terça-feira, 23 de junho de 2015

Pitacos: A intolerância do PT e do PSDB já ultrapassou fronteiras

PSDB e PT deveriam ser mais responsáveis no debate público

Do Blog do Kennedy
O ex-primeiro ministro da Espanha Felipe González disse ontem em palestra no Instituto Lula que via com preocupação “sinais de intolerância” no Brasil. Ele está coberto de razão.
O alerta de González deveria sensibilizar petistas e tucanos, que aumentaram o tom do debate político. São ambas forças mais moderadas, de centro-esquerda em suas origens, e que foram responsáveis por vencer as eleições presidenciais no Brasil nos últimos 20 anos. Os dois partidos devem ter mais responsabilidade no debate público.
Felipe González é um dos principais líderes da social-democracia europeia. Esteve no poder durante quase 14 anos, entre 1982 e 1996. Tem boas relações tanto com o ex-presidente Lula como com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conhece o PT e o PSDB.
O alerta de uma figura ponderada como González deveria ser ouvido por petistas e tucanos. Quem estimula a intolerância hoje pode ser vítima dela amanhã. O ex-premiê espanhol disse: “Fico preocupado porque o Brasil é um país de tolerância, de convivência”.
O PT precisa parar de ver inimigos na imprensa e na oposição. Os problemas econômicos do país foram criados no governo Dilma, pelo erro de dosagem nas chamadas políticas anticíclicas e pela tentativa de aplicar uma nova matriz macroeconômica que se revelou um desenvolvimentismo infantil que não desenvolveu.
E o ex-presidente Lula foi o maior cabo eleitoral de Dilma nas duas últimas eleições. Por isso, também tem sua parcela de responsabilidade e, ao criticar o governo Dilma, tem de levar isso em conta.
Já a oposição precisa se comportar como quem tem expectativa real de voltar ao poder. A última pesquisa do Datafolha mostrou que a crise do governo Dilma e do PT é grave. Há forte chance de fadiga de material em 2018. A oposição muitas vezes se confunde com grupelhos radicais e joga no quanto pior melhor.
Essa guerra entre PT e PSDB favorece radicais que não prezam a democracia e estimulam intolerância no país. Temos visto episódios preocupantes, como o apedrajamento de um menina que frequentava o candomblé no Rio de Janeiro.
A oposição deveria levar em conta que o país não acabará e precisará ser governado a partir de 2018. Por isso, moderação é algo que faria bem à oposição nesse momento.
Moderação também faria bem ao PT, que precisa discutir os seus erros, como cobrou ontem Lula num tom de autocrítica. Lula disse: “Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”.
Governar o Brasil é uma tarefa complicada. “O Brasil não é para principiantes”, já ensinava uma frase atribuída ao Tom Jobim. PT e PSDB precisam ver se querem salvar a própria pele ou melhorar o Brasil.
É alta a chance de o PSDB tentar levar adiante a ideia de iniciar um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff com base no julgamento do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre as “pedaladas fiscais” do primeiro mandato. Será um erro político.
O TCU é um órgão auxiliar do Legislativo. Não tem poder de Justiça. Faz recomendação ao Congresso. Deverá julgar irregular as pedaladas, que aconteceram também em outros governos. Seguir esse caminho é apostar numa oposição radical que prejudicará o país e, mais à frente, a força política que estiver no comando dele.
Dilma está apenas no sexto mês do segundo mandato. Uma campanha tucana pelo impeachment com base nas pedaladas vai abrir um precedente perigoso. No futuro, se estiver no governo, a oposição vai experimentar o próprio veneno.
Vai estimular ainda mais o confronto no debate público. Não parece justificável propor impeachment por causa de pedaladas fiscais que pagaram benefícios sociais. Soa como uma tentativa de descobrir um deslize menor para obter uma punição muito maior. É desproporcional.
O TCU avalia que as pedaladas continuaram em 2015, com o Joaquim Levy na Fazenda. Levy é um ministro da Fazenda que tem afinidade de pensamento com pessoas do PSDB. Será que o Levy está cometendo um crime? Claro que não.
Não faz sentido uma campanha por impeachment no Brasil de hoje. A situação econômica do país é extremamente delicada. Nesse contexto, não é correto votar pela flexibilização do fator previdenciário. Vai punir as gerações futuras. Também não é correto apoiar uma redução de maioridade penal de maneira irrefletida, numa onda de opinião pública. Vai penalizar os jovens mais pobres.
A imprensa mostrou reportagens importantes nos últimos dias. Mesmo com uma lei que protege a juventude, que é o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), há convivência de jovens que cometem crimes leves com quem já matou. Ou seja, mesmo com uma legislação protetora, jovens mais pobres estão submetidos a condições inadequadas.

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