terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ainda somos todos Pinheirinho, Vila Oliveira e Aldeia Maracanã




Foto: Clemilson Campos/JC Imagem

Por Noelia Brito, especial para o Blog de Jamildo

Há exatamente um ano, a polícia militar paulista invadia a comunidade conhecida como Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos, sob os auspícios do governo estadual e da justiça de São Paulo, para patrocinar um dos mais escandalosos casos de uso das forças públicas, em benefício de interesses privados, que já se teve notícia em nosso país.

Era a madrugada de mais um domingo, aparentemente como outro qualquer. Não fossem as vigílias que hoje se formam pelas Redes Sociais, o caso teria passado desapercebido, como tantos outros pelo Brasil a fora, em que a justiça se põe a serviço da injustiça.

Daquele domingo, a comunidade do Pinheirinho, composta de cerca de nove mil pessoas, começava a acordar, quando se viu invadida por um efetivo de aproximadamente dois mil policiais, apoiado por dois helicópteros e pelo menos um carro blindado da PM, além de várias viaturas, com a missão de expulsá-los das casas onde habitavam havia pelo menos nove anos, para devolver a área a seu antigo proprietário, ninguém menos que o mega-especulador e fraudador de operações na Bolsa de Valores, Naji Nahas.

O terreno ocupado pertencia oficialmente à massa falida da Selecta, empresa de Naji Nahas, indivíduo que foi preso em 1989 e 2010, por fraudes em operações com ações da Vale do Rio Doce, do Banco do Brasil e da Petrobras. Sobre a própria Selecta pesa suspeita de falência fraudulenta para fugir de um rombo de US$ 40 milhões. Há dívidas fiscais com o Município de São José dos Campos e com a União Federal, o que torna incompreensível a passividade com que ambos, um governado pelo PSDB, à época e a outra, pelo PT, trataram o problema dessas famílias despejadas em São José dos Campos que até hoje, passado um ano, ainda continuam amargando as duras penas do descaso governamental.

Apesar do alardeado programa Minha Casa, Minha Vida, nenhuma das famílias despejadas do Pinheirinho foi beneficiada com uma casa de qualquer programa de moradia popular.

O terreno continua lá. Virou morada de mosquitos da dengue e depósito de lixo, segundo denúncias da própria vizinhança. Por que nem o Município, nem o Estado, nem a União Federal, até hoje desapropriaram a área, para ali construírem moradias populares? Principalmente diante dos débitos tributários que a Massa Falida tem com esses entes estatais? Enquanto isso, uma infinidade de isenções tributárias são distribuídas para todo e qualquer empreendimento que diga respeito à Copa do Mundo.

Aliás, nem precisamos ir muito longe para testemunhar o nosso próprio Pinheirinho.

Em novembro passado, moradores da Vila Oliveira, no Pina, foram alvo de ação semelhante, quando uma guarnição com 100 soldados do Batalhão de Choque, em cumprimento a uma ordem judicial de reintegração de posse, promovida por um casal de particulares, expulsou os moradores da Vila de suas casas, onde alguns residiam há mais de 40 anos.

Transformados do dia para a noite em sem-tetos, passaram a morar em abrigos e depois, algumas das vítimas ainda chegaram a ser transferidas, provisoriamente, para conjuntos residenciais do governo do Estado, que já apresentavam sérios problemas estruturais e de segurança. Assim foram tratados, mesmo sendo portadores de títulos de posse dos imóveis dos quais foram despejados e que lhes haviam sido conferidos pelo próprio governo do Estado. Imóveis, aliás, prontamente demolidos por tratores que ali já se encontravam a postos para a missão, de modo a garantir ares de irreversibilidade à ação. Tudo muito obscuro, portanto.

Percebemos que passado um ano do emblemático episódio do Pinheirinho, em São José dos Campos, nada mudou. Muito pelo contrario, só aumentaram os ataques contra a classe trabalhadora por aqueles que contam com o apoio nem sempre velado da institucionalidade.

Não fosse a força que hoje possuem as Redes Sociais, certamente, sequer tomaríamos conhecimento de que há um grupo de índios e de bravos ativistas, em pleno Maracanã, no Rio de Janeiro, lutando com todas as suas forças para que não se deite abaixo o Museu do Índio, um prédio histórico de 1866, hoje mais conhecido como Aldeia Maracanã, de modo a impedir que ali se construa mais um estacionamento para a Copa.

Não fossem as Redes Sociais também não saberíamos sobre as atrocidades cometidas no Pinheirinho. E nem pelas bandas de lá, ficariam sabendo do que se passou e se passa pelas bandas de cá, com as famílias da Vila Oliveira.

O que nos resta, portanto, é resistir e resistir e repercutir, sempre.

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