Hoje, o secretário de Mobilidade de Geraldo Julio, João Braga do Partido Verde, diz que a Via Mangue, que custou mais de R$ 600 milhões ao povo do Recife, não passa de uma grande "presepada"...quem vai pagar nosso prejuízo financeiro e ambiental???
HOJE, "VIA MANGUE", ONTEM, "LINHA VERDE" | Ali, durante as eleições em 2000...
"A secretária municipal de Planejamento, Celecina Pontial, responsável pela obra, confirma ter entregue toda a documentação ao MP e estranha o imbróglio. “Não haverá danos. Está previsto um parque público, com exploração turística e a sede da Secretaria do Meio Ambiente”, afirmou. Celecina disse ainda que a linha expressa “protegeria a região das invasões e fazendas de pesca ilegal.” (...) A secretária negou que a mudança da obra de um lado (oeste) para outro mais privilegiado (leste) serviu para valorizar terrenos e grandes comércios. “Estamos atendendo às necessidades de trânsito e de desenvolvimento da área de Boa Viagem, a que mais se expande economicamente”, disse." }
[ ECOBRIGA | Projeto de via expressa com pedágio prevê construção e aterro no maior manguezal urbano do País e abre guerra no Recife | *por Ana Carvalho
Misture a construção de uma via expressa com seis pistas de rolamento e pedágio com a destruição de manguezal. Acrescente desapropriações em áreas nobres, denúncias de intervenção política e especulação imobiliária. Mexendo bem, tempere com um inquérito movido pelo Ministério Público Estadual (MP) para exigir o relatório de impacto ambiental da obra. Use, por fim, a reação verde de raiva de ecologistas e a alta temperatura, do segundo turno para a eleição do prefeito do Recife. Está pronta a mistura explosiva conhecida na cidade – disputada a unhas e dentes por João Paulo (PT) e Roberto Magalhães (PFL) – como Linha Verde. A obra – planejada sob o argumento de que irá beneficiar o trânsito da zona sul, área mais valorizada da cidade – vai ocupar parte dos mais de 300 hectares do maior manguezal urbano do País. Para o engenheiro José de Britto, a avenida destruiria “17 hectares de ecossistema e 37 hectares ao todo para se fazer uma Linha Cinzenta”. Munido de mapas, Britto conta que a área é da União, cedida à Marinha. Ela ocupou o local de 1940 a 1993. Na Segunda Guerra, abrigou uma estação de rádio, com instalações construídas pelo Exército dos EUA. O projeto, diz Britto, vai aterrar 11,7 dos 80 hectares da lagoa do Encanta Moça: “Essa obra não foi feita por técnicos, mas por políticos. Ela é uma equação imobiliária feudal. Queremos que esse parque seja da cidade, aberto à população e ao turismo.” A Marinha avaliou a área de 246,54 hectares em R$ 16,515 milhões ou R$ 6 por metro quadrado. Britto diz ainda que a empresa do ex-ministro do Meio Ambiente Gustavo Krause, a Multiconsultoria, teria articulado e assumido o projeto. Somados à Ilha de Deus, a área de manguezal chega a 419 hectares, três vezes a área do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
O MP abriu um inquérito há 20 dias para investigar o assunto. Segundo o promotor Ricardo Vasconcelos, houve um atraso na entrega do estudo do impacto ambiental da obra. “Estamos avaliando distorções nos valores do contrato entre o poder público e a empresa licitada (Pires Advogados e Consultores). Esse estudo deveria ter sido entregue em janeiro”, afirma o promotor. Ele acusa a prefeitura e a empresa de omitirem informações. Vasconcelos considerou “imoral e antijurídica” a decisão do Tribunal de Justiça do Estado, de conceder liminar ao advogado Ivon Pires Filho, diretor da empresa, para manter seu trabalho em sigilo. “Esse é o primeiro caso de estudo ambiental secreto do País.”
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Pires nega ter escondido os estudos. “Eles foram passados à prefeitura e encaminhados ao MP. Mas são análises preliminares. Houve alteração no projeto, por isso os adiamentos. Meu prazo para terminar esse estudo é dezembro. Recebi a planta no início do mês”, afirma. Segundo ele, a guerra verde se deve ao que está em jogo: “Haverá desapropriação em área nobre e é ano de eleição.” Sobre a acusação de destruição, garante que não se chegará a usar dez hectares, sendo 4,8 sobre manguezais. Ele admite que haverá aterros. A secretária municipal de Planejamento, Celecina Pontial, responsável pela obra, confirma ter entregue toda a documentação ao MP e estranha o imbróglio. “Não haverá danos. Está previsto um parque público, com exploração turística e a sede da Secretaria do Meio Ambiente”, afirmou. Celecina disse ainda que a linha expressa “protegeria a região das invasões e fazendas de pesca ilegal.” Ela rebate as afirmações de Britto sobre o fim da lagoa do Encanta Moça. “O mangue se divide em maciço e franja (margem). Quando se trata de obra de interesse público, a lei permite o uso da franja, desde que seja replantada. Usaremos, no máximo, 0,3% dela.” A secretária negou que a mudança da obra de um lado (oeste) para outro mais privilegiado (leste) serviu para valorizar terrenos e grandes comércios. “Estamos atendendo às necessidades de trânsito e de desenvolvimento da área de Boa Viagem, a que mais se expande economicamente”, disse. Na versão oficial, a Linha Verde, com seis pistas e duas grandes pontes e viadutos, margeará o manguezal do Pina. A secretária contradiz Pires quando nega a previsão de aterros. “Existirão sustentações quando a obra atingir o mangue. É um projeto de 6,8 quilômetros”, calcula a secretária, prevendo um orçamento de US$ 90 milhões para a obra. A maior parte (70%), bancada pela iniciativa privada e pelo pedágio. O resto virá da prefeitura e do governo do Estado.
O geógrafo Jorge Araújo, da Associação Ecológica de Pernambuco, ataca a obra por destruir o mangue e privilegiar a expansão imobiliária. A importância dos manguezais, explica Araújo, está na absorção de calor e na reciclagem: “A área é poluída, jogam dejetos in natura de Boa Viagem e do Pina para essa bacia estuarina. Ali só se pesca quando a maré enche.” A área no coração da cidade ameniza o calor. O geógrafo afirma que o replantio não é solução. “O que se discute é o desmonte de vida”, disse. A guerra verde promete avançar sobre um outro campo: a forma de ver e pensar a cidade. Para os que lutam contra a “sociedade do asfalto”, as obras viárias deveriam ser periféricas e integradas ao transporte de massa. Jorge não se avexa em propor uma receita saudável para desatar o nó do trânsito: “Por que não ciclovias? Vamos trabalhar de bicicletas.” ]
| *imagem 01: "LE PARC BOA VIAGEM - Único Residencial Resort de Recife, único também por ser totalmente integrado ao parque dos manguezais, 60,000m² só de área verde preservada"... http://recife.olx.com.br/ unico-residencial-resort-do-rec ife-com-mais-de-100-000m-de-te rreno-le-parc-boa-viagem-iid-4 40456862
"A secretária municipal de Planejamento, Celecina Pontial, responsável pela obra, confirma ter entregue toda a documentação ao MP e estranha o imbróglio. “Não haverá danos. Está previsto um parque público, com exploração turística e a sede da Secretaria do Meio Ambiente”, afirmou. Celecina disse ainda que a linha expressa “protegeria a região das invasões e fazendas de pesca ilegal.” (...) A secretária negou que a mudança da obra de um lado (oeste) para outro mais privilegiado (leste) serviu para valorizar terrenos e grandes comércios. “Estamos atendendo às necessidades de trânsito e de desenvolvimento da área de Boa Viagem, a que mais se expande economicamente”, disse." }
[ ECOBRIGA | Projeto de via expressa com pedágio prevê construção e aterro no maior manguezal urbano do País e abre guerra no Recife | *por Ana Carvalho
Misture a construção de uma via expressa com seis pistas de rolamento e pedágio com a destruição de manguezal. Acrescente desapropriações em áreas nobres, denúncias de intervenção política e especulação imobiliária. Mexendo bem, tempere com um inquérito movido pelo Ministério Público Estadual (MP) para exigir o relatório de impacto ambiental da obra. Use, por fim, a reação verde de raiva de ecologistas e a alta temperatura, do segundo turno para a eleição do prefeito do Recife. Está pronta a mistura explosiva conhecida na cidade – disputada a unhas e dentes por João Paulo (PT) e Roberto Magalhães (PFL) – como Linha Verde. A obra – planejada sob o argumento de que irá beneficiar o trânsito da zona sul, área mais valorizada da cidade – vai ocupar parte dos mais de 300 hectares do maior manguezal urbano do País. Para o engenheiro José de Britto, a avenida destruiria “17 hectares de ecossistema e 37 hectares ao todo para se fazer uma Linha Cinzenta”. Munido de mapas, Britto conta que a área é da União, cedida à Marinha. Ela ocupou o local de 1940 a 1993. Na Segunda Guerra, abrigou uma estação de rádio, com instalações construídas pelo Exército dos EUA. O projeto, diz Britto, vai aterrar 11,7 dos 80 hectares da lagoa do Encanta Moça: “Essa obra não foi feita por técnicos, mas por políticos. Ela é uma equação imobiliária feudal. Queremos que esse parque seja da cidade, aberto à população e ao turismo.” A Marinha avaliou a área de 246,54 hectares em R$ 16,515 milhões ou R$ 6 por metro quadrado. Britto diz ainda que a empresa do ex-ministro do Meio Ambiente Gustavo Krause, a Multiconsultoria, teria articulado e assumido o projeto. Somados à Ilha de Deus, a área de manguezal chega a 419 hectares, três vezes a área do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
O MP abriu um inquérito há 20 dias para investigar o assunto. Segundo o promotor Ricardo Vasconcelos, houve um atraso na entrega do estudo do impacto ambiental da obra. “Estamos avaliando distorções nos valores do contrato entre o poder público e a empresa licitada (Pires Advogados e Consultores). Esse estudo deveria ter sido entregue em janeiro”, afirma o promotor. Ele acusa a prefeitura e a empresa de omitirem informações. Vasconcelos considerou “imoral e antijurídica” a decisão do Tribunal de Justiça do Estado, de conceder liminar ao advogado Ivon Pires Filho, diretor da empresa, para manter seu trabalho em sigilo. “Esse é o primeiro caso de estudo ambiental secreto do País.”
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Pires nega ter escondido os estudos. “Eles foram passados à prefeitura e encaminhados ao MP. Mas são análises preliminares. Houve alteração no projeto, por isso os adiamentos. Meu prazo para terminar esse estudo é dezembro. Recebi a planta no início do mês”, afirma. Segundo ele, a guerra verde se deve ao que está em jogo: “Haverá desapropriação em área nobre e é ano de eleição.” Sobre a acusação de destruição, garante que não se chegará a usar dez hectares, sendo 4,8 sobre manguezais. Ele admite que haverá aterros. A secretária municipal de Planejamento, Celecina Pontial, responsável pela obra, confirma ter entregue toda a documentação ao MP e estranha o imbróglio. “Não haverá danos. Está previsto um parque público, com exploração turística e a sede da Secretaria do Meio Ambiente”, afirmou. Celecina disse ainda que a linha expressa “protegeria a região das invasões e fazendas de pesca ilegal.” Ela rebate as afirmações de Britto sobre o fim da lagoa do Encanta Moça. “O mangue se divide em maciço e franja (margem). Quando se trata de obra de interesse público, a lei permite o uso da franja, desde que seja replantada. Usaremos, no máximo, 0,3% dela.” A secretária negou que a mudança da obra de um lado (oeste) para outro mais privilegiado (leste) serviu para valorizar terrenos e grandes comércios. “Estamos atendendo às necessidades de trânsito e de desenvolvimento da área de Boa Viagem, a que mais se expande economicamente”, disse. Na versão oficial, a Linha Verde, com seis pistas e duas grandes pontes e viadutos, margeará o manguezal do Pina. A secretária contradiz Pires quando nega a previsão de aterros. “Existirão sustentações quando a obra atingir o mangue. É um projeto de 6,8 quilômetros”, calcula a secretária, prevendo um orçamento de US$ 90 milhões para a obra. A maior parte (70%), bancada pela iniciativa privada e pelo pedágio. O resto virá da prefeitura e do governo do Estado.
O geógrafo Jorge Araújo, da Associação Ecológica de Pernambuco, ataca a obra por destruir o mangue e privilegiar a expansão imobiliária. A importância dos manguezais, explica Araújo, está na absorção de calor e na reciclagem: “A área é poluída, jogam dejetos in natura de Boa Viagem e do Pina para essa bacia estuarina. Ali só se pesca quando a maré enche.” A área no coração da cidade ameniza o calor. O geógrafo afirma que o replantio não é solução. “O que se discute é o desmonte de vida”, disse. A guerra verde promete avançar sobre um outro campo: a forma de ver e pensar a cidade. Para os que lutam contra a “sociedade do asfalto”, as obras viárias deveriam ser periféricas e integradas ao transporte de massa. Jorge não se avexa em propor uma receita saudável para desatar o nó do trânsito: “Por que não ciclovias? Vamos trabalhar de bicicletas.” ]
| *imagem 01: "LE PARC BOA VIAGEM - Único Residencial Resort de Recife, único também por ser totalmente integrado ao parque dos manguezais, 60,000m² só de área verde preservada"... http://recife.olx.com.br/
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