segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Marina é quem dá as cartas nas alianças do PSB

Essa matéria da Folha, publicada pela madrugada e reproduzida ao final do post, é estarrecedora. E divertida ao mesmo tempo. Se for verdade, Eduardo Campos se tornou o maior banana da história política brasileira.
Seu título, no entanto, não bate com o teor da reportagem, segundo o qual se conclui que Marina não apenas dominou a cúpula do PSB, ao ponto de mandar “despublicar” artigo do principal pensador de esquerda da legenda e seu vice-presidente, Roberto Amaral, do site oficial do partido, como está começando a dar as cartas em todas as alianças regionais do PSB. Em Goiás, ela já expulsou, via jornais, um aliado que Campos vinha namorando há meses,  Ronaldo Caiado.
Sobre Caiado, há uma certa confusão sobre o que aconteceu.
A maioria dos aficionados em política pensa o quadro eleitoral apenas ideologicamente: “Caiado é um latifundiário cafajeste, de direita, então Marina mandou bem em afastá-lo”. Não é bem assim.
Campos havia construído, pessoalmente, uma rede de relações em Goiás. Vários políticos tradicionais do estado migraram para o PSB. Uns bons, outros ruins, outros piores. Definiu-se, mais ou menos, os candidatos ao senado, a deputados, a governador. Maioria era de direita, o que eu acho errado, mas esse era o caminho que Campos vinha seguindo. Setores políticos importantes de Goiás fecharam estratégias em virtude do pacto firmado com o presidente do PSB. Diante desses pactos, estes segmentos definiram suas estratégias, todas dependentes dos prazos eleitorais.
Quando Marina dá uma entrevista desancando Caiado, e Campos em seguida reage pusilanimamente, negando os acordos que costurou durante meses, ele rasgou a sua própria palavra firmada com muita gente no estado e no agronegócio em geral.
Eu acho que Campos errou em se aliar à direita. Deveria ter aprofundado os laços com os partidos de esquerda, como queria Roberto Amaral. Tinha cacife para isso. A moral de Campos junto à Lula era tão grande, que o ex-presidente – se não me engano – já havia mencionado a hipótese do PT fugir ao desgaste natural que deve acontecer em 2018, e apoiar um candidato de outro partido.
A partir do momento em que ele – Campos – construiu alianças, é ridículo que ele derrube tudo em prol de uma jogada midiática com Marina Silva. Isso é demonstração de imaturidade política.
Vou falar uma coisa que talvez lhes confundam: acho que Marina está certa. De fato, seria mais inteligente, para a candidatura presidencial de Campos / Marina, que houvesse “fatos novos” em cada estado, sobretudo no Sudeste. Gente com mídia, gente “do bem”, tipo Walter Feldman em São Paulo e Gabeira no Rio (se Gabeira fosse do PSB e não tivesse trocado a podridão da política pelos ares vaticanos da Globonews).
Só que, ao fazer isso, Campos não apenas vai se desmoralizar perante às suas regionais, caracterizadas por um pragmatismo obstinado; ele vai carimbar a si mesmo, nos meios políticos, a imagem de um líder fraco e desleal, obcecado com sua própria carreira em detrimento de seus correligionários.
Marina, por sua vez, parece tomada por uma espécie de loucura messiânica. Ela tem convicção dos loucos, o que não deixa de ser tocante, embora sinistro. Sejamos generosos, e vamos lhe dar o benefício da dúvida. Digamos que ela tem chances de ganhar em 2014.
Ok, só que ela pode também não ganhar.
A ex-ministra está tentando levar Campos para uma aposta de tudo ou nada. Perdendo as eleições em 2014, o PSB vai acordar para a realidade, e se deparará com um cenário de pesadelo. Nem adianta a dupla Campos / Marina ter outra vez 20 milhões de votos, ou mesmo o dobro disso. Terminada a eleição, todo mundo volta à terra firme, onde o que vale são vitórias concretas, majoritárias. Que partido terá crescido efetivamente em número de cargos no executivo e no legislativo? Que partido integrará as coligações vencedoras? Terminada a eleição, Marina pode voltar a dar palestras e talvez abrir uma nova ONG. E Campos, vai fazer o que da vida?
Também acho que Marina está certa quando tenta convencer Campos a não apoiar a reeleição de Alckmin e lançar Walter Feldman. Marina é inteligente o bastante para saber o estrago que uma aliança do PSB, que agora é seu partido, com Geraldo Alckmin, poderia trazer à sua imagem de santa maria da política.
Só que o mais inteligente, para Campos, seria se unir a Padilha, pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, usando isso para ganhar secretarias importantes em São Paulo e crescer em número de prefeitos e parlamentares. A chegada de Marina sepultou essa hipótese.
Ao lançar Feldman, o PSB aposta numa tática de nanico. Vai ficar chupando o dedo, sem espaço em nenhum governo, hostilizado por PSDB e PT e os aliados de cada um. O resultado pode ser declínio e isolamento, tornando-se um novo PPS, uma legenda sem crédito e de lideranças amarguradas.
Acho ótimo romper com o PSDB paulista, mas a construção de alianças, de um lado, e rupturas, de outra, tem de nascer de um processo político que inclua um mínimo de debate. Deixar que Marina, mal chegada no partido, exerça o controle absoluto de tudo, dá a entender que a legenda admite ter sido sempre incompetente. E agora continua incompetente, só que volúvel e  infiel.
Campos governa em Pernambuco aliado a 14 partidos. Indagada por este fato, Marina saiu-se com esta: se fossem alianças fisiológicas, Campos não teria tanta popularidade? Ora, Lula não foi o presidente mais popular? E não é isso que todo político fala quando distribui cargo a um aliado? Que o faz porque acredita em sua capacidade?
Campos está agindo igualzinho a Páris, o jovem e irresponsável príncipe de Troia, que se apaixona por Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, irmão do homem mais poderoso da Grécia, Agamenon.
Assim como Páris se deixou envolver pelos cachos dourados de Helena, Campos hipnotizou-se pelos chales midiáticos da ex-ministra.
Só que Páris, ao fazer isso, acabou sacrificando todo seu povo. Os gregos aguardavam um motivo qualquer para fazer guerra contra Príamo, rei de Troia, e assumir o controle da principal ligação entre Ocidente e Ásia, e este motivo apareceu.
A linda e corajosa Troia foi apagada do mapa.
Terá o PSB o mesmo destino?
(O cafezinho)

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