcham logo como a relva. Confie em Javé e pratique o bem... Porque os maus vão ser excluídos, e os que esperam em Javé possuirão a terra... e não haverá mais injusto; os pobres vão possuir a terra... o injusto faz intrigas contra o justo, e contra ele range os dentes. (Salmo 37,1-3.9-12). A expressão “herdarão a terra ou possuirão a terra” poderia ser o prêmio do reino dos céus. Porém, este reino começa aqui nesta terra e tem um sentido de que o homem pode se esforçar por um mundo melhor. Não foi assim a vida de Jesus! Ele curou os enfermos, a dor... saciou a fome, a sede, pregou um Reino diferente na terra. E nós...?!?
- Bem aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (v. 6).
São necessidades sentidas e intensas e que ser inclusive de Deus. Diz o salmista:
> “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando verei a face de Deus?” (Sl 42,2-4); “Ó Deus, tu és o meu Deus, por ti madrugo. Minha alma tem sede de Ti, minha carne te deseja com ardor” (Sl 63, 2).
A fome significa na Bíblia a tendência e a lembrança ao Deus da vida. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem acredita em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Os homens acreditam que Deus fará justiça aos que são oprimidos pela injustiça. A situação de “fome e sede de justiça” clamam para que cessem a injustiça atual. A justiça corresponde ao Reinado de Deus sobre tudo e sobre todos. Por que a esperança de justiça se cumpre em Jesus Messias e Salvador na cruz. De fato “Javé é nossa justiça” (Jr 23,6).
- Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (v. 7).
Misericórdia é uma palavra composta por “miséria e coração”. É olhar para a miséria do outro, do próximo, de uma pessoa com o coração e não com a razão. Por isso que os “misericordiosos” têm uma atitude diferente frente a qualquer realidade. Jesus insiste na virtude da misericórdia: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13). Então aqueles que têm o espírito de Jesus misericordioso terão a mesma atitude de Deus que é amor, perdão, compassivo, compreensão, ajuda, a partilha, a solidariedade... Como recompensa serão felizes e alcançarão a misericórdia.
- Bem-aventurados os de puro coração, porque verão a Deus (v. 8).
Esta bem-aventurança se inspira no salmista, que diz: “aquele que tem mãos inocentes e coração puro,... esse receberá a benção de Javé e do seu Deus salvador receberá a justiça” (Sl 24,4-5). Para os semitas, o coração é a sede das opções profundas que marcam a vida inteira. Ser puro de coração é ter conduta única, em perfeita sintonia com o Reino. Mas Jesus nos alerta: “é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. Essas coisas é que tornam o homem impuro...” (Mt 15,19-20).
No Antigo Testamento, a pureza dependia de uma série de ritos mediante os quais as pessoas tinham acesso a Deus. Na nova Aliança, a pureza é sinônimo de opção pelo Reino de Deus (=optar por Jesus) e de respeito pela vida das pessoas. Espiritualizando esta bem-aventurança, serei felizes e puros de coração!
- Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (v. 9)
Quem trabalha para alcançar a paz entre os homens atua como Deus, porque Deus é o Deus da Paz (Rm 15,33; 16,20). A promoção da Paz, (do Shalom) é fruto misericórdia e da pureza de coração. Depois da ressurreição Jesus saudou os Discípulos: “a paz esteja com vocês” (Jo 20, 19.21.26). A paz que propõe o Evangelho é a dignidade da vida em todos os sentidos. Não se trata de uma paz meramente pessoal, egoísta... mas também a nível social. Parece até contraditório, mas “somos promotores da paz e do evangelho” e vivemos num clima de guerra, de violência, injustiça, etc... E a nossa sociedade atual estimula: "felizes os que não têm medo de lutar contra os outros, pois só assim podem ser pessoas de sucesso". O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra? Pensemos!!
- Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (v.10).
Temos aqui o eco da primeira bem-aventurança... “porque deles é o reino dos céus”. Quem são os perseguidos? São os Discípulos e Missionários de Jesus. E por que são perseguidos? Por causa da justiça. Em outras palavras são aqueles que “são ajustados” diante de Deus. Diz Jesus: “Quando perseguirem vocês numa cidade... / É por isso que eu envio a vocês profetas, sábios e doutores: a uns vocês matarão e crucificarão, a outros torturarão nas sinagogas, e os perseguirão de cidade em cidade” (Mt 10,23; 23,34). Assim permanece a idéia de que “o justo deve sofrer a causa da injustiça”. Contudo, o destino que aconteceu com Jesus (= a cruz) deverá acontecer também com os seus Discípulos.
- Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus (v. 11-12).
A última bem-aventurança revela as tensões e conflitos enfrentados pelas comunidades siro-palestinenses no meio das quais nasceu o Evangelho de Mateus. No tempo em que o evangelho foi escrito, essas comunidades passavam por crise de identidade, com perigo de abandono do projeto de Deus. Os conflitos vinham de fora: a sociedade estabelecida começou a difamar os cristãos, caluniando-os e perseguindo-os. Tornava-se difícil resistir diante das pressões e tribulações de toda espécie. O evangelho lhes lembra que ser discípulo de Jesus é ser como os profetas do Antigo Testamento: “Desse modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês” (v. 12b).
Frei João - Paróquia São Peregrino - Acre
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