Em condições normais, dois espetáculos não são exibidos num só palco. Dividido entre um e outro, o público não dá atenção a nenhum dos dois. O STF acaba de desafiar essa lógica. Estava aí em cartaz a eleição municipal de 2012. E o Supremo pendurou na porta do teatro um novo letreiro: mensalão.
Reunidos em sessão administrativa, os ministros do Supremo marcaram para o dia 1o de agosto o início do julgamento do escândalo. Numa fase em que a política, cada vez mais teatral, instila tédio na plateia, a performance das togas tende a monopolizar as atenções.
Em 21 de agosto, vai ao ar a propaganda eleitoral televisiva. Estima-se que o julgamento dos mensaleiros vai durar mais de um mês. A fase das sentenças só chegará em setembro, na boca das urnas de outubro. Quer dizer: enquanto os candidatos estiverem vendendo ao eleitor um Brasil da pedra polida, o Supremo estará esfregando na face de todos um país da pedra lascada.
As intervenções dos advogados dos 38 membros da “quadrilha” e a exposição dos votos dos onze julgadores recordarão episódios que o PT e seus agregados gostariam de esquecer. Vai ao centro do palco uma coletânea dos piores momentos do primeiro reinado de Lula. Um período em que a desfaçatez tomou de assalto a cena. Roubou (ops!) o espetáculo.
Dependendo do teor das sentenças do Supremo, o eleitor pode ser empurrado para dois caminhos: a abstenção ou o voto consciente. Os fatos vão cobrar um posicionamento. Nem que seja uma cara de nojo. Mesmo que queira, o eleitor não conseguirá se refugiar na indiferença. As imagens do STF serão transmitidas em tempo real na internet. Da TV Justiça, irão aos telejornais. Dali às mídias impressas. Notícia atrás de notícia, num frenesi só comparável ao do tempo do impeachment.
Não é à toa que Lula andou procurando ministros do STF para fazer lobby pelo adiamento. Dono de intuição aguçada, ele sabe os prejuízos que a coincidência de calendário pode impor ao seu partido e aos seus candidatos. Daí também o esforço do petismo para converter a CPI do Cachoeira num terceiro palco, um patíbulo para os antagonistas. Joga-se na indiferenciação.
Por mal dos pecados, a oposição ajuda Lula e o PT. O ex-demo Demóstenes Torres, moído pelos grampos da PF, tornou-se ex-Demóstenes. O tucano Marconi Perillo perde-se nos desvãos de uma casa de horrores. E José Serra, principal candidato do PSDB no pleito de 2012, acaba de enfiar dentro de sua aliança o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto. Na era do show biz, faltam mocinhos ao enredo.
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