para o Acerto de Contas
O Governo de Pernambuco divulgou há pouco um apelo para que a combinação álcool e direção não faça parte da folia nesse carnaval. Traz dados precisos e estatísticas que mostram que a associação desses dois elementos produziram cerca de 30% dos acidentes nos últimos três anos, com quase duas mil mortes no ano passado. Boa iniciativa. Vale relembrar a importância de se cumprir a lei nesse período que costuma ter, após a alegria da festa, a ressaca das tristezas. O texto mostra o trabalho dos que comandam a Lei Seca em Pernambuco. Somente neste mês, cerca de 770 veículos já foram abordados e 768 testes de alcoolemia realizados. Ao todo, prossegue, três motoristas foram autuados em flagrante por apresentarem consumo de álcool acima do limite estabelecido pela lei. E quase 50 motoristas foram multados, por diversos tipos de infração.
Por uma ironia do acaso, entre os 46 motoristas flagrados deve constar o nome atual secretário de Transportes e ex-líder do PT, Isaltino Nascimento, que foi pilhado no volante depois de beber com a família no Pátio de São Pedro e no aniversário do famoso bloco Ceroulas de Olinda, do qual é diretor há vários anos. Ao acordar no dia seguinte, ainda de ressaca, o secretário não só omitiu o fato do governador do Estado, e só por isso deveria ter sido exonerado (mentira de servidor público em país sério é crime grave), como colocou Eduardo Campos numa saia justa, tendo que defender o indefensável. Preferiu pedir desculpas numa nota pífia e sem graça, e não se sabe até hoje se pagou a multa feita pelo atento guarda de trânsito. Poderia ter tido a postura correta de procurar o Palácio, logo na segunda pela manhã, e relatar o episódio, mas resolveu ignorar o fato até se dar conta do vexame quando foi descoberto pela mídia local. Tipo, mais ou menos, os que tentaram fazer os sete espertalhões ministros do Governo Dilma, todos pilhados após travessuras com o dinheiro público ou enrolados em tenebrosas transações. Esconder um fato grave da imprensa nem sempre é o melhor dos caminhos.
Mas o poder pode tudo ou quase tudo e quando descobriu que não podia abafar o caso, já era muito tarde. O “ escândalo” passeou nas redes sociais e principais jornais do Brasil, expondo um modelo de ética que, se for adotado no resto do Brasil, se permite tudo. Ficar bêbado, a pé, em pleno calçadão da Avenida Boa Viagem, tirando “graça com as turistas, pode sim, para qualquer secretário de Estado. Desde que, claro, fora do horário de trabalho. A emenda toada pelo Palácio das Princesas terminou pior que o poema. “Estou abatido e não quero falar”, disse a este repórter o próprio secretário dois dias depois, ao atender o meu telefonema. Não queria falar com a imprensa e com ninguém sobre o fato, direito que tem apenas como cidadão. Como homem público, no entanto, deveria ter mostrado a cara, e como não o fez, vai ter que sair de fantasia ou se exilar numa praia nos festejos de Momo. Se arriscar a andar na Bom Jesus, vai levar uma vaia. Não recomendo, pois, Sr. Secretário. Nem mesmo escondido dentro de um uma fantasia de boneco de Olinda. Ou ainda do próprio Fantasma, o primeiro super-herói mascarado criado em 1936 pelo Lee Fallk. Quem não se lembra?
Prudente fosse, o secretario ainda teria livrado da chacota nacional, e por certo não passaria por outro constrangimento. Descobriu-se que o carro que ele passeia, uma bonita e potente Hillux Preta, não pertence ao deputado, e sim a uma locadora que presta serviços ao Governo de Pernambuco e à Assembleia Legislativa. E que o petista paga – quase R$ 12 mil reais – do próprio bolso (sic) embora tenha direito a carro oficial por ser secretario de Estado. História esquisita, né, não? Como esquisito também soou o presidente da Assembleia, Guilherme Uchoa, quem sabe futuro governador, se sair com essa sobre o fato: “Eu bebo sim, mas tem deputado que faz pior”.
Não por isso, a propaganda do Governo do Estado parece ter se inspirado no próprio Isaltino Nascimento. Como num apelo em que se juntam nós, os contribuintes e cidadãos comuns, e eles, os diferenciados e intocáveis. Leiam outro pequeno trecho. “Você já sabe que álcool e direção não combinam? Sabe também que muitos acidentes acontecem e vidas são perdidas por causa dessa mistura fatal. Fique atento, não misture álcool e direção. O Governo de Pernambuco está fazendo sua parte!”, diz a nota que parece sob medida para o figurino e a fantasia do secretário que continua como moleque travesso a fugir pela rua, brincando de esconde esconde. Mas que continua, como gente grande, a administrar contratos de bilhões com as grandes empreiteiras do Brasil que estão tocando as obras no Estado.
Não beba nesse carnaval, Sr. Secretário. E se puder, guarde o carro da locadora misteriosa em casa. O Governador pode não ter a paciência de lhe passar outro “esporro”, esquecer as conveniências eleitorais e fazê-lo retornar à Assembleia. Aquela mesma casa que dizem que é do povo. Como do povo é o carnaval.
Fonte: Acerto de Contas
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