Morte no trânsito:
risco sobre duas rodas na Capital
Apesar de algumas campanhas educativas e rigor na punição
financeira para infrações, os números da violência no trânsito ainda
impressionam e preocupam. Entre as dez maiores
cidades, Fortaleza é a segunda capital que possui a taxa mais elevada de mortes
por 100 mil habitantes, com 27,1, atrás apenas de Recife, com 34,7. Dentro
desse panorama, a situação dos motociclistas é mais grave. Os acidentes
envolvendo motocicletas disparam na mesma proporção que cresce a frota.
Segundo os dados do “Retrato da Segurança Viária no Brasil –
2014”, relatório da Falconi Consultores de Resultado e o Observatório Nacional
de Segurança Viária (ONSV), os motociclistas representam aproximadamente metade
das vítimas fatais em decorrência de acidentes de trânsito na região Nordeste.
Em 2012, 48,1% dos mortos estavam neste tipo de veículo. A
porcentagem de feridos em acidentes com motos é ainda maior, 62%. O índice de
mortes envolvendo ocupantes de automóveis também é alto, 26% das vítimas
estavam em carros. Em todo o Brasil, 45,7 mil pessoas morreram no trânsito em
2012, o que significa um óbito a cada 12 minutos.
O material foi elaborado a partir do cruzamento de dados de
fontes como a Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), da
Confederação Nacional do Transporte (CNT), do Datasus – Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde, do Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT),
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Óbitos
O levantamento conclui que os motociclistas são as
principais vítimas do trânsito no Brasil. De 2001 a 2012, o número de óbitos
entre este perfil de usuário aumentou 140, passando de 15% para 36%. Os
motociclistas são os usuários mais atingidos no Nordeste, Norte e Centro-Oeste,
representando, respectivamente, 48,1%, 39,1% e 36,4% dos óbitos.
Na análise do diretor técnico do ONSV, Paulo Guimarães, o
principal fator para esse cenário é o crescimento acelerado da frota de
motocicletas. Conforme ele, entre 2001 e 2012 a frota cresceu 335,77% no
Brasil. No mesmo período, o índice registrado no Nordeste foi de 511,16%. Já no
Ceará, o percentual aumentou 412%. “Em 2001, a frota de motocicleta no Estado
era de 204.95, já a de carro era de 442.548. Em 2012, a frota de motocicleta
contabilizava 1.048.571, enquanto a de a carro era de 1.001.634, um crescimento
de 126%, enquanto a de motocicletas aumentou 412%. Fica muito claro que o
aumento da frota segue interferindo no número de acidentes”, comparou.
Para Guimarães, o
resultado do Nordeste está diretamente ligado o desenvolvimento econômico da
região. Com a população mudando de classe social, mais veículos são adquiridos
e, consequentemente, mais deslocamentos são registrados. “Com uma situação
econômica melhor, houve um aumento significativo de deslocamentos diários. Sem
emprego, a pessoa passa mais tempo em casa. Com emprego, ela vai de casa para o
trabalho, sai para passear ou viajar”, analisou. Mais veículos no trânsito
somados a mais deslocamentos diários refletem nos índices de acidentes e
mortes.
Comportamento
O crescimento acelerado de motocicletas no trânsito não
acompanha o número de habilitações. Segundo as estatísticas do Departamento
Estadual de Trânsito (Detran-CE), em 2012, apenas 175.471 pessoas estavam com a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH), categoria A (exclusiva para conduzir
motocicleta).
De acordo com Paulo Guimarães, a anterior vulnerabilidade
social de um grupo que ascendeu para outra classe não o preparou devidamente
para o trânsito. A falta da CNH revela que não houve curso de legislação ou o
mínimo de aulas de direção defensiva. “Algumas pessoas cresceram em ambientes
mais vulneráveis, não são acostumadas a regras. Então, elas são inseridas no
trânsito sem essa percepção, algo que podemos identificar claramente no usuário
de motocicleta”, explicou.
Capital perigosa
Fortaleza é a segunda capital com maior número de óbitos 100
mil habitantes, conforme o mapeamento da ONSV. Isso a torna a segunda cidade
mais perigosa do país? Paulo Guimarães explica que para realizar essa
comparação é preciso reunir várias fontes estatísticas e fazer o cruzamento
dessas informações. “Para fazer essa análise é necessário levar em consideração
diversos indicadores como a qualidade do transporte ou das rodovias, por
exemplo. Veja, as capitais têm características de grandes centros, onde as
rodovias cortam o perímetro da cidade. A municipalização do trânsito trata da
área urbana, mas tem a interferência das rodovias na área urbana e no fator de
mortes. As vítimas do entorno dessa área são levadas para os grandes hospitais
de Fortaleza. Em caso de óbito, fica registrado o local de morte em Fortaleza.
Além disso, tem o crescimento populacional que não é proporcional ao número de
acidentes. Então não dá para olhar um índice e classificar uma cidade mais
perigosa do que a outra”, ponderou Guimarães.
Solução
O estudo, afirmou Guimarães, tem dois objetivos. Primeiro
reunir todos os dados de trânsito para apoiar gestores nas políticas públicas,
que buscam melhorar a segurança viária. “O segundo é mostrar a população,
traduzindo em números, o perigo que ela corre. Essa conscientização pode
melhorar o comportamento e também fazer com que a população cobre por
soluções”, argumentou o diretor técnico do ONSV.
Ainda de acordo com Guimarães, o relatório defende três
eixos principais, são eles: a centralização de estatísticas de trânsito do
País; criar uma agência que atue na coleta e organização de dados e na
coordenação de todos os órgãos ligados ao trânsito; e trabalhar fortemente na
educação no trânsito.
“Hoje, a educação no trânsito é muito deficiente. Ela não
deve apenas focar do condutor, mas na formação do cidadão, para que a população
tenha a concepção de risco e consiga identificar e reagir a esse risco. A gente
sonha que um dia as pessoas passem a acreditar nas leis de trânsito e a
usá-las, independentemente de ter fiscalização ou não. Essa consciência pode
salvar vidas”, comentou o diretor.
Mais números sobre o
trânsito
Paulo Guimarães avaliou que a baixa municipalização do
trânsito no Brasil é um dos gargalos na segurança viária. Segundo ele, no
Brasil, apenas 25% dos municípios são responsáveis pelo trânsito da cidade. Dos
184 municípios cearenses, apenas 57 são integrados ao Sistema Nacional de
Trânsito (SNT), ou seja, um pouco menos de 30%. “Se não tem fiscalização,
aumenta impunidade e tem consequência direta na insegurança do trânsito”,
apontou.
Ao longo dos anos, a medida que cresce a frota de
motocicletas aumenta as ocorrências envolvendo motociclistas Instituto Doutor
José Frota (IJF). Em 2011, foram registrados 7.985 acidentes. No ano seguinte,
foram 8.860. Já em 2013, o IJF contabilizou 9.102 acidentes com motociclistas.
Em alguns casos, a vítima se acidentou mais de uma vez.
Segundo dados da Seguradora Líder, responsável pelo seguro
DPVAT, cerca de 9,5 milhões de motociclistas estão circulando no Brasil sem a
proteção do seguro obrigatório, que garante ao cidadão o direito à indenização
em caso de acidentes que resultem em morte, invalidez ou despesas médicas.
(O ESTADO)
Nenhum comentário:
Postar um comentário