Quando chegamos aqui só tinha terra, lixo e muitos marginais”. Assim, a vendedora Margarida Almeida narra a antiga aparência do seu atual local de trabalho. Situado na rua 24 de Maio, o camelódromo conhecido como “Esqueleto” foi ocupado há dois anos e já conta com aproximadamente 1.400 vendedores. O espaço, hoje, acumula irregularidades quanto a sua ocupação e exibe benfeitorias, protagonizadas por quem se acha “dono” do lugar.
Sem autorização do poder público, comerciantes utilizam e modificam o prédio semi-estruturado, evidenciando os conflitos de direitos. Se há dois anos, quando do impasse sobre a retirada dos ambulantes do Beco da Poeira, o local estava ocioso e acumulava sujeira, hoje, quem transita pelo Centro de Fortaleza, vê outra realidade.
Boxes de 1,6m X 1m armazenam diversos produtos, em uma estrutura que já dispõe de cobertura, piso e até banheiros. Roupas, calçados, bolsas, equipamentos eletrônicos e de informática preenchem o grande camelódromo, que dia após dia estrutura-se “silenciosamente” às margens da lei.
PROBLEMA ANTIGO
Apesar da ocupação da área ter ocorrido em 2010, a questão é antiga. Dona Margarida, que acompanha o processo desde o ínicio, conta que muitos vendedores são remanescentes do Beco da Poeira. Em 2001, conforme a ambulante, ao saberem que seriam remanejados do antigo camelódromo, vendedores pagaram taxas à Associação Profissional do Comércio de Vendedores Ambulantes e Trabalhadores Autônomos do Ceará (Aprovace), que responsabilizou-se por estruturar o “Esqueleto” e torná-lo um espaço alternativo para continuidade das vendas.
A desocupação do Beco da Poeira, devido à necessidade da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) em utilizá-lo para a construção de uma Estação do Metrô, marca o início dos conflitos. O Município, na época, cedeu o terreno ao Governo do Estado e o dinheiro da negociação foi destinado à estruturação do novo espaço (“Esqueleto”). A Aprovace encarregou-se da construção do novo lugar de comércio, que seria edificado com o dinheiro dos próprios comerciantes. “Eu paguei cerca de 3 mil reais”, garante dona Margarida.
Em 2004, devido à constatação de que a obra do “Esqueleto” apresentava irregularidades, o Executivo Municipal ordenou a paralisação da mesma. Até o início de 2010, a questão que envolve Prefeitura, Governo do Estado e os camelôs, permaneceu nos bastidores. Somente em abril do mesmo ano, o problema saltou aos olhos dos fortalezenses.
A “briga” resultou na ocupação irregular do terreno, que, hoje, segue sendo modificado. A Prefeitura cedeu o uso do espaço ao Governo do Estado, que poderá construir, lá, um Centro de Atendimento e Serviços à população. Quando a licitação for definida e o espaço, escolhido, deverá haver nova retirada de ambulantes do local.
Conforme a titular da Secretaria do Centro, Luíza Perdigão, a atividade exercida no local é completamente irregular. Mas, de acordo com ela, devido à cessão do terreno, a Prefeitura espera um posicionamento do Governo Estado para encaminhar as devidas providências. “´É uma invasão de um terreno público. Não tem nenhum permissionário. Podemos, inclusive, embargar, mas a área foi cedida para um fim determinado pelo Governo, que deve manifestar as próximas ações” explicou. (Thatyane Nascimento - O ESTADO)
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