‘Waze da segurança’ estimula usuários a alertar sobre pessoas suspeitas
Uma pessoa em situação suspeita perambula pelos arredores de um condomínio privado. Passageiros de um carro parado parecem estudar os arredores de uma região comercial numa grande cidade. Uma moto com sujeitos mal encarados fica rodeando determinado bairro.
Para situações assim, uma consultoria de segurança gaúcha criou no ano passado o que poderia ser descrito como uma espécie de Waze do combate à criminalidade.
Para situações assim, uma consultoria de segurança gaúcha criou no ano passado o que poderia ser descrito como uma espécie de Waze do combate à criminalidade.
Chama-se Be On e segue a mesma lógica colaborativa do famoso aplicativo de trânsito, hoje item obrigatório para motoristas.
Basta baixar o aplicativo, cadastrar-se e atuar como uma espécie de agente informal de segurança. Ao presenciar uma situação que considere suspeita, o usuário dá um alerta para toda a rede.
Essa informação pode fazer com que os demais membros da comunidade evitem determinada área naquele momento. Policiais e forças de segurança que estejam conectados podem se dirigir ao local com mais presteza.
“Vivemos um mundo cada vez mais individualista, mas a segurança para funcionar tem de ser comunitária”, afirma Gustavo Caleffi, CEO da Be On e fundador de uma consultoria de segurança que concebeu o aplicativo.
“O cidadão sofre hoje o problema da segurança pública falida, em vários estados. Estamos entregando uma forma de ele se armar, com dados”, declara.
O aplicativo existe desde abril de 2018 e afirma ter cerca de 40 mil usuários em 420 cidades do Brasil. Possíveis ocorrência de crimes são o principal chamariz da ferramenta, mas também podem ser dados alertas em casos como acidentes de trânsito, urgências hospitalares ou crianças perdidas, por exemplo.
Segundo Caleffi, o serviço está disponível para todas as forças de segurança do país, mas poucas estariam propensas a formalizar algum tipo de acordo com o aplicativo, para não serem cobradas por alertas que não consigam atender. Preferem o uso informal das informações.
Ele diz que teve reuniões com o secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, general Guilherme Theophilo, e com representantes estaduais da área para discutir a plataforma.
O modelo de segurança colaborativa é inovador, mas também levanta uma série de questões legais e de respeito a direitos civis.
A mais óbvia delas é a possibilidade de se criar uma cultura de alertas despropositados, afetando sobretudo cidadãos pobres e negros, que estão apenas passando por um local sem a menor intenção de cometer um crime.
Caleffi diz que, para minimizar esse tipo de situação, o aplicativo tem um dispositivo de reconhecimento facial que borra o rosto da pessoa em questão, caso seja tirada e compartilhada uma foto.
“Ninguém é exposto. No máximo você vai expor uma vestimenta, mas não a face”, diz ele, que afirma ter tido reuniões sobre o aplicativo com representantes do Ministério Público e do Judiciário.
Outra questão é o uso dos dados. O Be On não cobra nada de quem usa o aplicativo, mas a partir de 2020 venderá serviços para quem queira, a partir dos alertas emitidos, traçar um mapa da criminalidade de sua região.
Os pacotes mensais variam de R$ 9,90 para uma unidade (um restaurante, por exemplo) a R$ 299, 90 para 50 unidades (como um condomínio, hipoteticamente).
A partir de agosto do ano que vem, no entanto, entra em vigor a nova Lei Geral de Proteção de Dados, que veda o uso comercial, sem permissão, de dados pessoais.
O proprietário da empresa nega que sua estratégia comercial viole a legislação.
“As únicas informações que pegamos do usuário são seu nome e telefone. Não estamos vendendo nenhum dado pessoal, apenas as estatísticas de alerta”, afirma.
Por fim, não seria esse um sistema que agirá à margem do Estado, sem estar submetido a regras de controle da atividade policial, por exemplo?
Caleffi afirma que a ideia não é substituir a polícia ou o Estado, mas ser um mecanismo complementar na área da segurança.
Dá como evidência disso sua própria posição pessoal, de defesa da polícia e de críticas a concepções progressistas de segurança.
Em um artigo no site da sua empresa com o título “Por que estão matando nossos heróis?”, ele afirma, por exemplo: “Enquanto tivermos pessoas tentando defender os direitos dos delinquentes com mais afinco do que os de pessoas que seguem as leis (normalmente vítimas) e fazem com que as mesmas sejam cumpridas (nossos heroicos policiais), sempre teremos essa distorção criada em nosso país”.
Para Caleffi, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) trouxe uma nova preocupação com a questão da segurança.
“Temos uma mudança de governo e uma redução dos índices de criminalidade nos últimos meses, o que demonstra que existe uma preocupação maior hoje com a segurança pública”, afirma.
“O Brasil chegou a um nível insuportável de criminalidade. O brasileiro não estava conseguindo sair de casa para trabalhar”, completa, justificando o que o fez criar o aplicativo.
Fonte: Folhapress
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