Por Ricardo Alcântara*
Chama o ladrão, Roberto!
Maria Luíza, Ciro Gomes, Juraci Magalhães, Antônio Cambraia e Luizianne Lins. Três homens, duas mulheres e três partidos. 23 anos de exercício de poder como prefeitos de Fortaleza. Nenhum registro de incidente grave em segurança pessoal.
Deles, pergunte aos vivos ainda: não há nenhum fato precedente que justifique o desejo do atual prefeito, Roberto Cláudio, de substituir por policiais militares os membros de segurança da Guarda Municipal que zelam pela sua segurança.
Fortaleza não é uma Faixa de Gaza. Não há grupos armados em desafio à ordem constituída, nem registros de saques, motins ou atos coletivos contra o patrimônio público. O prefeito sequer sofreu ameaça anônima. Então, por que tudo isso?
É inoportuno: governo iniciante, as primeiras mensagens de sua comunicação pública deveriam emitir indicativos de que tem seu coração e sua mente focados mais nas necessidades (muitas) de seu povo e menos em suas próprias.
É dissonante: O surto paranoico atira contra a imagem positiva que o prefeito oferece à percepção pública por sua constante expressão de simpatia. Simpatia transmite confiança. Com esse excesso de reserva, emite sinais de insegurança.
É indecoroso: sem haver fato que justifique, beira ao escárnio solicitar para a guarda pessoal de seus quadros de governo dezenas de policiais, retirando-os das ruas quando a periferia da cidade vê suas vielas encharcadas de sangue.
É inócuo: má companhia, a polícia do seu estado encontra-se rendida à própria impotência diante do crescimento alarmante dos incidentes violentos com vítimas fatais que nos garantem agora a posição de 13ª cidade mais perigosa do mundo.
É inviável: imagine o prefeito se todos os outros cento e tantos chefes municipais fizerem o mesmo. Quantos pelotões policiais seriam desviados da finalidade de suas funções para garantir a integridade de pessoas que tem meios próprios?
Pelo visto, o prefeito assimilou a recorrente insensatez do seu tutor no trato entre o público e o privado. Mas com essa polícia aí, se ele quer mesmo sentir-se mais seguro, aceite como conselho a fina ironia do menestrel carioca: “chame o ladrão”.
Tudo em paz, sem juízes nem jornais.
O repórter (O Povo, 17.03) perguntou ao secretário de Segurança por que os altos investimentos em sua pasta não se refletem nas estatísticas de criminalidade. Francisco Bezerra culpou a justiça que, segundo ele, devolve os criminosos às ruas.
A seguir, minimizou o dano social das ocorrências: segundo ele, a maioria dos assassinatos ocorre em conflitos entre traficantes. A omissão policial seria, então, um benefício, pelo que pude depreender da sua reflexão “pé de boi”.
Ao fim, denunciou vagamente uma conspiração de “empresas que lucram com a propagação da insegurança”. Depois de muito estudar a frase, conclui que se trata de uma mal assumida crítica aos meios de comunicação. Prudência ou covardia?
Do coronel, nenhuma frase foi reservada a uma avaliação crítica sobre a gestão operacional do aparelho de inteligência e repressão policial, deixando ao cidadão a trágica conclusão: o governo faz o máximo, mas a guerra contra crime está perdida.
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Mensagens para pautalivre@ricardoalcantara.com.br
*Ricardo Alcântara é escritor e publicitário
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