Quatro pontos percentuais dos "nanicos" poderão garantir o segundo turno, caso Dilma continue roubando mais votos de Marina do que Aécio
Dois candidatos de esquerda são coadjuvantes da presidente Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) na “desconstrução” da candidatura de Marina Silva, embora não se beneficiem eleitoralmente como ambos da desidratação da candidata do PSB: Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSol). Fragilizam o discurso de Marina ao fazer um contraponto às tentativas da candidata socialista no sentido de ampliar os apoios políticos ao seu projeto de poder e permanecer como “terceira via” alternativa à polarização PT versus PSDB.
Histriônico, mas autêntico, o candidato do PV faz uma campanha onde ostenta um visceral compromisso com a verdade e com seus próprios pontos de vista sobre a realidade, indiferente ao politicamente correto, o que atrai simpatias nos debates, mas não lhe dá votos. Faz uma campanha alternativa, sem perspectiva nenhuma de vitória, a ponto de passear de bicicleta, sem identificação no capacete ou na camisa, pela Avenida Paulista no domingo, pouco preocupado se estava sendo reconhecido ou não por seus eventuais eleitores.
No debate da Record, domingo, fez o mais duro ataque até agora ao programa Mais Médico, carro-chefe da campanha de Dilma Rousseff, afirmando com todas as letras que os médicos cubanos vivem num regime de “trabalho escravo”. Eduardo Jorge foi criticado por Luciana Genro por ter sido secretário de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD), mas revelou não estar nem aí para a velha divisão esquerda versus direita e disse que não é nem capitalista, nem socialista, é ecologista e apoia qualquer proposta a favor da sustentabilidade, venha de onde vier. É mais ou menos isso que sua candidatura representa. Provavelmente, seu partido continuará colaborando com quem ganhar as eleições. Eduardo Jorge contribui para “descontruir” Marina sempre que desnuda a aproximação da candidata do PSB com setores que tradicionalmente criticam os ambientalistas.
Já Luciana Genro (PSol) representa o pensamento da esquerda radical que faz oposição ao PT e Dilma Rousseff por suas alianças conservadoras e programa social-liberal. O PSol atraiu uma parcela da juventude que participou das manifestações de junho do ano passado e poderia ter ido dar mais vida à candidatura de Marina Silva. Isolou essa militância da grande massa do eleitorado por causa de suas posições esquerdistas. Nos debate eleitorais, sempre que pode, Luciana Genro ataca duramente a candidata do PSB, descaracterizando-a como uma alternativa à esquerda. Com isso, ajuda a empurrar a candidata do PSB para a posição na qual a presidente Dilma Rousseff pretende mantê-la, ou seja, como candidata das elites econômicas, principalmente dos banqueiros.
No último debate da Record, Luciana Genro levantou a bola para a polêmica declaração homofóbica do candidato do PRTB à Presidência, Levy Fidelix. Mas reagiu de maneira tímida à resposta grosseira do adversário conservador. Agora, corre atrás do prejuízo: com o deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ), entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cobrando punição a Fidelix “por ter incitado o ódio e a violência contra a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais)”.
O episódio, porém, criou um fato novo no debate eleitoral, resgatando a discussão sobre as questões de gênero, que andava meio escanteada. Todos os candidatos foram obrigados a se posicionar sobre o tema. Dilma voltou a defender a criminalização da homofobia. Aécio criticou Fidelix. “Quero expressar nosso repúdio absoluto àquela declaração. Como já disse, qualquer tipo de discriminação é crime. Homofobia também”, disse o tucano. Marina Silva (PSB) também rebateu as ofensivas, alegando que a Rede Sustentabilidade estuda representar contra o candidato. “Posturas como essa, ecoadas por pessoas públicas, somente reforçam o preconceito que vitimiza milhões de pessoas no país”, defendeu.
Com pouco tempo de televisão, sem recursos e isolados politicamente, Eduardo Jorge e Luciana Genro têm 1% dos votos cada, assim como o Pastor Everaldo (PSC), cujo discurso conservador busca não somente o voto evangélico, mas também o eleitor à direita do espectro político. Os três vão cumprir um papel importante no processo eleitoral, pois esses três pontos percentuais poderão garantir a realização do segundo turno caso a presidente Dilma Rousseff continue roubando mais votos de Marina Silva do que Aécio Neves.
Ponto zero
Há ainda três candidatos de ultraesquerda na disputa eleitoral, que não marcaram pontos nas pesquisas: Mauro Iasi (PCB), Zé Maria (PSTU) e Rui Costa Pimenta (PCO). Os três reivindicam a herança do comunismo. O mesmo acontece com Eymael (PSDC), que se autodefine como um democrata-cristão. Juntos, esses candidatos somam mais um ponto percentual. Contribuem, pois, para a existência de segundo turno.
(Blog do Azedo)
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