Era R$ 50 o dinheiro certo de cada mês e vinha do Bolsa Família. Por volta de 2004, o marido havia se acidentado e estava impossibilitado de trabalhar. Os dois filhos tinham 9 e 12 anos, e a então dona de casa Vângila Cândida da Silva, 40, não trabalhava. Resolveu se cadastrar no programa. “Foi um momento de muita precisão”, lembra Vângila. Depois de dois anos recebendo o benefício ela integra a lista de famílias que deixou o programa por não depender mais dele.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em quase dez anos desenvolvendo a política de transferência direta de renda, 1,6 milhão de famílias deixaram o programa por aumento da renda per capita. No Ceará, foram 123.528 famílias. Vângila morava em Acopiara, município que fica a 345,1 quilômetros de Fortaleza.
Para Vângila, o Bolsa Família foi essencial. Reverteu-se em material escolar, em alimento. O que faltava na mesa era suprido com a ajuda dos sogros. Pouco tempo depois, resolveu trabalhar em Fortaleza, como babá. Mesmo que tenha passado a receber salário, o recurso ainda era pouco para ela, o marido, os dois filhos e as despesas do lar. Em Fortaleza, garantiu a matrícula dos meninos na escola e atualizou o cadastro no programa. “Quando cheguei aqui (em Fortaleza), era uma situação muito difícil. Tava tão difícil, que era uma havaiana pra mim e pro meu filho usar”.
Com dois anos recebendo o benefício, Vângila decidiu não atualizar mais o cadastro. Juntou a falta de tempo de ir na Regional com a convicção de que não precisava mais daquela ajuda do Governo Federal. “Acho que é só para uma hora da precisão. Pensei que tinha gente precisando mais do que eu. É uma alegria saber que todo mês tem aquele dinheiro pra fazer alguma coisa”. Para não depender mais do programa, ela afirma que foi fundamental ter procurado trabalho e conseguir um salário. Depois, o marido também voltou a trabalhar.
Também de Acopiara, a dona de casa Elizabeth Pereira Sampaio, 42, já foi beneficiária do Bolsa Família. Em 2006, não tinha renda fixa. “Nessa época, a gente criava gado, mas era bem pouquinho. Não tinha nem água para dar ao gado. Tenho uma filha que hoje faz faculdade em Crato, de Agronomia”, comemora. Foram três anos recebendo o Bolsa Família. Veio a Fortaleza trabalhar como empregada doméstica e a filha ficou sob os cuidados da mãe.
O ex-marido, no entanto, resolveu também fazer cadastro no programa, incluindo o nome da filha, o que gerou duplicidade, e Elizabeth foi convocada na Prefeitura. “Se eu quisesse, poderia ter ido em Acopiara e ter recadastrado, mas não precisava mais. Deixei pra lá, passei pra outro”, constatou. Segundo ela, em Fortaleza, acabou casando de novo e, com a ajuda do marido, sua condição financeira melhorou.
(O POVO)
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