quarta-feira, 3 de julho de 2013

A solução da crise que levou à greve dos rodoviários do Grande Recife passa por mudanças na direção do sindicato



Diário de Pernambuco


Publicação: 03/07/2013 03:00

Líder dos dissidentes reuniu colegas após julgamento (PAULO PAIVA/DP/D.A PRESS)
Líder dos dissidentes reuniu colegas após julgamento
A divergência entre o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Pernambuco e a Oposição Rodoviários de Verdade, ligada à Conlutas, é o pano de fundo das paralisações ocorridas nos últimos dois dias e em 14 de junho. A possibilidade de desobediência à determinação da Justiça, deixada em suspense pelo grupo dissidente em reunião na frente da sede do TRT6 após o julgamento, pode voltar a prejudicar a população e deixar para o sindicato a responsabilidade de pagar a multa diária de R$ 100 mil estipulada pelo tribunal. 

A briga entre os grupos já vem sendo exposta há pelo menos um ano. Nos últimos dois dias, os trabalhadores comandados pela Oposição mostraram insatisfação com a gestão quase vitalícia do presidente do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, Patrício Magalhães, que está no cargo há 33 anos. Aos gritos de “Fora, Patrício”, os motoristas, cobradores e fiscais descontentes diziam não se importar com a penalidade estabelecida pela Justiça a ser paga pelo sindicato caso a paralisação continue. “A decisão foi vergonhosa. A categoria está inconformada com o que foi determinado pelos desembargadores”, ressaltou um dos coordenadores da dissidência, Aldo Lima.   

Apenas dez minutos separaram o julgamento da reunião dos oposicionistas em frente ao tribunal. Durante o ato, eles deram sinais de que vão se rebelar contra a determinação da Justiça. No entanto, Aldo Lima preferiu não confirmar oficialmente a mobilização. “Esperem para ver amanhã (hoje). A categoria vai decidir se para ou não. Isso só poderá ser observado na hora”, afirmou. No momento em que o líder dava a declaração, muitos motoristas telefonavam para colegas pedindo que eles parassem os coletivos hoje, principalmente nos terminais.

TRT decide pelo fim da greve

Oposição a sindicato dos rodoviários pode manter a paralisação, que a partir de hoje é considerada ilegal



Motoristas e cobradores se reuniram na Avenida Guararapes. Nos terminais, havia menos ônibus operando (ROBERTO RAMOS/DP/D.A PRESS)
Motoristas e cobradores se reuniram na Avenida Guararapes. Nos terminais, havia menos ônibus operando
Por unanimidade, o pleno do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT6) julgou ontem abusiva a greve dos rodoviários realizada nos últimos dois dias, determinando o fim da paralisação a partir da zero hora de hoje. Por 11 votos a 3, os magistrados aprovaram o reajuste de 7% para motoristas, cobradores e fiscais de ônibus. Apesar da decisão do TRT6, entretanto, uma parte da categoria, comandada pela dissidência do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Oposição de Verdade), optou pela manutenção da greve. A cidade pode amanhecer outra vez com apenas parte dos coletivos circulando.

A partir de hoje, a greve é considerada ilegal. Caso a categoria mantenha a paralisação, o sindicato será multado em R$ 100 mil por dia. Por não cumprir a determinação judicial de colocar nas ruas, nos últimos dois dias, 80% da frota nos horários de pico e 50% nos outros horários, o sindicato também foi multado em R$ 200 mil. A quantia deverá ser paga ao Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). A mobilização do dia 14 de junho também foi considerada irregular. O protesto, que foi realizado em meio às negociações da classe com os patrões, não implicou em penalidade. 

O presidente do TRT6, Ivanildo Andrade, disse ontem que esperava a volta dos profissionais ao trabalho hoje. “A categoria ainda pode recorrer ao Tribunal Superior do Trabalho (TST)”, pontuou. A classe dos rodoviários é formada por cerca de 15 mil integrantes, sendo aproximadamente 6,5 mil motoristas, 6,5 mil cobradores e mil fiscais ou encarregados.

Após o julgamento, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Pernambuco, Patrício Magalhães, convocou a categoria para assembleia que será realizada às 10h de hoje. “Vamos repassar o que a Justiça decidiu e avaliar os rumos do movimento. Decisão judicial deve ser cumprida”, antecipou. O presidente do Sindicato das Empresas, Fernando Bandeira, destacou que, no que depender da Urbana-PE, todos os 3 mil ônibus que operam no Grande Recife estarão nas ruas. “Não vamos questionar a decisão do tribunal”, ressaltou. 

Reajuste
A maioria dos magistrados seguiu o voto da relatora do processo, Daisy Anderson Tenório, sobre o reajuste salarial de 7% aprovado para os rodoviários. Os profissionais queriam aumento de 33%, enquanto o sindicato das empresas oferecia 3%. O piso salarial dos motoristas passou a ser de R$ 1.605, o dos fiscais ficou em R$ 1.037 e o dos cobradores em R$ 738. O TRT6 ainda decidiu que as empresas devem pagar 70% nas duas primeiras horas extras trabalhadas pelos rodoviários e 100% a partir da terceira, que só poderá ser feita por motivo de força maior. Os magistrados votaram o reajuste do vale refeição. Por 12 votos a dois, o ticket alimentação recebeu reajuste de 7%, passando de R$ 160 para R$ 171,20.

Foram negados os pedidos da categoria de participação nos lucros das empresas e de piso salarial diferenciado para motoristas socorristas e condutores de ônibus articulados, além do pagamento de cestas básicas durante as férias.

Saiba mais

As reivindicações e as decisões da Justiça

  • Pedido da categoria: 33% de reajuste salarial
  • Proposta das empresas: 3% de reajuste salarial
  • Decisão do TRT6: 7% de reajuste salarial
  • Pedido da categoria: R$ 350 para o vale alimentação
  • Proposta das empresas: R$ 165 para o vale alimentação
  • Decisão da Justiça: R$ 171,20 para o vale alimentação
  • Proposta da categoria: pagamento de 100% das horas extras
  • Decisão da Justiça: pagamento de 70% das duas primeiras horas extras e 100% a partir da terceira hora extra trabalhada
Salários
  • Motorista: passou de R$ 1,5 mil para R$ 1.605
  • Fiscais: passou de R$ 970 para R$ 1.037
  • Cobradores: passou de R$ 690 para R$ 738
O sistema de transporte da RMR
  • 2,1 milhões de usuários
  • 14 municípios
  • 3 mil ônibus operando no Grande Recife
  • 385 linhas
  • 18 empresas
  • 26 mil viagens são realizadas diariamente
  • 5,6 mil paradas de ônibus
  • 17 terminais integrados em funcionamento
  • 81 miniterminais
Fonte: MPT, Sindicato dos Rodoviários, TRT6, Urbana-PE, Oposições

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