O ex-presidente Lula se transformou, nas eleições municipais, numa espécie de franquia dos candidatos do PT e de alguns poucos aliados, revela Vera Magalhães na Folha de São Paulo de hoje, acrescentando que Lula está na TV em pelo menos 14 capitais e em outras tantas cidades consideradas estratégicas pelo partido.
A superexposição do principal líder petista coincide com o julgamento do mensalão, em que o maior escândalo de seu governo passa pelo crivo do Supremo Tribunal Federal, corte máxima da Justiça brasileira, com 8 dos 10 ministros nomeados nos nove anos de governo do PT.
A combinação entre cabo eleitoral onipresente, eleições com chances incertas em muitas capitais e um julgamento que mobiliza o país 18 horas semanais já há oito semanas - e sem prazo para terminar- pode levar a um resultado oposto ao desejado pelo PT. No fim de outubro, o quadro de vitórias e derrotas do partido em capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes será lido como um balanço pessoal de sucessos e reveses de Lula.
Em menor escala, também estará em jogo o desempenho da presidente Dilma Rousseff, que foi compelida pelo partido e pelo antecessor a se expor mais do que pretendia nas disputas locais, muitas vezes contra aliados do governo.
O estado de espírito de Lula com os rumos que o julgamento do mensalão tomou é de revolta incontida.
Ele se reflete diretamente no tom exacerbado da nota oficial em que o PT convoca seus militantes para uma batalha "do tamanho do Brasil" em defesa do ex-presidente - ainda que não explique que ameaça institucional ou democrática estaria em curso num país governado pelo próprio partido, com Judiciário e Legislativo independentes.
Lula tinha tudo para ter atuação discreta na sucessão municipal. Passou por um tratamento médico severo, o julgamento do mensalão atropelou o calendário eleitoral e ele tem uma sucessora bem avaliada, que pode se reeleger em 2014.
No entanto, na ânsia por comandar o processo e ter seu nome e seu legado lembrados em palanques de Norte a Sul, se expôs. A avaliação é que uma eventual vitória em São Paulo já valerá o risco. Mas, se a franquia Lula falhar, que discurso caberá ao PT no pós-mensalão?
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