“Responderemos
ao ultimato apoiando-nos na vontade do povo grego”
A Grécia vai referendar a proposta
dos credores no domingo, 5 de julho. Tsipras diz que a última semana provou que
o objetivo de alguns parceiros e instituições não era o de chegar a um acordo
aceitável para todos, mas o da “humilhação de um povo inteiro”. Leia aqui o
discurso de Alexis Tsipras.
Foto de FrangiscoDer.
Do Esquerda.Net
O governo grego rejeitou esta sexta-feira a proposta dos credores para
um acordo válido até novembro, com mais austeridade sobre trabalhadores e
pensionistas e sem resolver o problema de financiamento da Grécia a partir daí,
abrindo caminho a um terceiro memorando.
“Após cinco meses de negociações, os nossos parceiros acabaram por fazer
um ultimato, o que contraria os princípios fundadores da Europa e compromete a
recuperação da sociedade e da economia grega”, afirmou Tsipras na comunicação
ao país após a reunião do governo.
A proposta de promover um referendo a 5 de julho teve unanimidade e o
primeiro-ministro promete que respeitará o resultado, qualquer que seja, e que
a “Grécia é e continuará a ser uma parte indissolúvel da Europa”. Tsipras
informou Merkel, Hollande e Draghi da decisão e irá pedir formalmente no sábado
aos líderes europeus um alargamento do prazo do atual programa por alguns dias,
“para que o povo grego possa decidir, livre de pressões e chantagens, como
obriga a nossa Constituição e a tradição democrática da Europa”.
“Temos hoje sobre os nossos ombros a responsabilidade histórica para com
as lutas e os sacrifícios do povo grego para a consolidação da democracia e da
soberania nacional. Essa responsabilidade obriga-nos a responder ao ultimato
apoiando-nos na vontade soberana do povo grego”, afirmou Tsipras, apelando aos
eleitores “a que tomem esta decisão de forma soberana e com o orgulho que nos
ensinou a história da Grécia”.
“Uma Europa sem democracia é uma Europa sem identidade nem bússola”,
prosseguiu Tsipras, defendendo a perspetiva europeia de uma “casa comum dos
povos”, onde não há “donos e convidados”.
O Esquerda.net reproduz, na íntegra, a intervenção de Alexis Tsipras
(tradução de Rita Silva):
"Cidadãos gregos,
Nos últimos seis meses, o governo grego tem travado uma batalha em condições de asfixia economica sem precedentes, a fim de implementar o seu mandato, o de 25 de janeiro.
O mandato para negociar com os nossos parceiros e levar a austeridade a um fim, no sentido de que a recuperação da prosperidade e da justiça social, volte ao nosso país.
Por um acordo sustentável que respeite a democracia, bem como as regras europeias, e que leve a uma saída definitiva da crise.
Durante as negociações, fomos repetidamente solicitados a implementar as políticas dos memorandos acordados pelos governos anteriores, apesar do fato de que os memorandos foram inequivocamente condenados pelo povo grego nas recentes eleições.
Nós nunca considerámos ceder, nem sequer por um momento, de trair a vossa confiança.
Após cinco meses de duras negociações, os nossos parceiros apresentaram uma proposta-ultimato na reunião do Eurogrupo, tendo como objectivo atingir a democracia grega e o povo grego.
Um ultimato que contraria princípios e valores fundadores da Europa. Os valores do nosso projecto comum europeu.
O governo grego foi convidado a aceitar uma proposta que irá adicionar um novo peso, insuportável, nos ombros do povo grego, que vai minar a recuperação da economia grega e da sociedade, não só pela incerteza que gera, mas também pelo aumento exacerbado das desigualdades sociais.
A proposta das instituições inclui medidas para desregulamentar ainda mais o mercado de trabalho, cortes de pensões e reduções adicionais nos salários do setor público, bem como um aumento do IVA sobre alimentos, restaurantes e turismo, assim como a eliminação dos benefícios fiscais das ilhas gregas.
Estas propostas que violam diretamente o acervo social europeu e os direitos fundamentais ao trabalho, igualdade e dignidade, provam que determinados parceiros e membros das instituições não estão interessados ??em chegar a um acordo viável e benéfico para todas as partes, mas sim na humilhação do povo grego.
Estas propostas ilustram sobretudo a insistência do FMI em duras e punitivas medidas de austeridade. Agora é o momento para as principais potências europeias se levantarem e tomarem a iniciativa de terminar definitivamente a crise da dívida grega, uma crise que afecta outros países europeus, que ameaça o futuro da integração europeia.
Cidadãos gregos,
Estamos diante a responsabilidade histórica de não deixar que as lutas e os sacrifícios do povo grego sejam em vão, assim como de fortalecer a democracia e a nossa soberania nacional. Essa responsabilidade pesa sobre nós.
A nossa responsabilidade pelo futuro do nosso país.
Esta responsabilidade obriga-nos a responder ao ultimato baseado na vontade soberana do povo grego.
No início da noite, o Gabinete foi convocado e propus a realização de um referendo, para que o povo grego possa decidir.
A minha proposta foi aceite por unanimidade.
Amanhã, o Parlamento vai realizar uma reunião extraordinária para ratificar a proposta do Conselho de Ministros para um referendo que terá lugar no próximo domingo, 5 de julho. A questão no boletim de voto será se a proposta das instituições (troika) deve ser aceite ou rejeitada.
Já informei o presidente francês, a chanceler alemã e o presidente do BCE da minha decisão, e amanhã vou pedir, por escrito, uma curta extensão do programa aos líderes da UE e as instituições, de modo a que as pessoas possam decidir livres de pressões e chantagens, como estipulado pela Constituição do nosso país e tradição democrática da Europa.
Cidadãos gregos,
Peço-vos para decidir - com a dignidade e soberania que a história grega exige - se devemos aceitar o ultimato chantagista que exige austeridade sem fim, rigorosa e humilhante, e sem a perspectiva de ficar de pé, social e financeiramente.
Devemos responder ao autoritarismo e à dura austeridade, com a democracia, de forma calma e decisiva.
A Grécia, o berço da democracia, deve enviar uma mensagem democrática retumbante à comunidade europeia e global.
E eu, pessoalmente, comprometo-me a respeitar o resultado de escolha democrática, seja ela qual for.
Estou absolutamente confiante de que a escolha vai honrar a história do nosso país e irá enviar uma mensagem de dignidade a todo o mundo.
Nestes momentos críticos, todos nós temos que lembrar que a Europa é a casa comum de todos os seus povos.
Que na Europa não há proprietários e convidados.
A Grécia é, e continuará a ser, parte integrante da Europa, e a Europa, parte integrante da Grécia.
Mas uma Europa sem democracia será uma Europa sem identidade e sem bússola.
Peço a todos vocês para agir com unidade e compostura nacional, e para tomar uma decisão digna.
Para nós, para nossas futuras gerações, para a história grega.
Para a soberania e a dignidade do nosso país.
Nos últimos seis meses, o governo grego tem travado uma batalha em condições de asfixia economica sem precedentes, a fim de implementar o seu mandato, o de 25 de janeiro.
O mandato para negociar com os nossos parceiros e levar a austeridade a um fim, no sentido de que a recuperação da prosperidade e da justiça social, volte ao nosso país.
Por um acordo sustentável que respeite a democracia, bem como as regras europeias, e que leve a uma saída definitiva da crise.
Durante as negociações, fomos repetidamente solicitados a implementar as políticas dos memorandos acordados pelos governos anteriores, apesar do fato de que os memorandos foram inequivocamente condenados pelo povo grego nas recentes eleições.
Nós nunca considerámos ceder, nem sequer por um momento, de trair a vossa confiança.
Após cinco meses de duras negociações, os nossos parceiros apresentaram uma proposta-ultimato na reunião do Eurogrupo, tendo como objectivo atingir a democracia grega e o povo grego.
Um ultimato que contraria princípios e valores fundadores da Europa. Os valores do nosso projecto comum europeu.
O governo grego foi convidado a aceitar uma proposta que irá adicionar um novo peso, insuportável, nos ombros do povo grego, que vai minar a recuperação da economia grega e da sociedade, não só pela incerteza que gera, mas também pelo aumento exacerbado das desigualdades sociais.
A proposta das instituições inclui medidas para desregulamentar ainda mais o mercado de trabalho, cortes de pensões e reduções adicionais nos salários do setor público, bem como um aumento do IVA sobre alimentos, restaurantes e turismo, assim como a eliminação dos benefícios fiscais das ilhas gregas.
Estas propostas que violam diretamente o acervo social europeu e os direitos fundamentais ao trabalho, igualdade e dignidade, provam que determinados parceiros e membros das instituições não estão interessados ??em chegar a um acordo viável e benéfico para todas as partes, mas sim na humilhação do povo grego.
Estas propostas ilustram sobretudo a insistência do FMI em duras e punitivas medidas de austeridade. Agora é o momento para as principais potências europeias se levantarem e tomarem a iniciativa de terminar definitivamente a crise da dívida grega, uma crise que afecta outros países europeus, que ameaça o futuro da integração europeia.
Cidadãos gregos,
Estamos diante a responsabilidade histórica de não deixar que as lutas e os sacrifícios do povo grego sejam em vão, assim como de fortalecer a democracia e a nossa soberania nacional. Essa responsabilidade pesa sobre nós.
A nossa responsabilidade pelo futuro do nosso país.
Esta responsabilidade obriga-nos a responder ao ultimato baseado na vontade soberana do povo grego.
No início da noite, o Gabinete foi convocado e propus a realização de um referendo, para que o povo grego possa decidir.
A minha proposta foi aceite por unanimidade.
Amanhã, o Parlamento vai realizar uma reunião extraordinária para ratificar a proposta do Conselho de Ministros para um referendo que terá lugar no próximo domingo, 5 de julho. A questão no boletim de voto será se a proposta das instituições (troika) deve ser aceite ou rejeitada.
Já informei o presidente francês, a chanceler alemã e o presidente do BCE da minha decisão, e amanhã vou pedir, por escrito, uma curta extensão do programa aos líderes da UE e as instituições, de modo a que as pessoas possam decidir livres de pressões e chantagens, como estipulado pela Constituição do nosso país e tradição democrática da Europa.
Cidadãos gregos,
Peço-vos para decidir - com a dignidade e soberania que a história grega exige - se devemos aceitar o ultimato chantagista que exige austeridade sem fim, rigorosa e humilhante, e sem a perspectiva de ficar de pé, social e financeiramente.
Devemos responder ao autoritarismo e à dura austeridade, com a democracia, de forma calma e decisiva.
A Grécia, o berço da democracia, deve enviar uma mensagem democrática retumbante à comunidade europeia e global.
E eu, pessoalmente, comprometo-me a respeitar o resultado de escolha democrática, seja ela qual for.
Estou absolutamente confiante de que a escolha vai honrar a história do nosso país e irá enviar uma mensagem de dignidade a todo o mundo.
Nestes momentos críticos, todos nós temos que lembrar que a Europa é a casa comum de todos os seus povos.
Que na Europa não há proprietários e convidados.
A Grécia é, e continuará a ser, parte integrante da Europa, e a Europa, parte integrante da Grécia.
Mas uma Europa sem democracia será uma Europa sem identidade e sem bússola.
Peço a todos vocês para agir com unidade e compostura nacional, e para tomar uma decisão digna.
Para nós, para nossas futuras gerações, para a história grega.
Para a soberania e a dignidade do nosso país.
Atenas, 27 de Junho de 2015, 01h00"
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