Craque do regimento interno, democrático a ponto de não cassar a palavra de ninguém e empolgado na condução de uma das sessões mais longas da história da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) ensina como presidir a Casa dos representantes do povo; talento do clã Alves, fundado pelo pai governador Aluízio, ele ganhou o respeito de todos os partidos; tensão à volta da aprovação da MP dos Portos continua; sessão em curso é marcada por obstruções
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, acaba de assumir, da melhor maneira, seu cargo. A posse, a rigor, aconteceu em 3 de fevereiro, mas foi na prova de fogo do dia, tarde, noite e madrugada da terça-feira 14 para a quarta-feira 15 que ele se sobressaiu. Em quase 18 horas ininterruptas de sessão, iniciada às 11h00 e encerrada às 4h50, Henrique Eduardo, como é chamado dentro do clã político dos Alves, deu uma aula de legalismo, paciência e objetividade. Abriu a sessão e foi o último a se levantar da cadeira, após pilotar um complexo jogo de obstruções e recursos capaz de tontear os parlamentares mais experientes. A trajetória de onze mandatos parlamentares consecutivos, que lhe deram, até agora, 42 anos de plenário, foi decisiva para o élan demonstrado por Alves.
Num dos pontos altos de sua condução da sessão que aprovou, em primeira fase, a MP dos Portos, já madrugada alta, Alves acolheu, sem pestanejar, uma consulta do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, à Comissão de Constituição e Justiça. Isso aconteceu ainda na parte da manhã, quando ele e Cunha divergiram sobre um aspecto da MP. À noite, Cunha pediu a palavra para dizer que a CCJ lhe dava razão.
- Parabéns, sr. deputado! O sr. estava certo e eu, errado, admitiu Alves, sem o ranço tradicional dos políticos que não sabem reconhecer quando não estão cem por cento com a razão. Antes, ao abrir os trabalhos, o presidente pedira para que os parlamentares deixassem de lado as agressões que haviam consumado, na véspera, em suas palavras, "uma página vergonhosa para esta casa". Assim como demonstrou saber ser duro, Alves também mostrou sua face conciliadora.
Fazendo questão de conceder todos os pedidos de apartes, e sem caçar a palavra de qualquer parlamentar, Alves, pela coerência, foi ganhando o respeito dos políticos a cada etapa da votação. Ele atuou no sentido da aprovação da MP de interesse pessoal da presidente Dilma Rousseff, mas sem usar dos poderes discricionários da mesa para ultrapassar os adversários do governo.
Alves não se enervou no longo e complexo jogo de obstruções no qual a sessão foi se transformando, especialmente em suas horas iniciais. Reafirmando ter todo o tempo do mundo à serviço da política, o presidente da Câmara mostrou-se, também, o mais paciente entre os parlamentares presentes. Quando o deputado Silvio Costa, do PTB, avisava que iria usar todos os minutos que tivesse disponíveis para estender ao máximo a sessão, à altura da meia-noite meia da dia 15, o máximo que Alves disse, com um sorriso nos lábios, é que era direito do parlamentar fazer aquilo. Nenhuma objeção ao seguimento, à risca, das garantias regimentais.
A serenidade, temperada com empolgação, com a qual Alves comandou a sessão despertou admiração na presidente Dilma. Na primeira avaliação que ela fez com auxiliares sobre os muitos acontecimentos no plenário em torno da votação da MP dos Portos, Dilma registrou que Alves foi incansável no comando da sessão.
Filho do ex-governador Aluizio Alves, que também foi ministro da Administração do governo José Sarney, Henrique Eduardo, como é chamado em família, tomou de volta para a Câmara o assessor parlamentar Mozart Vianna, espécie de sacristão da mesa diretora, sabichão dos detalhes do regimento interno. Ele fora contratado pela Rede Globo, após décadas de serviços prestados diretamente aos presidentes da casa, mas Alves fez questão de escalá-lo para sua equipe.
Garantida a retaguarda de conhecimento das nuances do parlamento, o mais vai sendo feito à base do talento que Alves sempre teve para a atividade. Tanto como orador como agente de bastidores. Por mais de uma vez, na longa sessão da MP dos Portos, ele recebeu os líderes partidários à volta de sua poltrona de presidente, demonstrando, em lugar da irritação que guiou a outros naquela cadeira, um entusiasmo contagiante pelos assuntos da política por excelência. (Brasil 247)
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