sábado, 7 de julho de 2012

SAUDADE DANADA E LOUCA

Newton Pedrosa*

"Saudade, palavra triste quando se perde um grande amor..." É assim que começa langorosa guarânia paraguaia onde o autor chora a ausência de um amor perdido. Mas, saudade é mais que uma palavra triste, é um sentimento arraigado que habita e chora machuca corações. É também "um sentimento que,quando não cabe no coração, escorre pelos olhos," que se entrelaça com o amor falando de fraternidade, família, de amizade, simplesmente, ou rememora locais e tempos idos. Saudade, como diz Pablo Neruda, "é solidão acompanhada, quando o amor não foi ainda embora."
Quem não tem saudade, por exemplo, do primeiro amor, da infância de "peito aberto e braços nus," livre e descompromissada com o futuro? Dos bancos escolares, das voltinhas enamoradas nas pracinhas bucólicas do interior? Ou de entes queridos e amigos que partiram privando-nos de sua convivência, e "sentimos saudades de certos momentos de nossa vida e de certas pessoas que passaram por ela," como cantou Carlos Drummond de Andrade?
A saudade nos acompanha e nos acompanhará eterna e inseparável como companheira por toda a vida, e o poeta foi preciso quando versejou melodiosamente que "a saudade é a minha companheira, é a única mulher que me quer bem..." Nessa inerência, ela se associa em simbiose às nossas venturas e desventuras sentimentais numa cenografia que o passar do tempo nos oferece. Se associa profundamente ao nosso amor pela pessoa amada, pois, nasce e vem das entranhas de quem vive esses momentos.
Saudade danada e louca, pois, "saudade é amar um passado que ainda não passou; é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida." É o desejo, diria eu, de rever, abraçar, se entregar e sentir a pessoa com quem dividimos nossas alegrias, confidências e tempo. "Saudade,todos nós temos na vida" e é tudo o que na vida sonhamos, é um sentimento puro, arraigado e presente, é saudade mesmo da pessoa a quem amamos e que conosco vive esteja perto ou distante. Ela é sempre intensa, quando essa pessoa se ausenta ou se afasta de nós, ou mergulha na indiferença, pois, o maior inimigo do amor não é o ódio, é a indiferença fria, silente e torturante.
Mas, ela é mais intensa ainda quando queremos ter perto de nós essa pessoa eleita, vê-la, agarrá-la e tê-la em nossos braços de novo e não mais deixá-la fugir para não termos saudade novamente. Mas, em se tratando de saudade, Clarice Lespector é mais radical e diz que ela "é como fome. Só passa quando se come a presença. Mas, às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de ser o outro para uma unificação inteira de sentimentos mais urgentes que se tem na vida." Assim, a saudade não é uma coisa vazia, mas bastante palpável, pois, como diz Alice Ruiz, "Sem saudade de você, Sem saudade de mim, O passado passou enfim..."

*Newton Pedrosa é jornalista e advogado

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