Julieta Brontée
Declaro-me culpada quando em plena 4:30hs
da matina, abro os olhos e meu incontido
desejo é de descerrar as cortinas do meu quarto e correr para a varanda para
apreciar o nascer do dia, olhar essa maravilhosa nesga de mar que se abre e vem
como se estivesse vindo ao meu encontro embora eu saiba que dali ela não vai passar.
Declaro-me culpada quando vejo o sol,
com seu brilho radiante rasgar as nuvens anunciando a chegada do amanhecer.
Declaro-me culpada quando olho além
do horizonte e penso quanto o infinito me encanta, o desconhecido me atrai, o
medo não me intimida.
Declaro-me culpada quando sinto que
nada me prende, nem o movimento dos braços da vida que me enlaça, me enleva e me
aperta num borbulhar e fervilhar, num balbuciar de tem mais, tem mais.
Declaro-me culpada quando deixo minha
imaginação transpor minhas verdades e meus sonhos seguirem tão distantes numa
vontade desenfreada de mudar o mundo para melhor.
Declaro-me culpada quando meus
pensamentos vagueiam com a certeza de que infelizmente em breve vou partir sem
ter mudado o mundo.
Declaro-me culpada por meu corpo tremer numa revolta por
sentir um abismo tão grande, tão grande, que é maior que o planalto sonhado
Declaro-me culpada pelo o sonho não
realizado tornar-se cada vez menos real.
Declaro-me culpada por não ter sido melhor
esposa, melhor mãe, melhor amante, melhor amiga. Não ter sido mais compreensiva,
mais leal, mais legal, não ter amado mais, chorado mais, sorrido mais. Enfim,
bem que poderia ter sido mais e mais.
Declaro-me culpada por saber que o
dia poderá estar chegando e ainda não vivi tudo que queria viver, não fiz tudo
que queria fazer.
Declaro-me culpada pois poderá estar
chegando a hora de partir. Mas, se eu não for agora, vou fazer tudo para
compensar essas lacunas e vou tentar, num esforço hercúleo, remediar grande
parte desse caos e se dele só não puder mudar o mundo, fiz tudo e não fiz nada,
vou continuar devendo.
Declaro-me culpada, mas quem sabe em
outra vida, quando aqui estiver de volta, Deus possa me dar o dom de mudar o
mundo pra melhor. Afinal de contas, sonhar ainda é um direito que ninguém pode
tirar de nós.
No mais, não se preocupem se eu for bem ali ou
no outro mundo, pois irei feliz, não
importando o tempo que demore, um dia eu
voltarei.
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