quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Quando uma imagem vale mais do que mil palavras



Por Noelia Brito, advogada e procuradora do Recife
Muitos que animam suas baladas com as músicas de Chico Science, pelo país a fora, talvez não saibam, mas o músico pernambucano, que é louvado por levar a música de nosso Estado para os quatro cantos do mundo e pelo sincretismo entre os tambores do Maracatu e o eletrônico da guitarra, fez muito mais que isso.
Chico levou também, em sua poesia, o universo do homem-caranguejo que pescou da leitura de outro grande pernambucano, o médico Josué de Castro, autor de “Homens e Caranguejos, mas também do clássico “Geografia da Fome”.

Não surpreende que o tema “fome” seja recorrente entre autores brasileiros.  Rodolfo Teófilo, em 1894, escreveu impressionante relato, uma referência sobre o assunto. Obra maior, intitulada "A Fome" e ao lado de outra cearense, Raquel de Queiroz e de José Américo de Almeida e Euclides da Cunha recebeu a dedicatória que Josué de Castro fez de sua obra maior, “Geografia da Fome”.

E por que lembrar dessas obras que ora tratam da fome com olhar literário, ora com visão sociológica e justamente nesse momento em que o governo federal, o governo do PT comemora 10 anos de seu principal programa social, o Bolsa Família? Justamente quando esse programa comemora ter tirado milhões debaixo da linha da pobreza, ou seja, da linha da fome?

E por que também lembrar desses livros, um deles, inclusive, escrito ainda no século XIX, se o governador de Pernambuco, um governador que se diz socialista, sai em campanha Brasil e mundo a fora de braços dados com uma ex-seringueira a alardear ser o fiel depositário de uma Nova Política capaz de trazer dias melhores para todo o povo brasileiro, como as que trouxe para o povo pernambucano, com a implantação de um modelo, o seu modelo de governar, que une desenvolvimentismo com sustentabilidade, tudo junto e misturado num balaio só, podendo, portanto, fazer mais e melhor que seus parceiros de até ontem, os petistas dos 10 anos de Bolsa-Família e do Minha Casa, Minha Vida?

Pois bem. Uma matéria de capa do Jornal do Commercio, publicada no último domingo e que já ganhou não só as primeiras páginas dos jornais nacionais, mas até as internacionais, coloca em cheque toda a propaganda governamental, seja do lulo-dilmo-petismo, seja da chamada “nova política”, do eduardismo-marineiro.

As imagens registradas por Diego Nigro, na reportagem de Wagner Sarmento e Marina Barbosa comprovam que as políticas públicas praticadas pelos governos, em todos os níveis são um fracasso de matar a todos nós de vergonha. Será que o homem caranguejo de Josué de Castro de outrora hoje nada mais é que o  menino guabiru que mergulha no Canal do Arruda para tirar algum proveito da imundície que a cidade despreza?

Ouvida pela Folha de São Paulo, a prefeitura do Recife se limitou a responder que antes era pior. Isso justifica sua inoperância? Mas pior em quê? Pode haver coisa ainda pior do que uma criança mergulhada em excrementos? Parece que para a prefeitura do Recife na gestão Geraldo Julio sim. É possível justificar tamanho descaso com o ser humano? Com crianças? É inconcebível que em plena era da revolta dos beagles e dos escândalos das ideias digitais, sem falar dos mensalões de todas as colorações, sejam petistas, tucanos ou democratas, onde o desvio do dinheiro público se dá em obras faraônicas e bilionárias por transposições que não chegam a lugar nenhum, propinodutos transportados em vagões de metrôs e cisternas que derretem no sol quente do sertão, ainda tenhamos que nos deparar com esse tipo de genocídio contra nossas crianças.

De que tipo de material é feito o político brasileiro, afinal? Talvez alguns testes no Instituro Royal nos revelem. Parece que ao contrário de nós, cidadãos comuns, a politicalha até se alimenta, como vampiros, da pobreza e da indigência, para venderem seus projetos, aprovarem suas emendas orçamentárias e desviarem mais e mais recursos públicos.

Só escutamos números que impressionam. Os valores são sempre estratosféricos. Os orçamentos são de arregalar os olhos. A prefeitura do Recife, mais de R$ 3,1 bilhões. O Estado de Pernambuco, R$ 33,5 bilhões. O da União, R$ 2,2 trilhões e no Recife ainda temos crianças mergulhando e vivendo no e do lixo.

O nome disso é inversão de valores, de prioridades. Quando a prioridade é obra, empreiteira e não o social o que se vê é isso. Por que os recursos para pagamento de empreiteiras são prontamente liberados, mas os recursos para os projetos relacionados com as usinas de reciclagens, por exemplo, ficam emperrados? Essa informação também partiu da própria prefeitura do Recife, para justificar o porquê das crianças mergulhadas da lama pútrida do Canal do Arruda catando lixo. É evidente que tais atrasos não justificam o injustificável, pois cabe ao gestor buscar alternativas gerenciais para uma situação de desumanidade dessa natureza.

Por outro lado, a situação de imundície, de poluição dos canais e de nossos rios, um dos quais, o Capibaribe, objeto, inclusive, de um projeto de navegabilidade multimilionário, destoa, totalmente, da propalada política de sustentabilidade que tem sido alardeada pelo governo Eduardo Campos como implantada a partir do ingresso do marineiro Sergio Xavier em seu governo.

As imagens põem em cheque, ainda, a política de resíduos sólidos da prefeitura do Recife, mas não só, de toda a Região Metropolitana e os contratos milionários com as empresas responsáveis por executar tal política por intermédio de contratos todos questionados, inclusive judicialmente e pelo Tribunal de Contas, mas para os quais até hoje não se viu solução.

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, pois essa imagem sozinha expôs mais do que mil fraturas, não continuemos virando o rosto pra elas. (Blog de Jamildo)

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