EUA reabrem oficialmente sua embaixada em Cuba
Bandeira foi hasteada sobre o prédio pela primeira vez em 54 anos.
Cerimônia foi conduzida pelo secretário de estado americano John Kerry.
A embaixada dos Estados Unidos em Havana foi reaberta nesta sexta-feira (14) com o hasteamento da bandeira americana no prédio pela primeira vez em 54 anos, um marco na reaproximação dos dois países.
A cerimônia começou pouco depois das 11h e foi conduzida por John Kerry, que é o primeiro secretário de Estado americano a visitar Cuba em 70 anos.
Em seu discurso, Kerry disse que não há "nada a temer" na retomada das relações entre os dois países, fez um apelo para que o governo cubano cumpra as obrigações internacionais de direitos humanos e falou sobre o embargo comercial entre os dois países.
Ele afirmou, ainda, que uma "democracia genuína" na qual possam "escolher livremente seus governantes" é a melhor opção para os cubanos, embora tenha dito que são eles que devem definir seu futuro.
"Nossas políticas do passado não conduziram a uma transição democrática aqui em Cuba. Seria pouco realista esperar que a normalização de relações tenha um impacto transformador no curto prazo", assinalou Kerry.
Mais tarde, o chanceler cubano Bruno Rodríguez disse que também se preocupar com os direitos humanos nos EUA.
A embaixada americana, situada em um prédio no Malecón (avenida costeira) na capital cubana, já estava funcionando na prática desde 20 de julho deste ano, quando as relações diplomáticas entre os dois países foram restabelecidas e Cuba também reabriu sua embaixada em Washington.
Enquanto os cubanos celebraram o hasteamento da bandeira de sua representação nos EUA no próprio dia 20 de julho, os norte-americanos esperaram até Kerry poder viajar para Havana.
Embargo
No discurso de reabertura, Kerry falou sobre o embargo comercial, citando que ele só pode ser derrubado pelo congresso, "um passo que a gente fortemente apóia", acrescentou.
No discurso de reabertura, Kerry falou sobre o embargo comercial, citando que ele só pode ser derrubado pelo congresso, "um passo que a gente fortemente apóia", acrescentou.
Disse ainda que o embargo é de mão dupla e que os dois lados têm que "remover restrições". "Por agora o presidente está concentrado em facilitar exportações, importações, telecomunicações, viagens familiares. Mas queremos ir além. Queremos ajudar os cubanos a se conectarem com o mundo e melhorar suas vidas", disse.
Kerry agradeceu aos presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, pelos esforços de negociação para a retomada de relações. "Não há nada a temer, já que serão muitos os benefícios que teremos quando permitimos a nossos cidadãos se conhecerem melhor, se visitarem com mais frequencia, fazer negócios e aprender uns com os outros", afirmou.
Ele também falou algumas frases em espanhol. “Temos certeza de que este é o momento de aproximarmos dois povos que não são inimigos nem rivais, mas vizinhos”, declarou, no idioma local.
Poema e hasteamento
O primeiro a falar na cerimônia foi o chefe da missão diplomática dos EUA Jeffrey de Laurentis, que disse que este dia marca "o começo de um novo capítulo" no caminho de normalizar as relações diplomáticas entre Havana e Washington. É um "longo, complexo caminho para percorrer, mas é o caminho certo", afirmou.
O escritor americano de origem cubana Richard Blanco, conhecido por ter participado da cerimônia de posse do segundo mandato de Barack Obama, leu um poema durante a celebração.
Durante a reinauguração, a bandeira foi levada pelos mesmos três soldados que retiraram o símbolo do edifício em 1961, quando os dois países romperam relações. O sargento Jim Tracy e os cabos Larry Morris e Mike East foram designados para a tarefa de retirar a bandeira que ondeava na embaixada americana em Havana.
Diplomatas livres
A reinauguração da embaixada americana em Havana acontece quase quatro semanas após os Estados Unidos e Cuba renovarem formalmente suas relações diplomáticas e aumentarem suas missões diplomáticas nas embaixadas.
Os detalhes da reaproximação entre os dois países, cujas relações foram rompidas em 1961, dois anos após a Revolução Cubana e em meio à tensão da Guerra Fria, ainda estão sendo discutidos.
Cuba e EUA decidiram criar uma comissão bilateral para definir os temas que abordarão entre si daqui em diante. "Nas próximas semanas, representantes de ambos os governos deverão manter os primeiros intercâmbios de trabalho sobre como avançar com esta comissão", disse o chanceler cubano Bruno Rodríguez numa coletiva de imprensa com Kerry, logo após um encontro bilateral.
A reabertura das embaixadas foi a primeira ação concreta nesse sentido desde que os dois países anunciaram em 17 de dezembro o descongelamento das relações.
Os diplomatas dos Estados Unidos poderão circular livremente pela ilha e "interagir com um grupo amplo" de cubanos. As negociações para o restabelecimento das relações entre os dois países exigiram vários meses devido a divergências sobre o livre trânsito dos diplomatas dos dois países além das respectivas capitais.
Na época do acordo, Cuba libertou o prisioneiro americano Alan Gross e, em troca, três agentes de inteligência cubanos que estavam presos nos Estados Unidos voltaram à ilha.
No dia 29 de maio deste ano, os Estados Unidos tiraram formalmente Cuba de sua lista de Estados que financiam e apoiam o terrorismo. Uma semana antes, a Casa Branca havia aberto suas portas para jornalistas de Cuba, que participaram da entrevista coletiva diária com o porta-voz Josh Earnest. O embargo comercial à ilha, porém, continua, e só pode ser suspenso pelo Congresso dos Estados Unidos.
Dissidentes
Organizações anticastristas em Miami criticaram a visita de Kerry. "É um abandono de uma política que exigia primeiro direitos humanos do regime antes de fazer concessões", assinalou à agência AFP Rey Anthony, representante estudantil da Fundação Cuba Livre.
Organizações anticastristas em Miami criticaram a visita de Kerry. "É um abandono de uma política que exigia primeiro direitos humanos do regime antes de fazer concessões", assinalou à agência AFP Rey Anthony, representante estudantil da Fundação Cuba Livre.
"O presidente Barack Obama abandonou a promessa de ver uma Cuba livre, de ajudar a dissidência interna na ilha, para buscar uma normalização com um regime sanguinário, que disse que não vai mudar em absoluto", declarou Anthony, cuja organização convocou um protesto para a tarde de sexta-feira, em Miami.
"No momento em que o regime incrementa sua brutal repressão contra ativistas democráticos cubanos que reclamam civicamente os direitos e a liberdade do povo cubano, a administração de Obama opta por colocar-se ao lado dos repressores", indicou, em um comunicado, a organização M.A.R. por Cuba.
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