"Adepto
da filosofia budista e ex-hippie". Terminada a eleição presidencial,
jornal O Estado de S.Paulo esclarece quem é Igor Rousseff – o irmão de Dilma
que saiu do anonimato após acusações de Aécio Neves
Adepto da
filosofia budista e ex-hippie, Igor Rousseff, advogado de 67 anos que agora
tenta criar tilápias, é o único irmão da presidente reeleita. Ele mora há quase
duas décadas na pequena e bucólica Passa Tempo, cidade no interior de Minas Gerais
com cerca de 8 mil habitantes e duas dezenas de cachoeiras. Ontem à noite ele
recebia, em sua pequena casa com portão baixo de madeira e um fusca verde na
garagem, amigos que entravam sem bater para cumprimentá-lo pela vitória da
irmã.
Igor
estava com Valquiria Faleiro, de 47 anos, chefe do setor de contabilidade da
prefeitura de Passa Tempo, sua mulher desde 2006. Ele voltou no sábado de
Brasília para poder votar na irmã. Durante a semana, com Dilma em seus últimos
compromissos de campanha, resolveu ficar com a mãe de 91 anos, que está doente,
no Palácio do Planalto. Lá assistiu, sozinho em um quarto de hóspede, ao último
debate presidencial. Menos de 24 horas depois estava no centrinho de Passa
Tempo de chinelos e bermuda, comprando uma caixinha de cervejas no único
mercado da cidade.
“Achei
que era fantasma e não me enxergavam”, disse ao ser abordado pela reportagem do
Estado no fim da tarde de sábado, tentando ironizar as acusações, feitas pela
campanha de Aécio Neves (PSDB), de que teria sido funcionário fantasma da
prefeitura de Belo Horizonte entre 2003 e 2009. Em seguida, aceitou conceder
entrevista exclusiva no “puxadinho” com churrasqueira que construiu no quintal
de casa. “Demorei quatro anos pra fazer esse ‘puxado’, pedreiro aqui tá muito caro.
Custa R$ 120 por dia de serviço”, contou.
Aposentado
há dois anos, Igor busca incrementar a renda com um projeto para tentar entrar
no mercado de criação de tilápias. “Tem gente que vende por R$ 50 o quilo do
filé da tilápia. Estou com outro colega em um negócio que pode render 300
toneladas (por mês)”, afirma. Antes, ele ocupou funções diversas – já foi desde
controlador de voo em São José dos Campos a porteiro de hotel de luxo em
Quebec, no Canadá.
Ele
garante nunca ter pedido nenhum tipo de favor à irmã dez meses mais nova. E até
faz críticas ao papel de guerrilheira de Dilma durante a juventude. “Eu achava
errado (ela ir para a luta armada contra a ditadura). Os dois lados (militares
e estudantes) estavam errados. Não se ganha nada impondo a violência”, disse o
irmão da presidente.
Na mesma
época que a irmã militava na clandestinidade, ele morava nos Estados Unidos e
estava em contato com líderes do movimento hippie dos anos 70. “Quando eu
voltei e ela estava na cadeia, no presídio Tiradentes, eu ia com minha mãe
visitá-la.” O irmão diz também que não gostava de Leonel Brizola, o líder
político que inspirava Dilma. Enquanto a irmã seguia carreira política dentro
do PDT e já era secretária no governo do Rio Grande do Sul, Igor morava em um
trailer na Bahia.
Quando a
irmã se tornou ministra, em 2003, ele ainda morava no mesmo trailer, em um
terreno cedido por um amigo em Passa Tempo, onde acabou construindo sua casa.
“Eu sempre gostei mais da iniciativa privada, tive boas oportunidades”,
argumenta. Advogado, Igor também cursou jornalismo e história. Fala francês e
inglês fluentes.
Ele
defende a reeleição da irmã. Mas de jeito nenhum pede votos aos amigos ou faz
campanha. Igor sorri quando questionado se dava expediente na prefeitura de
Belo Horizonte, entre 2003 e 2009, quando já morava em Passa Tempo. “Esse
menino (Aécio Neves) tá exagerando”, afirmou, sorrindo, o adepto da filosofia
budista. Ele afirma nunca ter faltado ao serviço enquanto esteve na função de
assessor especial da Secretaria de Planejamento. “Eu só voltava aqui (Passa
Tempo) nos finais de semana. Sempre fui muito próximo do Fernando (Pimentel,
ex-prefeito da capital mineira)”, relata, com voz pausada.
As
acusações, porém, revoltam a mulher de Igor e seu filho, o médico cardiologista
Pedro Rousseff, de 45 anos, que tem casa de veraneio e consultório em Passa Tempo.
Foi o filho quem comprou para o pai a maior parte dos móveis de sua casa. “A
gente sempre tá percebendo uma piadinha, uma alfinetada até de quem era nosso
amigo. Foi muita calúnia contra meu pai. E meu filho também fica sofrendo
bullying na escola em Belo Horizonte por conta disso”, disparou Pedro.
Em meio
ao clima de “Fla-Flu” entre petistas e tucanos que também contagiou a pequena
cidade mineira, a cunhada de Dilma passou a última semana reclusa. Só saía para
trabalhar ou ir à padaria. Na sexta-feira, a reportagem encontrou Valquiria
indo pra casa a pé, carregando uma sacola de plástico que tinha ricota caseira
e um litro de Sukita. “Foi-se o nosso sossego, que a gente tanto gostava, com
essas denúncias todas, o anonimato que o Igor lutou tanto para preservar”, lamentou.
SAIBA MAIS: Estadão
(Pragmatismo Político)
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