Newton Pedrosa*
Coração é terra que ninguém anda, costuma dizer o vulgo em sua sabedoria popular, quando suspeita de alguém ou quer levantar dúvidas e mistério em torno das pessoas. Para o poeta, em sua inspiração insondável, entretanto, o coração é um colibri dourado. Não me recordo algum dia ter visto um colibri dourado esvoaçando por aí sem destino, e diria que o coração é um mistério indevassável, difícil, portanto, de ser decifrado e até compreendido, sejam quais forem os adjetivos, substantivos e conceituações que se usem a respeito, para defini-lo.
O coração abriga amor, afeição, compaixão, dó, piedade, bonança, caridade e outros sentimentos ternos. Mas, com toda essa especificidade benfazeja, tem o seu lado perverso e cruel, que maltrata, e mata. Daí, porque, enquanto enleva abrigando o amor, síntese dos sentimentos mais nobres, também tortura abrigando o ódio, o rancor, a mágoa, o despeito, a indiferença e a frieza d`alma, sentimentos sem dúvidas demoníacos.
Com o bem e o mal que encerra, o coração dita as nossas ações e guia o nosso destino. Ora, quantas e quantas vezes não decidimos sob seus impulsos abençoados ou malignos! O coração faz nascer em nós, no mais íntimo de nosso ser, o amor e a ira, afinal, é ele o centro das nossas emoções. Pelo amor que gera, chegamos a Deus e à felicidade, pelo ódio que produz, chegamos a Satanás e ao inferno. Nos leva a situações inusitadas e estranhas, inimagináveis e jamais inimaginadas. E como quase sempre dit as nossas ações e reações, está sempre disponível a nos levar ao bem e ao mal, a brincar conosco e a jogar com nossas vidas.
E é aí que o nosso anjo bom ou nosso anjo mau nos serve e nos trai, quando, materialmente nos mata sem avisar ou quando sentimentalmente nos rouba ou nos nega o direito de amar e o amor de alguém a quem amamos. O coração é um ser indecifrável, imperscrutável, impenetrável, difícil de ser entendido, analisado e definido. E assim sendo, continuaremos refém, difícil de fugir dele. Mas, sem ele, de qualquer maneira, talvez, a vida fosse monótona.
*Newton Pedrosa é jornalista e advogado
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