terça-feira, 29 de outubro de 2013

Arapongagem: EUA se complicam cada vez mais após notícias de espionagem na Europa


            As relações entre os EUA e o bloco europeu estão cada vez mais complicadas, na medida em que novas denúncias de espionagem aos países aliados pipocam na imprensa mundial. Nesta segunda-feira, o governo norte-americano foi acusado de espionar mais de 60 milhões de chamadas telefônicas na Espanha em apenas um mês, entre o fim do ano passado e o início de 2013, segundo documentos citados na edição matutina do jornal espanhol El Mundo.
            O diário explica que a confirmação da espionagem feita pela National Security Agency (NSA) está no documento Spain Last 30 Days (Espanha – Últimos 30 Dias), que detalha o fluxo de comunicações interceptadas entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro de 2013. Segundo o jornal, ficaram registrados os telefones conectados e a duração das chamadas, o que é um delito do Código Penal.
            Segundo o El Mundo, trata-se de documento obtido mediante acordo com o jornalista Glenn Greenwald, que tem divulgado o que identifica como “documentos Snowden”. Edward Snowden é um ex-analista da inteligência norte-americana que tornou públicos detalhes de vários programas confidenciais usados pelos Estados Unidos para a vigilância eletrônica de governos em todo o mundo. Entre os alvos da espionagem estão 35 líderes mundiais, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande.
            Na análise, o El Mundo informa que 11 de dezembro foi o dia em que mais chamadas foram interceptadas. Essa espionagem, explica o jornal, não registra o conteúdo das chamadas, mas sim o número de série dos aparelhos usados, o local onde ficou registrada a comunicação, o número de telefone e dos cartões SIM usados, assim como a duração das chamadas. As operações incluem invasões em informações de caráter pessoal por meio do navegador de internet, do correio eletrônico e das redes sociais, como o Facebook ou o Twittter.
            A revelação do jornal ocorre no dia em que o embaixador dos Estados Unidos em Madri irá ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para dar explicações sobre a questão da espionagem. Segundo a imprensa, o embaixador James Custos prestará esclarecimentos ao secretário de Estado para a União Europeia, Iñigo Méndez de Vigo, dada a ausência do chefe da diplomacia, José Manuel García-Margallo. Fontes diplomáticas disseram ao jornal que a reunião será na sede do ministério, no Palácio de Santa Cruz, no centro de Madri.
            Seguindo instruções diretas do presidente do Governo, Mariano Rajoy, o Ministério de Assuntos Exteriores convocou sexta-feira o embaixador, que se encontrava em Oviedo, na cerimônia de entrega do Prêmio Príncipe de Astúrias. Nesta manhã, porém, José Manuel García-Margallo estava em viagem à Polônia, enquanto o secretário de Estado de Assuntos Exteriores, Gonzalo de Benito, também está fora da Espanha, em uma visita aos países do Golfo Pérsico.
            De Benito manteve, em julho, conversas em Washington com diversos responsáveis pela administração norte-americana, a quem pediu explicações sobre a denúncia de espionagem. García Margallo disse, na sexta-feira passada, que, se for confirmada, uma espionagem massiva aos aliados dos Estados Unidos seria “inadmissível” porque a “proteção da privacidade” é uma “linha vermelha” que não se pode cruzar, pelo menos para a Espanha.
            O governo espanhol disse que, até o momento, não tem conhecimento oficial de espionagem a seus cidadãos por parte da agência norte-americana, que foi acusada de acessar dezenas de milhares de telefonemas na França e de monitorar as comunicações da presidente Dilma Rousseff e da chanceler alemã, Angela Merkel, entre outros casos de espionagem.
            Na sexta-feira a Espanha resistiu aos pedidos da Alemanha por um acordo de “não espionagem” entre os 28 países-membros da União Europeia, similar ao acordo negociado entre Berlim e Paris. O premiê espanhol, Mariano Rajoy, disse que o país ainda buscava mais informações.
            O El Mundo publicou, junto com a matéria, a reprodução de um gráfico que, segundo o jornal, era um documento da NSA mostrando que a agência espionou 60,5 milhões de telefonemas na Espanha entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro deste ano. O jornal disse que chegou a um acordo com o jornalista Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro e recebeu os vazamentos de Snowden e publicou as denúncias sobre outros países, incluindo o Brasil, para ter acesso aos documentos envolvendo a Espanha.
Reunião tensa
            Diante das novas revelações, o embaixador dos Estados Unidos em Madrid, James Custos, comprometeu-se nesta manhã, em reunião com o secretário de Estado espanhol para a União Europeia, Iñigo Méndez de Vigo, a esclarecer quaisquer dúvidas sobre a suporta espionagem norte-americana à Espanha. Essa foi a posição expressa pelo embaixador, que foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros depois das denúncias de interceptação de comunicações no país na última sexta-feira.
            Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol pediu que as autoridades norte-americanas facilitem toda a informação necessária sobre as supostas escutas no país. De acordo com o documento, o governo falou ao embaixador sobre a importância de se preservar o clima de confiança que regem as relações bilaterais e de se conhecer o alcance de práticas que, se verdadeiras, são impróprias e inaceitáveis entre parceiros e países amigos. A Espanha foi mais um país europeu a fazer tais declarações.             A França e a Alemanha, na semana passada, também informaram ser inaceitáveis tais práticas.
            “Os programas aos que se faz referência (o governo espanhol), em algumas das informações, são programas de segurança nacional que têm desempenhado um papel fundamental na proteção dos cidadãos dos Estados Unidos. Também têm papel primordial na coordenação com os nossos aliados e também na proteção dos seus interesses”, explicou Custos, em nota da embaixada norte-americana na Espanha, ao informar que os Estados Unidos manterão as “consultas bilaterais em curso sobre o recolhimento de informação das agências governamentais dos Estados Unidos”.
            “Em última instância, os Estados Unidos têm que equilibrar o importante papel que esses programas desempenham na proteção da nossa segurança nacional e na proteção e segurança dos nossos aliados, com os problemas de privacidade legitimamente referidos”, disse o embaixador.
            França e a Alemanha, por meio do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, também comunicaram que vão buscar um entendimento com os Estados Unidos sobre os serviços de espionagem até o final do ano. A iniciativa deve ter a adesão de outros países da União Europeia.
            O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, disse que o país vai participar das conversas. Mariano Rajoy, por outro lado, informou que a Espanha não vai integrar esses esforços por entender que questões relacionadas à inteligência são de responsabilidade dos governos nacionais e não da União Europeia. (Correio do Brasil)

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