sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pesquisa, prá quê te quero?

Ricardo Alcântara*                                     

Depois de estabelecido o impasse, quando o candidato preferido de Luizianne Lins para sucedê-la declinou do convite, o partido pediu tempo, fazendo circular a versão de que realizaria “pesquisas” para decidir.
 Pense uma bobagem. Se o partido tivesse estabelecido uma pesquisa de opinião como critério de escolha, a atual prefeita nunca teria tomado assento no Palácio do Bispo. Quem sabe faz a hora...ora!
 Não direi uma novidade para os tuxauas petistas: na fase atual do processo, pesquisas na modalidade “quantitativa” em geral oferecem indicativos precários para a dimensão do problema que se pretende resolver.
 Conseguem, quando muito, definir o potencial dos prováveis candidatos somente para o início da disputa. São indicações motivadas basicamente pelo recall (grau de conhecimento) e reação geral à imagem consolidada.
 No limite, ainda é possível avançar um pouco mais, antecipando para o eleitor informações adicionais que esclareçam o contexto político da candidatura. Coloca-se o problema em maior perspectiva.
 Explico. Isoladamente, o nome de um candidato obterá um índice. Se a ele – Acrísio Sena, por exemplo – for acrescentado que “apoia Luizianne Lins”, se obterá outro índice. A preço de hoje, talvez piore um pouco.
 Mas, se após a informação, lhe for dito ainda que o candidato “tem o apoio do presidente Lula”, será outro, o resultado – bem melhor, certamente. E se for informado de que “também conta com o apoio de Cid Gomes”, como reagirá?
 Para o arcebispado petista, nada disso é novidade. Eles sabem que em meio a um quadro tão indefinido, pesquisas de opinião são ferramentas válidas, mas precisam ser colhidas com experimentadas reservas.
 Fontes bem informadas asseguram que, entre os petistas, o deputado federal Artur Bruno está melhor posicionado que os demais em consultas recentes. Acredito. Mas não considero este o melhor indicativo para apoiá-lo.
 Se tiverem de indicá-lo – e tomo também ele aqui apenas como exemplo – certamente o farão por outras razões, relativas a atributos consolidados de sua trajetória política, características pessoais e potencial agregador.
 O mesmo cálculo valeria para os demais. Nenhum alcança índice de popularidade para fazer deste um aspecto determinante de escolha. Se fosse por aí, o nome para a aliança seria Inácio Arruda. Sem chance.
 Um “ficha limpa” com boa história para contar, capaz de agregar forças e obter bom desempenho público, e, ainda, que possa convencer a sociedade de que terá autonomia para corrigir os rumos aonde for necessário: eis o cara.
 Desconfio de que o perfil acima defina melhor as expectativas do principal aliado, o governador Cid Gomes, do que a vontade pessoal da prefeita – no último aspecto, sobretudo. E, hoje, todo o impasse se resume a isso.
 Para definir seu candidato e agregar as forças políticas necessárias, o PT não precisa tanto de pesquisas. Precisa definir um perfil e perceber, entre seus filiados, em qual deles cairá melhor o corte.
 Faz assim quem quer vencer, mas sabe que pode perder. O nome disso? Tem gente que torce o nariz, mas eu vou dizer: Marketing. Se quiserem, os mais recatados podem chamar também de “estratégia eleitoral”. Dá no mesmo.
Eleição só termina quando acaba
Está em curso a articulação de uma federação de forças partidárias que, separadas, apresentam um padrão modesto de capilaridade social, mas que, unidas, certamente influirão no resultado eleitoral.
Com o bom tempo de televisão que a (até aqui apenas provável) aliança pode lhe oferecer, um candidato conhecido e de bom perfil como, por exemplo, Heitor Férrer, não entraria na disputa como figurante.
Há mais apupos de torcida organizada do que bom senso nos comentários de quem despreza o potencial da frente. É sempre bom lembrar que uma parcela do eleitorado de Fortaleza não gosta de prato feito.

*Ricardo Alcântara é escritor e publicitário

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