Consolidar a nova Frente Brasil Popular
Walter Sorrentino *Editorialistas e colunistas do Estadão, como sempre, estrebucham quando se trata de manifestações dos movimentos sociais. As ocorridas no dia 20 último, na visão distorcida do jornal, teriam sido arregimentadas a mortadela e guaraná... aglutinando sabotadores do governo Dilma, dada a “insatisfação dos manifestantes com o governo”, quando na verdade, o caráter do ato foi de combate ao golpismo intentado contra a presidenta e o projeto político em curso.
São daquelas opiniões que só fortalecem os manifestantes, pois que motivaram o ódio do jornalão.
As manifestações deste mês guardaram as mesmas proporções daquelas ocorridas em março e abril, de parte a parte. Para a oposição, não serviram para retomar a ofensiva atenuada com os fatos das últimas três semanas - crescentes dissensões na ampla frente contra o governo Dilma, entre líderes, partidos e empresariado. Para as forças de esquerda e progressistas, marcaram o crescente adensamento da ampla frente que se forma em defesa da democracia, dos interesses nacionais e da rápida retomada do crescimento econômico.
Estabeleceu-se situação mais equilibrada, portanto. E a manifestação do dia 20, em prol disso e contra o golpe – para quem conhece o assunto e não se basta com versão injuriosa – teve importância magna, porque retomou um rumo que já se havia manifestado no segundo turno eleitoral de outubro passado, garantidor da vitória de Dilma.
O movimento social brasileiro é uma força poderosa e é assim - mil bandeiras, mil cores que se juntam numa mesma corrente e precisam rumar para um mesmo mar. Com ele, vencemos quatro eleições presidenciais consecutivas. Com ele barraremos o golpismo e os retrocessos.
Mas só cumpre papel se estiver unido, organizado e bem orientado politicamente. Controvérsias existem, sobretudo táticas, não são antagônicas. Mas o sentido central das manifestações ocorridas no dia 20 de agosto foi a defesa da democracia – Golpe Não! – a unificar todos. Hoje se compreende que, num quadro sob poderoso ataque das forças que não tem entre seus objetivos os interesses nacionais e o povo, é preciso uma trincheira de resistência e buscar preservar ao máximo as conquistas alcançadas: a maior delas é precisamente o mandato de Dilma.
O fundamental é compreender que a luta do povo é sempre uma luta política, mesmo quando é reivindicatória. No caso, luta política de alto teor, que exige não apenas combatividade, como também sagacidade. Não é hora de ampliar os alvos da resistência. Ao contrário, se impõe isolar ao máximo as forças golpistas, e neutralizar forças dissidentes ou que manifestam restrições do lado de lá, ao tempo de conquistar amplos segmentos e setores de espírito democrático na defesa da legitimidade do voto popular e do mandato de Dilma.
Uma saída à esquerda para a crise política e econômica é aquela que, antes de tudo, preserve Dilma no vértice. Mas não é só a esquerda, isoladamente, que pode alcançar esse objetivo. É preciso uma ampla frente democrática, patriótica e progressista, que tenha em mente, a defesa do Brasil e de seu povo.
A esquerda política já aprendeu a construir unidade em meio à diversidade. Assim será também desta vez, pois que o movimento popular é autônomo com relação a partidos políticos e suas manifestações, tendo lado político definido –o lado esquerdo do peito, o mesmo de Dilma Rousseff -, precisam representar também pressão por alcançar suas reivindicações.
O que os reacionários de sempre não viram é que se está gestando uma nova unidade, uma nova formação política em meio a esta situação. Chamar-se-á nova Frente Brasil Popular, capaz de unir a esquerda política e social com as forças progressistas em geral, particularmente da intelectualidade, para atualizar um programa que permita a retomada do projeto nacional de desenvolvimento – soberano, democrático, de integração regional sul-americana e de novo patamar civilizatório quanto aos direitos dos trabalhadores do povo – nas condições de hoje, partindo das conquistas alcançadas nestes quatorze anos e não desconhecendo que se está em meio à maior crise capitalista dos últimos 90 anos, à qual o Brasil não está imune.
Dia 5 de setembro ocorrerá a assembleia popular que lança essa Frente Brasil Popular. E no seu âmago, estará a luta por recriar as condições para a centralidade das reformas democráticas estruturais – no plano do Estado, a dos meios de comunicação e reforma política; no âmbito econômico e social, a reforma tributária e a universalização dos serviços públicos. Nesse sentido, desde já, a Agenda Brasil, lançada pelo presidente do Senado e acatada pelo governo, é palco legítimo para uma disputa. O essencial é saber que não basta apenas o governo ir nessa direção; na verdade, é uma disputa hegemônica que a esquerda política e social precisa fazer na sociedade.
A unidade vai se dar. Quem viver verá!
* Walter Sorrentino, médico, nascido em 1954, paulistano. Membro do Comitê Central desde 1988, e desde 2002, Secretário Nacional de Organização. Escreve no Blog do Sorrentino
Fonte: Vermelho Portal
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