Do Carlos Brickmann
"O Brasil é um país curioso. Já condenou um intermediário de
distribuição de propina, PC Farias, sem identificar nem os pagadores nem os
recebedores. Já condenou um grupo de políticos e empresários no caso do
Mensalão, em última instância, mas a última instância aqui não é a última,
porque cabe recurso. Por que não criticar duramente os corruptores (sem,
naturalmente, puni-los) e deixar de lado a investigação a respeito dos
corrompidos? Esse tipo de investigação é tão brasileiro quanto a feijoada, a
goiabada com queijo e a pizza à portuguesa.
E, cá entre nós, quem vai atirar a primeira pedra? Alguns
mamutes empresariais são os grandes financiadores de campanha dos maiores
partidos; e os partidos que não recebem se calam, à espera de sua hora de
glória. Há algum tempo, uma operação da Polícia Federal acertou o centro do
alvo: descobriu-se quem pagava e quem recebia. Mas, por falta de informações,
todos saíram ilesos. Construções de areia são frágeis na praia. Na vida real,
são uma fortaleza, um sólido castelo.
Petistas e tucanos vão se xingar, uns acusando os outros.
Mas sabem que investigação em excesso, como remédio em excesso, faz mal para
todos eles.
O caro leitor também não deve se impressionar muito com a
corrupção investigada no Exterior. A Suíça provou que dirigentes da FIFA
receberam propinas milionárias, mas não aconteceu nada porque isso não era
ilegal. O máximo que aconteceu foi a antecipação da aposentadoria para
dirigentes com mais de 80 anos de idade (antes, quem decidia a data da
aposentadoria era uma Vontade mais alta). Os demais continuam por lá, mandando
muito.
Bernie Ecclestone, da Fórmula 1, enfrenta acusações pesadas.
E continua lá, mandando muito, aos 82 anos. Talvez ele também se aposente. De
qualquer forma, a punição é mais severa que a brasileira. Aqui o pessoal metido
em bandalheiras nem aposentado é."
Nenhum comentário:
Postar um comentário